O BANCO DO AMOR

Todos os que freqüentavam aquele local faziam sempre a mesma pergunta: O que pensava aquele homem ali,sentado naquele banco da praça,divagando com seus pensamentos ,alheio ao cenário montado em sua frente e absorto aos acontecimentos ao seu redor?

Que tipo de pensamentos passava pela cabeça daquele homem que o fazia ficar tão distante da realidade?

Ninguém sabia explicar,mas,todo dia aquele homem logo cedo chegava àquela praça,sentava naquele mesmo banco e ali ficava por horas e horas a fio,olhando fixamente a um ponto cego,sem se ater ao que acontecia a sua volta.

A praça era muito freqüentada por pais, mães e babás que traziam suas crianças para brincarem em suas alamedas e jardins com suas bicicletas , patins e outros brinquedos.

De vez em quando ele abria a bolsa que trazia sempre consigo,pegava uma garrafinha de água já quente pela ação do sol ,tomava uns goles,guardava novamente a garrafa e voltava ao seu estado inerte e pensativo.

Era impossível deixar de reparar aquele senhor com seus olhos vidrados no horizonte pois ele destoava totalmente do local e aos poucos, a presença dele começou a aguçar a curiosidade daqueles que ali ficavam mas ninguém tinha coragem de perguntar nada ao desconhecido.

Até que um dia, um rapaz bem jovem ainda, beirando seus 15 ou 16 anos que acompanhava sua irmã menor pela praça,vendo aquele senhor ali,prostrado naquele banco e com o olhar perdido no horizonte, utilizando-se de toda a sua inocência,,sentou-se ao seu lado cumprimentando-o com um carinhoso bom dia.

O homem,por estar envolvido em seus pensamentos e não notando a chegada do garoto assustou-se,mas retribuiu o cumprimento,calando-se logo em seguida.

Depois de um breve silêncio , o rapaz, já inquieto com aquela situação e cheio de curiosidades pergunta-lhe:

- Enquanto minha irmã brinca ali no balanço, o senhor não gostaria de conversar comigo?

-Porque não,meu jovem. Podemos conversar sim.

- Porque o senhor passa o dia inteiro sentado nesse banco de praça sozinho,sem conversar com ninguém? Indaga o menino aproveitando a oportunidade dada pelo homem.

-Sabe meu filho, eu estou esperando minha mulher voltar. Diz o senhor com um certo brilho nos olhos.

- Mas onde ela está ? Está viajando?

- Não sei,meu rapaz.

- Só sei que ela vai voltar.

- Minha esposa, a seis meses atrás saiu de casa para ir à cidade comprar umas coisas para casa e não voltou mais.

- Eu já procurei em todos os lugares possíveis,na polícia,nos hospitais,coloquei anuncio nos jornais e até agora nada.

-Agora só me resta ficar aqui e esperar,conclui o idoso enquanto uma lágrima teimava em rolar pelas sua face enrugada e maltratada pelo tempo.

O jovem garoto, comovido com a revelação daquele homem,cala-se por um breve tempo,como que tentasse encontrar palavras para consolá-lo.

Após se refazer daquele clima tenso e comovente que se instalou naquele momento, o garoto lhe pergunta:

-Mas,senhor, como o senhor sabe que depois de tanto tempo ela virá encontra-lo.Como saberá que o senhor está aqui nesse banco esperando por ela?

- Me desculpe mas o senhor já pensou na possibilidade dela ter morrido?Ela pode ter sido atropelada e não terem encontrado nenhum documento que a identificassem, falou o menino com toda a inocência de sua pouca idade.

O homem mudou de fisionomia e com um ar de reprovação pelo que ele dissera retrucou em tom mais sério:

-Não ,menino. Ela não morreu!Ela me prometeu que isso não aconteceria.Pois se isso estivesse acontecido com certeza eu já saberia.Eu sinto e tenho certeza que esta viva em algum lugar e mais certeza ainda que ela virá me encontrar aqui na praça.

- Mas senhor... Eu não entendo.

O velho homem já mais calmo após a suspeita do menino sobre a morte de sua esposa, começa a contar-lhe sua história.

-Eu e minha esposa somos casados a quase cinqüenta anos,nós nos amamos muito e nunca,até a seis meses atrás,nos separamos um dia sequer.

- Nós nos conhecemos aqui nessa praça,exatamente nesse mesmo banco.

- Aqui,nesse banco,trocamos juras de amor,discutimos como todo casal faz,namoramos,traçamos nosso futuro.

-Nesse mesmo banco eu a pedi em casamento.

E o menino atento à história daquele homem ,quase nem piscava. E enquanto isso sua irmã brincava alegremente com as outras crianças.

Volta e meia,o homem abria sua bolsa e tomava um gole de água em sua garrafinha e continuava:

-Esse banco,meu rapaz, foi testemunha de todos os nossos momentos,tristes e alegres.

-Foi nesse banco que eu esperei ansioso e emocionado a notícia do nascimento do meu primeiro filho e foi nele também que chorei sua morte vinte e dois anos mais tarde vítima de uma bala perdida quando se dirigia para o trabalho.

- No nascimento de minha filha eu também estava aqui sentado aguardando sua chegada e nele também estava quando ela muito feliz ,me trouxe a notícia de que havia passado no vestibular para medicina.

-Anos mais tarde nós aqui,sentados contemplando as crianças brincarem,os pássaros cantarem vimos nossa filha orgulhosa nos mostrar seu diploma de Médica e também a vimos se despedir de nós quando ela partiu de mudança para o exterior com o marido.

- Por isso,meu menino essa praça e esse banco, em especial, é muito importante para nós.Ele é a referencia de nossas vidas.Por isso eu tenho certeza que ela virá me procurar aqui.

-Você sabia meu rapaz que era aqui que nós trazia-mos nossos filhos para brincar quando ainda eram pequenos e era nesse banco que a gente sentava para vê-los correr por esses jardins e andar de bicicletas? Era aqui...

- Ah! Essa praça...esse banco...Quantas lembranças...balbucia o senhor já com os olhos marejados.

E assim passaram-se algumas horas e aquele homem a cada nova história de sua vida e da importância daquele banco, mais o garoto se comovia chegando até em certos momentos verter algumas lágrimas de emoção.

Foram muitas histórias. Muitos momentos tristes , alegres,engraçados e dramáticos, vividos por aquele casal . Aquela praça realmente tinha tudo a ver com eles.

-Agora eu entendo porque o senhor tem certeza de que ela virá procurá-lo aqui na praça.A vida de vocês está toda aqui.

-Vou rezar muito para que o senhor consiga ter sua esposa de volta.

-Obrigado,meu filho, você é um bom menino e acredite,você hoje me fez o homem mais feliz do mundo porque durante esses seis meses que venho aqui para esperar minha esposa,você foi o único que realmente se importou comigo e teve paciência para ouvir meu desabafo,compartilhar minha solidão , fala o homem afagando a cabeça do garoto carinhosamente.

Nesse momento porém, repentinamente ouve-se uma voz trêmula e ofegante dizendo:

-Meu velho! Eu sabia que o encontraria aqui. Quanta saudade!!

Subitamente e quase sem acreditar na voz que ouvira,olha para o lado e vê sua amada esposa ao seu lado numa cadeira de rodas sendo empurrada por uma senhora.

Foi uma comoção geral.O homem levantou-se esquecendo-se até de suas limitações devido a idade e atira-se aos braços de sua esposa,beijando-a fervorosamente.

-Mas o que aconteceu,meu amor, fala o senhor aos prantos.

A senhora que empurrava a cadeira intervém e começa a explicar:

- Naquele dia,quando saiu para fazer compras ,ao chegar na cidade sofreu um acidente ,bateu a cabeça e perdeu a memória. Não se lembrava de nada.

- Ela foi encaminhada para um hospital na cidade e quando recebeu alta ,eu a levei para minha casa e a tratei até que conseguisse me lembrar de alguma coisa que a trouxesse de volta.

- A única coisa que se lembrava e falava constantemente era de quanto amava o senhor e de um certo banco de praça,que não sabia onde era,mais nada.

- Foram meses andando com ela pelas praças atrás de um banco onde certamente encontraria seu marido,até que finalmente hoje ,depois de quase desistir o encontramos.

O garoto que assistia a tudo não podia mais esconder as lágrimas que escorriam sobre seu rosto.

Foram passando os dias e aos poucos a velha senhora foi recobrando sua memória e todo dia o garoto os encontrava ali naquele banco e ficavam conversando por várias horas seguidas até que alguns meses depois para sua surpresa e tristeza, o casal simplesmente desapareceram do local e nunca mais foram vistos por ali.

Anos depois, naquele banco, um jovem senta e tira de seu bolso um pequeno pacote delicadamente embrulhado em papel brilhante. Nisso,senta-se ao seu lado um garotinho de seis ou sete anos e pergunta-lhe:

- Moço,o que o senhor faz aqui sentado sozinho?

O jovem olha para o garotinho e cheio de ternura responde:

-Estou aqui esperando minha namorada.Hoje é um dia especial.Vou pedir-lhe em casamento.

-Mas porque aqui moço,indaga o menino.

-Porque aqui,neste banco a alguns anos atrás eu conheci uma menina ,me apaixonei por ela hoje eu quero casar.

-E como foi,insiste o garoto, curioso.

-Vou lhe contar:

-Alguns anos atrás aqui mesmo neste banco eu conheci um senhor que por conta do amor nunca desistiu de reencontrar sua amada.Nós ficamos muito amigos mas infelizmente ele desapareceu sem dar notícias e eu nunca mais o vi porém numa das vezes que vim procurá-lo sentei nesse banco para esperar e foi ai que encontrei a menina que me apaixonei.

Esse banco se tornou especial para mim.

-A única lembrança que ele me deixou foi esse pacotinho ,mas ele deixou claro que eu só poderia abri-lo no dia em que eu pedisse alguém em casamento.E hoje é o dia.

- E o senhor vai abrir agora,perguntou o menino mais curioso ainda.

-Sim.Eu ia fazer exatamente isso quando você chegou.

O jovem então abre o mimoso pacotinho e dentro dele saiu uma caixinha de veludo vermelho contendo um lindo anel de brilhante e uma carta.

Surpreso o jovem contempla o valioso anel ,abre a carta e começa a ler.

A carta dizia:

“ Meu menino, você foi a pessoa mais especial que eu conheci depois dos meus filhos e minha esposa. Possivelmente quando você ler esta ,nós já não estaremos aqui nesse mundo, mas quero que aceite esse presente.

-Naquele dia, eu estava totalmente desiludido e já sem esperança de encontrar minha esposa querida.Estava prestes a fazer uma loucura pois não suportaria viver mais um dia sem sua presença e você como que entendendo o que se passava me ajudou,me deu forças e eu a encontrei.

-Esse anel é muito especial para nós porque pertenceu ao meu avô que deu para minha avó no dia do seu casamento.Depois passou para meu pai dar de presente para minha mãe quando casaram-se e chegou ate a mim e, minha esposa o usou desde nosso casamento até o dia em que eu o dei.

- Na verdade ele pertenceria ao meu filho mas,quis o destino que ele fosse embora muito cedo. Porém tenho certeza que ele se fez presente naquele dia em você sentou-se nesse banco naquele dia.Portanto esse anel pertence a você...meu filho.

-Que você seja muito feliz,tal qual eu fui ao lado de minha amada esposa.

O jovem simplesmente desaba de emoção e chorando muito, abraça o menino que apesar de não entender nada,retribui...

Carlos Alberto Omena
Enviado por Carlos Alberto Omena em 09/04/2010
Código do texto: T2186623
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