OLHANDO PARA O CHÃO OU...UMA SUÍTE PRESIDENCIAL ?

Andava sempre olhando para o chão.

Em linha reta, ora em ziguezague, mas sempre olhando para o chão.

Tal costume lhe dava uma imagem de possuir algum tipo de deformação física.

O interessante era que não batia, não esbarrava em nada. Parecia que tinha um radar biológico, que evitava trombadas e esbarros.

Um amigo comum um dia pediu para que ele mudasse este tipo de agir. Onde se viu um homem já maduro, bem apessoado, andar meio curvado e com o olhar fixo no chão. Não vou mudar, não. Andando desta maneira eu consigo ver os defeitos nas calçadas, os buracos, as depressões, as pedras soltas que quando em dia de chuva, a gente pisa e espirra água enlameada na barra da calça. Evito as cascas de bananas que podem me fazer escorregar. Não piso em coco de cachorro. Sempre andei assim e não vou mudar.

Mas veja só. Você dá uma impressão de um corcunda. De corcunda? Não. Dá a impressão que tem uma cacunda deformada. Se continuar assim vai ter que consultar um ortodontista. Ortodontista? Ta louco, isso para quem tem problema com dentes. Então é Ortopedista. Pode parar. Ortopedista é para quem tem problema nos pés e nas pernas. Não adianta você não tem jeito.

E os dias foram passando. E ele andando com o olhar fixo na calçada, nos passeios, ao atravessar as ruas e assim era a sua vida. Até que...

Parou. Não levantou a cabeça. Estava defronte de um par de pernas. Melhor. Um par de sapatos pretos, meias pretas. Uma saia justa. Até a altura da cintura. Era o máximo que ousava levantar seu olhar. Não se moveu. Tão pouco ouviu a interpelação: Não vai sair da frente? Não respondeu. Estava andando pelo lado direito da calçada, próximo ao muro. Quem estivesse incomodado que mudasse a trajetória.

Ficaram ali. Um de frente para o outro. E outro de frente para um. Impasse estabelecido.

A voz era macia, suave, mas não fora delicada.

Espere um pouco, por favor. Não saia daí. Já volto. Voltou. Um carro importado parou e dele saiu a mulher de sapatos pretos, meias pretas, saia preta e o convidou para entrar no carro. Você se importaria em tomar um comprimido? Comprimido? Para quê? É para deixá-lo mais a vontade e mais calmo. Estendeu uma garrafa plástica com água mineral. Olhou para o comprimido. Cor azul. Interessante. Ingeriu o comprimido com a água. Passou a sentir uma pequena dor de cabeça, mas nada que preocupasse. Podia ser o nervosismo. Não vai perguntar para onde vamos e nem o meu nome? Não. A senhora é que deve fazer as apresentações e explicar porque me convidou para entrar no carro.

E o percurso foi rápido. Uma suíte presidencial, por favor. Pensou. Será que o presidente está aí? Não. Carro estacionado. Abriu a porta e o convidou para entrar. Já tinha visto alguma coisa semelhante, quando assistira um ou três filmes eróticos e pornográficos. Tomou pé da situação. Estava mesmo em um motel. Vou tomar uma ducha e já volto. Voltou. Cabelos negros soltos e com as pontas cacheadas. Nua, sobre o par de sapatos, de saltos altos, dava um destaque aquele corpo. Agora de fato não olhava para o chão. Não vai tomar uma ducha? Foi. Voltou enrolado em uma toalha felpuda, macia e branca. Ela tomou a iniciativa. Nunca havia experimentado tal sensação. Consegui dar uma olhada no relógio. Os ponteiros apontavam 10,28 da manhã. Que loucura. Uma vez, duas três, quatro e ela ainda pedia mais. E ele, surpreso com o desempenho. Vamos tomar um banho na hidromassagem? Foram. Como era bom experimentar o inusitado. Fazer sexo dentro da água. Espuma, água morna, massagem dos jatos de água. Risos. Beijos. Carícias. Sensações únicas. Gozos múltiplos. Está com fome? Acho que estamos, respondeu. Filé a Chateaubriand, vinho tinto de origem portuguesa. Sobremesa? Sorvete de chocolate. Venha aqui, que vou de mostrar uma coisa maravilhosa. Espalhou sorvete nos bicos dos seios. Lambuzou as auréolas. E puxou com suavidade a cabeça e pediu que fosse lambendo, bem devagar, devagar, não se apresse. Deitaram sobre a cama e foram sorvendo o sorvete aos poucos, ora nas coxas, ora nas nádegas, nos seios e a ousadia foi tomando conta. Se tal fosse necessário.

Dormiram. A exaustão e o vinho colaboraram para tal. Acordaram quando o relógio indicava 20,11 da noite. Nossa, como dormimos. Restava agora um pouco de sorvete e vinho. Vamos fazer uma mistura? Mistura? Sim misturar vinho com o que sobrou do sorvete que já descongelou todo. Mais beijos, mais carícias e sexo quase que animal.

Não acreditava na sua disposição e nem na disposição da parceira. O que é aquilo ali?

Ah. É uma cadeira erótica. Cadei..? Venha vamos experimentar. Foi uma loucura total. Experimentaram as quinze posições. Uma mais excitante que a outra. Gostou? Oh! Vamos descansar um pouco e depois vamos de novo? Vamos sim. Mais um banho de hidromassagem. Que tal um jantar afrodisíaco? Nunca ouvira falar, muito menos como era. Jantar leve. O que chamava a atenção eram as duas latas de leite condensado. Não foi preciso nem perguntar para que servia. Voltaram para a cama erótica. Cansados adormeceram abraçados. Acordou. Olhou, olhou e encontrou um bilhete: Você foi ótimo. Adorei. Não se preocupe, já paguei a conta. É só pedir para o funcionário ou funcionária, solicitar um táxi. Adorei.

Não acreditava. Até então tudo era um mundo onde a visão era o chão.

Chegou em casa. Abriu a geladeira e lá estavam um pote de sorvete e uma lata de leite condensado. Será que havia sonhado.

Quando estava se preparando para trocar de roupa, sentiu que no bolso interno da jaqueta, havia algo. Tirou. Olhou. Sorriu. Uma lembrança. Não era sonho. Uma calcinha preta..

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 02/08/2010
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