O Sol de Setembro
E no final da jornada, quando não se tem mais nenhum caminho a seguir, nada fica além do tédio, nada fica além da solidão singular que tua ausência causa sem a menor culpa.
Nada fica além da vida que resta.
Nada fica.
E o crime passional adquire o caráter próprio e comum das serenatas melosas de amor não correspondido.
Quando da angustia de uma criança inocente nasce uma lágrima, o desamor de uma tarde gélida e nublada será seu único referêncial de felicidade.
Nada além.
Quanto mais o tempo fica lento e o arranjo de flores na sala murcha, tem-se a ilusão notória de que tua ausência não passa de uma brincadeira sem graça, e logo-logo você vai voltar.
É ilusão.
Quando aquele beijo escondidinho é dado atrás da porta, a euforia ganha forma de adeus numa jura de eterno amor, e você se enche de esperança até perceber que era tudo mentira.
Sempre fora.
Em setembro, o amanhecer da primavera tenta colorir meu jardim sem margaridas. Agora no quarto e de joelhos, tento rezar.
Pelo menos tento.
Mas não recebo nenhuma resposta de meu deus mudo na estátua.
Mesmo assim, ainda resta alguma fé.
Uma boa noite de sono sem dormir, e o sol me acorda.
É hora de viver, mesmo sem você.