A Separação

Ela falava demoradamente sobre uma viagem que fizera. As vezes eu soltava um leve riso e acenava com a cabeça. porém não conseguia ouvir nada que saía daquela boca que, quando o amor ainda se fazia presente, me abençoara com seus beijos. Sabia o que estava por vir e que tudo aquilo era apenas um breve adiamente do irremediável fim.

Meu coração queria saltar pela boca, eu queria gritar, implorar, mas não o fiz. Apenas continuei fingir ouvi-la enquanto a admirava, na esperança de eternizá-la em minha memória.

Nossos olhares se encontraram por um instante. O sorriso, até então presente em sua face, desfez-se. Então ela disse o que seus olhos delatavam, não havia mais nada a se fazer. Naquele exato momento meu mundo fora desprovido de cores e se tornara mudo.

Acompanhei-a até o ponto de ônibus, quando inventei uma desculpa qualquer para explicar que não a acompanharia. Em seguida disse-lhe adeus com ternura.

Caminhava lentamente quando vi passar o ônibus em que estava minha amada. De repente, fui tomado pelas chamas da última esperança, que há muito parecia apagada. Comecei a correr, dizendo a mim mesmo que ela desceria na parada seguinte para, aos prantos, voltar para meus braços dizendo que não podíamos nos separar.

Ainda vi, à distãncia, várias pessoas desembarcarem do ônibus. Ela não era uma delas.

Quase sem fôlego sentei-me em um banco próximo enquanto via desaparecer no horizonte aquele imenso automóvel levando consigo minha amada, meus sonhos, minha vontade de viver. Fui subitamente tomado por uma incontrolável vontade de chorar. Levei as mãos ao rosto e, feito uma criança, chorei.

Rodolfo Kowalski
Enviado por Rodolfo Kowalski em 22/05/2010
Reeditado em 23/05/2010
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