CARTAS DE AMOR (conto curto)

Troca de correspondência. Assim se conheceram. Cartinhas enviadas, ansiosamente esperadas. Ela à procura de um amor que lhe preenchesse a solidão. Ele à procura da mulher que bem soubesse fazê-lo feliz.

As fotos. Ah, a insegurança. Ela com medo de que ele não gostasse, ele apavorado com a possibilidade da rejeição. Tarde demais! Não houvesse sentimento bem mais fácil seria. Mas havia. E muito! Insuportável, a ideia de perder.

Ouvindo a angústia ela mandou uma foto da prima. Rosto perfeito, corpo maravilhoso. Melhor manter a ilusão. Ele, puro sofrimento, mandou o irmão mais jovem, galantemente vestido de soldado do exército. Tentativa de adiar o fim...

O tempo passando. O amor gritando “Não dá mais esperar”. Ela resolveu: ia pagar pra ver. Não podia mais com tamanho martírio. Ele entregou os pontos: não suportava mais o sofrimento. Ia encarar o desafio.

O encontro. No banquinho do parque, ela com um livro na mão. A angústia maior que alguém pode aguentar. Ele chegando, a rosa vermelha na mão, o peito apertado de intensa agonia.

Surpresos, espantados, incrédulos, se olham. Podem, enfim, se ver! Só não têm tempo de reparar na feiura um do outro. Sim, porque seus olhos se fecham para o beijo de amor mais esperado que a terra já viu...