Um certo carnaval de 1975 (Parte 1)
No anos de 1975, houve alguns acontecimentos importantes.Morre o jornalista Wladimir Herzog no quartel general do exército em São paulo, a censura proíbe diversos livros, filmes e músicas,o Suriname antiga guiana holandesa torna-se indepêndente , o mesmo acontece com Angola e moçambique.É fechada a embaixada dos Estados Unidos em Saigon, é o fim da guerra do Vietnã.
E do rádio do carro, José de Andaime, ouve algumas dessas notícias no seu carro, seu amigo Fernado muda de estação, até encontar uma frequência que tocava uma música.Eles vão a caminho da praia, à bordo do fusca azul, quando começam a conversar sobre o baile que aconteceria no próximo domingo,mas Andaime estava sem dinheiro, suas economias gastara com um disco do jimmy hendrix e o novo livro do João Cabral de Melo Neto.Mas ele queria ir ao baile, mais que tudo, mas sua mãe estava viajando e seu pai sempre fora muito ausênte, ele não sabia como fazer, e dividia com seu amigo Fernado tal frustação, e como eles mesmo diziam: _ Vai ter vários brotos lá!
Mas a frustação financeira atenuava –se com a praia e aquele mar azul e o violão que José sempre empunhava . Foi quando ao lado dos dois amigos chegaram duas meninas lindas, que ao passar do tempo se aproximaram e cantarolava alguns refrões com os rapazes, e depois de alguns miutos pediram uma música
_ Vocês sabem tocar alguma dos mutantes? – pediu a menina.
_ Claro que sim, qual vocês querem?
_ Ando meio desligado, eu adoro essa música.
Entre músicas e músicas e algumas breves conversas, e pequenos sorrisos, as meninas foram aos poucos se soltando, outras canções e alguns goles de bebida. A loirinha com sotaque do sul se chamava Márcia, e uma ruivinha extrovertida chamava-se Eduarda, estavam aqui de passagem, e por uma ironia do destino elas também iam ao baile.
_ Mas vocês não vão por quê?
_ Nós não temos... temos... – tentava envergonhadamente explicar
_ Fantasia, isso por não termos fantasia, fica difícil ir. – completou josé
_ Isso mesmo! Não temos fantasias . – confirmou Fernado, mentindo
_ Ah! Mas isso não é problema. Temos algumas guardada lá em casa.
_ É, emprestamos a vocês. – completou Eduarda entusiasmada.
_ Mas é que ... – José não sabia o que falar
Eles tinham vergonha de dizer que não tinham dinheiro, embora a fantasia já estava ganha, enrolados com a história tiveram que aceitar o empréstimo, continuando a mentir, foram ao mar, combinaram alguma coisa, refrescaram a cabeça, e quando voltaram estavam as duas rindo à toa, pouco embriagadas e de mão em mão passavam um baseado.Os meninos ficaram assustados porque nunca se depararam com aquela coisa.
_ E aí meninos vocês vão, querem um trago?
Para quem tanto queria ir a um baile de fantasia, os dois amigos já estavam no salão da festa, bailando perdidos e enfeitiçados depois de mentir e sem saber o que falar diante de tanta situação, por causa de duas lindas colombinas que trajavam um lindo biquini colorido.Os dois estavam desnorteados, e além disso o ego dos rapazes já estava bastante inflado, e a “caretice” poderiam leva-los ao desinteresse das meninas, e nenhum dos dois queriam ser julgados “crianças” ou “meninos demais”. Aquilo era uma coisa inédita, e assim por um pensamente estúpido, vieram os primeiros tragos de um baseado que já estava chegando ao fim.
Na saída da praia,as duas garotas propuseram uma troca. Dava –lhe a fantasia, e em troca queriam que os rapazes comprassem mais maconha. Fernando sabia onde comprar, tinha vários amigos na favela onde morava, muitos desses amigos foram amigos de escola e de infância, e então eles toparam.
_ Caramba José, o dinheiro que elas deram da pra comprar e ainda vai sobrar bastante dinheiro o nosso problema está resolvido.
_ Mas eu estou com medo, nunca fiz isso na minha vida.
_ Vem comigo, deixa que eu compro. – Falou Fernado.
_ Vamos nos encontrar daqui a duas horas, la nas pedras do Arpoador,por favor não demorem muito.- Disse Eduarda.
Chegaram na favela, indo logo à casa de Pelezinho,bateram na porta do velho barraco e ninguém atendeu.decidiram ir ao bar do Riva, do lado do campinho, segundo Fernando ele poderia estar lá.
E lá estava o Pelezinho, no bar com a sua rapazeada, acompanhado do seu cavaquinho, e um sorriso estampado no rosto em meios a acordes musicais até então estranhos pra José.
_ Nando que música é essa?
_ Samba.Você ainda não ouviu o lp da Nara leão?
_ Qual o nome dessa música?
_ “A voz do morro” do Zé ketti.
Por conta da contagiante roda de samba a hora foi passando e passando, a música parecia que não tinha fim, contagiando a quem estava ou por alí passava, contagiou José, estavam na segunda cerveja quando apareceu um outro amigo de fernando, o Linho que fazia pipas e vendia drogas. Depóis que compraram, pagaram a conta e voltaram à praia um pouco atrasados.Se encontraram nas pedras do arpoador e notaram que as moças estavam acompanhadas de dois caras, eles estranharam , mas ainda sim se aproximaram, pensaram que fossem os namorados delas, irmãos mais velhos ou vizinhos, mas logo de cara os dois foram recebidos com um beijo na boca, descartaram assim, a primeira possibilidade. Eles notaram que os rapazes tinham em mãos uma garrafa de cahaça e falavam bem devagar e não tirava os olhos do mar, então José pensou: com esses cabelos loiros e essas bermudas, só podem ser esses surfistas que sempre andam pelo Hawai.
Só que de repente um deles se levanta e se espriguiça e fala diretamente com o outro,ouvindo o jeito de falar Fernado e josé, entenderam e repousaram aliviados.
Invés de serem surfistas hawaianos, moradores da ilha dos vulcões e ondas gigantes, os rapazes eram apenas turistas mineiros que não dormira a noite anterior, pois estavam eufóricos com a possibilidade de ver o mar pela primeira vez.Embabacados com lágrimas nos olhos falaram com aquela fala mansa e gostosa de todo mineiro, se despediram deixando a garrafa de cachaça.
Passaram meia hora e depóis foram à casa das meninas buscar as fantasias, era uma casa aparentemente vazia, os pais das duas estavam num bairro no centro da cidade, foram também a um baile, mas era um baile de gafieira na lapa.
Nando pegou a de pierrot, mas a de pirata lhe caiu bem, deram a José uma de palhaço, mas ele preferiu a fantasia de alecrim.
As duas iam de tigresa, mas ao se despir e vestir pequenas carícias aconteceram com os dois casais, foram tirado do barzinho uma garrafa de uísque e na vitrola saía um som tropicalista na voz do Gil.Era frenético o jeito que dançavam e se amassavam, e que se mordiam, e se comiam, um mixto de abraços e passos de uma dança sensual, coreografias e roupas que caíam ao chão, de corpos que ficavam desnurdos.Braços que se abriam e pernas que prendiam, coxas entre outras coxas, pele de menino se misturando `a pele de menina.
Ao fim corpos exaustos, de quem abriu uma nova janela de vida, beijos, suspiros e mordidas , tão doce que não dói mas não machucas, porém a boca molhada e marcada a dentes que ainda sentes, sonhou acordado em cima da cama num sonho apimentado de adolescente.
_ Me sinto como Tieta. – disse a ruiva
_ Eu me sinto como Vadinho. –disse José
_ Já eu me sinto como Gabriela. – disse a loira
_ Como eu sou pobre e moro na favela, fico até bem na convenção Jorge Amado, me sinto como Pedro Bala. – ironizou Fernando.
Depóis de usar a fantasia sem roupas de Vadinho, personagem gaiato de Jorge Amado, José pôs a roupa de um antigo personagem romântico e carnavalesco.A fantasia de alecrim.E nem sabia que iria descobrir o amor de verdade a menos de um segundo
No banheiro ouviu uma voz falar:
_ Oi!
Ele tomou um susto tão grande que se estatizou ao vê aquela menina de vestido, cabelos castanhos e um batom vermelho sangue, que contrastava com aquela pele branca e sardenta, José perguntou:
_ Quem é você?
Assustada a menina correu em direção da sala saindo pela porta, josé foi atrás e encontrou Fernando no caminho
_ Você viu? Perguntou Fernando
_ Vi, cara. E ela é linda.
_ Pra onde ela foi?
_ Está no céu!
_ Como assim, no céu?
_ A noite estrelada , linda, vestindo a lua.
_ Cara você está bêbado, estou falando da menina.
_ Que menina? Não passou ninguém por aqui, as garotas estão se arrumando para o baile, la no quarto delas, cara relaxa você só está um pouco bêbado.
_ Mas eu vi uma menina, falou comigo e saiu correndo.
_ Cara, então você está vendo coisas, olha a lua pelo menos ela é mais real do que essa menina .josé isso é apenas consequência do alcool e da erva, mas ninguém fica maluco assim, você não está maluco, então façamos um trato, nunca mais fumamos essa coisa de novo, põedo sua roupa que eu vou ligar o carro, o baile já vai começar.
Nando saiu cantarolando, josé abotoou a camisa, voltou ao banheiro e pegou a sua carteira, quando saía do banheiro, percebeu no chão um pedaço de tecido perfumado e com uma mancha do mesmo batom vermelho.Dque aí percebeu que de veras não estava louco e aquela menina era real como um sabor de desejo, de alguma coisa tão gostosa de se procurar, de algo que ele desconhecia.