O Sol de Setembro

E no final da jornada, quando não se tem mais nenhum caminho a seguir, nada fica além do tédio, nada fica além da solidão singular que tua ausência causa sem a menor culpa.

Nada fica além da vida que resta.

Nada fica.

E o crime passional adquire o caráter próprio e comum das serenatas melosas de amor não correspondido.

Quando da angustia de uma criança inocente nasce uma lágrima, o desamor de uma tarde gélida e nublada será seu único referêncial de felicidade.

Nada além.

Quanto mais o tempo fica lento e o arranjo de flores na sala murcha, tem-se a ilusão notória de que tua ausência não passa de uma brincadeira sem graça, e logo-logo você vai voltar.

É ilusão.

Quando aquele beijo escondidinho é dado atrás da porta, a euforia ganha forma de adeus numa jura de eterno amor, e você se enche de esperança até perceber que era tudo mentira.

Sempre fora.

Em setembro, o amanhecer da primavera tenta colorir meu jardim sem margaridas. Agora no quarto e de joelhos, tento rezar.

Pelo menos tento.

Mas não recebo nenhuma resposta de meu deus mudo na estátua.

Mesmo assim, ainda resta alguma fé.

Uma boa noite de sono sem dormir, e o sol me acorda.

É hora de viver, mesmo sem você.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 23/04/2010
Reeditado em 26/11/2011
Código do texto: T2215421
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