Foge comigo?

Ela tinha lindos olhos azuis e quando ficava triste eles pareciam um céu em tempestade, e ela era invocada com o mundo, sempre de cara feia, ela ja havia levado umas da vida, no dia em que a mãe morreu e o pai se foi. Ela dava duro pra levar tudo nas costas, tinha uma familia que não era sua e por terem a acolhido eles a exploravam. Ela trabalhava noite e dia e tentava ler os livros da escola, ela fazia de tudo, mas nunca teve vida. Era uma pedra dura por fora, pois ninguem podia pisar nela, mas era tão fragil por dentro que podia chorar quando via o sol se por.

Ela caminhava um dia por aquelas ruas da cidade pequena, ela procurava algo pro jantar e talvez um disco bonito pra ouvir.

Ninguém sabe se assim foi mesmo a tal história, mas aquela moto raspou o chão empoeirado diante dos pés dela, só se sabe que houve trovões naqueles olhos tempestuosos, aquela voz gritou como o mar em fúria.

Aquele homem ficou chocado e ele nao sabia o que fazer, seus pedidos de desculpas foram abafados por aqueles berros e quando ela se virou e partiu como um furacão ele teve a certeza de que tinha que conhece-la, sua sede de perigo o atraia como um iman para aquela mulher.

Ele a seguiu naquela moto até sua casa pequena, ela o enfrentou várias vezes, ameaçou-o com mortes pra lá de criativas mas nao conseguiu espanta-lo e quando por fim resolveu perguntar o que ele queria, a resposta a chocou: "só estou admirando sua beleza".

Ela ficou sem palavras, apesar de bela, nunca havia sido elogiada, tão brava e tempestuosa, nao agradava a todos os olhares.

Aquele homem ficou na cabeça dela e ela na cabeça dele e logo ela ia sempre na mesma rua para encontra-lo, mesmo que não fala-se com ele e ainda fosse dura como uma pedra. Eles se encontravam, se olhavam e sempre seguiam adiante, sem nada a acrescentar até que um dia uma chuva de verão caiu e ela não conseguiu voltar pra casa ele a chamou para dentro de um bar, prometeu uma carona, mas ela pra variar recusou, um bar nao era adquado para uma moça, ele insistiu e ela tornou a recusar, ele a chamou de orgulhosa e os dois discutiram, ela lhe enfiou a mão na cara e saiu andando pela chuva. Ele foi atrás dela, chamava o nome dela debaixo dos trovoes e ela só o mandava para o raio-que-o-parta, ele a alcançou, tentou puxa-la pelo braço e ela se desvencilhou, então ele a puxou pela cintura, ela tentou fugir mas ele a beijou antes de qualquer coisa.

Ela não reagiu, ficou parada até que ele a soltou, depois disso ela somente se virou e foi embora e a cada dia ela pensou nele e o desejou, até que se viu apaixonada, pela primeira vez em sua vida dura.

Ela saiu para encontra-lo várias vezes, ela sonhou com ele e imaginou coisas que nunca antes haviam lhe passado pela cabeça e agora, quando o mundo pesava, ele sabia deixa-la leve.

Sua felicidade foi percebida, contestada e invejada. Sua familia de criação apertou o cinto, queriam reprimi-la mais e mais, a vida deles era pobre e dificil e ela não podia se dar bem no final.

Eles a maltrataram e ela sofreu, ela sumiu e ele sentiu saudades, ele sabia que algo estava errado. E no dia em que ela chorou no pé daquela arvore, ele apareceu naquela moto empoeirada, ele somente a olhou e disse: "foge comigo" e ela não pensou.

Aquelas pequenas coisas velhas que ela guardava com carinho ela jogou numa mochila surrada e somente com um adeus, sem abraço ou despedida, ela subiu naquela moto e ninguém nunca mais a viu; e aqueles olhos tempestuosos trovoaram novamente, mas dessa vez por felicidade e por amor. Principalmente por amor....

***************************************************

Inspirado em Living on a prayer- Bon Jovi, Sweet child o'mine - guns 'n roses e em outras coisas que vi e ouvi.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 20/07/2010
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T2390122