Transporte Saltitante

O pai de flora, era um gaúcho tradicionalista.sempre se vestia a carater.Tinha orgulho de ser gaúcho e nunca quis sair da sua cidade,gostava da fazenda,das cantigas sertanejas ao lado de uma acalentadora fogueira bebendo o seu bom e velho vinho e degustar o seu chimarrão.

Teve ao todo, tres filhas com a mesma mulher:Flora amora,Márcia uva e Eduarda nascidas na década de 60 e na década de 70 se separou, reatando com a esposa em 1987, quando nasceu a sua filha caçula, leandra lima.Que saiu de porto Alegre e foi morrar no Rio de janeiro.

leandra,era uma jovem sonhadora que sempre foi muito ligada a irmã flora,gostava de outras coisas,mas o temperamento doce e meigo, adorava o colo acolhedor da sua irmã que por sua vez se deretia como manteiga.

Numa terça feira chuvosa, ela passou na casa da sua irmã flora,e não a encontrou,iniciou batendo a porta bem devagar, até esmurrar a mesma porta por conta de um pavor de preocupação de algo que poderia ter acontecido, devido a fragilidade de sua irmã.Desesperada ligou para a sua outra irmã, e então ela a acalmou:

_ não leandra ela está aqui em casa, quer falar com ela?

_por favor quero sim.

_ Minha irmã, está tudo bem fiquei preocupada.

_ Mas está tudo bem. por que você não vem pra cá?

_ ok. estou indo agora à Caxias.

_ vem voando pra cá.

leandra soltou na central do brasil, deu uma fitada no relógio da central e se encaminhou ao ponto de Ônibus. Entrou na fila, mas ouviu os outros falando que por virtude da chuva, houve um acidente na linha vermelha, via expressa para a baixada fluminense e a avenida Brasil estava super engarrafada.A única opção era o trem.Num sentido de curiosidade e descoberta ela comprou o bilhete e se dirigiu ao ramal de Gramacho.Entrou num dos vagões louca que o trem enfim caminhasse.Viu vendedores ambulantes que entravam e saiam dos vagões vendendo balas,doces,remédios,camisinhas e até peruca para o carnaval, observou pessoas pedindo esmolas e alguns outros moleques que apanhavam da polícia, trabalhadores exauridos cochilando em pé e a paisagem da janela q nunca iria esquecer.

O trem começou a andar, sacudindo numa métrica percusiva e gostosa como um brinquedo de parque de diversões.

Antes de chegar na próxima estação, um ambulante galanteador, ofereceu a ela uma embalagem de pipocas e disse: _ mandaram pra você. Ela ficou toda sem jeito e sem graça, com a face toda avermelhada, por ser cortejada, abaixou a cabeça e depois notou um rapaz que a olhava e desviou o olhar tentando desfarçar. Apavorada deixou cair no chão algumas moedas,coçou a cabeça de tanto nervosismo, começando a catar com um ar de desastre e timidez e pôs no bolso.Abriu o livro, leu algumas páginas e o tal menino que trocaste olhares se aproximou e sentou a seu lado. Seu coração desparava e suas mãos suavam, dois minutos se passaram e ela e o menino nada falara e então ela peruntou timidamente:

_ Oi?

_Olá. - respondeu mais timidamente o menino.

_ falta muito pra chegar em Duque de Caxias? _ perguntou Leandra

_ bastante, ainda estamos em São Cristóvão.

_ você ja foi ao maracanã?

_ eu não gosto muito de futebol.

_ pois vai pasar nele agora, olha la para a janela

_ nossa! é mais bonito que o beira rio.

_ você é gaúcha?

_ sou sim, vir pra cá estudar teatro.

_ que legal, eu estudo música.

_ joia, eu adoro, cheguei a tocar piano, mas parei.

_ você gosta de samba?

_ so alguns, meu pai tinha um lp do chico buarque.

_ olha la de novo estamos passando em frente da escola de samba da mangeuira.

_ nossa que linda, essa vila olimpica toda em verde e rosa,até o colégio tem essas cores. como tu te chama guri?

_ Julio César. e você?

_ Leadra. mas você gosta do chico buarque?

_ ele é um dos meus ídolos

_ então assim, se tu fosse explicar a sua vida numa letra dele, qual letra seria?

_ João e Maria, é, pode ser.

_ mas por que tu perdeu alguém?

_ e tu qual letra?

_ talvez tatuagem

_ você dançou como bailarina no corpo de alguém?

_ assim não vale eu perguntei primeiro

_ ta bem! digamos que sim. e tu foi a cicatriz risonha e corrosiva em alguém?

_ digamos q sim. - completou Leandra.

Parecia que se conheciam de longa data, perguntas foram feitas, respostas ditas e assim a intensidades do diálogo aumentava com o volume da chuva. Estação após estação, pessoas desciam e entrava nos vagões,e a essa altura o livro de Leandra ja estava na bolsa e a embalagem de pipocas ja chegava ao fim.

_ olha la a igreja da penha

_ que linda! bem no alto da pedra. maravilhosa!

_ você não se acha mistiosa demais?

_ e você não se acha enigmático demais?

_ por que você sempre me responde com outra pergunta?

_ e por que tu me faz tantas perguntas?

_ talvez assim se acha exclamações.

_ que tipo de exclamações?

_ exclamações, nem que seja com os olhos.

_ você é fantástico! consegue ser levemente importuno e não chega a ser chato.

_ não digo o melhor, mas o menos pior é a minha companhia em meio a chuva e um trem saltitante que mais parece uma lata de sardinha.

_ nunca pensei que o trem fosse tão divertido e tão real.como essas pessoas conseguem carrregar esse peso todo.

_ levam pesos e as vezes seguram um peso maior ainda, eles não tem ninguém por eles. lutam com as próprias mãos.

_ os braços magros, porém fortes e as pernas que caminham tentando de trem em trem um caminho, um caminho melhor.

_ é apenas uma das faces do nosso país, tal face que não tem maquiagem, é puro suor.É ja estamos chegando em Caxias

_ E como a gente faz pra se ver de novo?

_ Vamos deixar ao acaso, deixar que o destino nos una de novo.

_ Periga a gente só se ver amanhã,ou depois de amanhã ou daqui a trinta anos ou nunca mais. Tem certeza?

_ Sua boba! claro que não.Estou brincando, pessoas como você são difíceis e a gente gosta logo de cara facilmente.

_ toma, esse é o meu telefone e o meu e- mail.

_ esse é o meu, segura e ñ deixa molhar.

_ Júlio, ainda estou um pouco perdida.Para onde fica o bairro Parque Lafaiete?

_ Calma, espera um pouco. Deixa a chuva passar, ainda é tã cedo.

_ mas eu tenho q ir logo.

_ quer meu guarda chuva emprestado?

_ por que você não vem comigo?

_ ok, vamos me abraça então Leandra.

_ como assim?

_ O guarda chuva é um pouco pequeno, se ficarmos bem próximos não molharemos nossas roupas. Entendeu?

_ Mas a chuva está muito forte, aquilo ali é um cinema?

_ É sim.

_ Vamos ver um filme qualquer. Você gosta de pipocas?

_ Mas você não estava com pressa, tendo que chegar logo?

_ Eu já esperei tantas coisas, e agora algumas coisas terão q me esperar.

_ Leandra, quantas vezes tu chamou alguém pra ir ao cinema, só pra comer pipoca, andar de trem no subúrbio como se fosse uma princesa e abrir a sua porta e querendo apertar a campanhia de quem lhe chamou?

_ Milhares de vezes, quando na fazenda eu me via sozinha, vendo a chuva cair sem ter ninguém com quem compartilhar guardas chuvas ou até mesmo pra tomar banhos de chuvas e guardava a chuva só pra mim nos meus olhos molhados.Os filmes me pareciam mais escuos,as pipocas sem tanto doce e o cinema ficava mais frio. Nenhum braço me abraçava,nenhuma mão pegava a minha e nenhuma mão batia a miha porta.

Entraram no cinema, fecharam o guarda chuva, mas automaticamente seguiram abraçados, como se encaichassem um no outro. Compraram ingresso e pipocas e quando entraram na sala de cinema um funcionário falou a Leandra com um pote de pipocas na mão: _ Mandaram te entregar. ao ouvir a frase Leandra foi aos risos.

e então o funcionário continuou: _ Na compra de dois ingressos para esse filme, o pote de pipoca é de graça.

Leandra encantada com a viagem, situações, pipocas ganhas e guarda chuva,penetra nos olhos de julio se vendo como se estivesse em frente a um espelho dar um beijo em Júlio e segue dentro ao cinema pouco preocupada se o filme era bom ou ruim.

Edilson Alencar
Enviado por Edilson Alencar em 07/05/2010
Código do texto: T2242916
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