O APELIDO II

O APELIDO II

Nem sei o porque mas nunca gostei de apelidos. Quando mais nova e me chamavam de DO eu não gostava, depois me chamavam de Doro, e eu detestava. Demorou mas chegou o dia em que todo o mundo me chamava só de Doroni, simplesmente porque se me chamassem pelo apelido eu não respondia, fazia de conta que nada era comigo. E foi por isso mesmo, que terminei com meu primeiro namorado, simplesmente porque não gostava de seu apelido. Mas bem no fundo eu acho que não gostava dele pra valer. E ai, arrumei outro namorado que se chamava Antonio., mas nosso namoro só durou até eu descobrir seu apelido...

O Antonio era alto, magro e brincalhão, a vida com ele era uma festa. Às vezes ele dizia que um dia ainda ficaria corcunda, porque tinha de se abaixar um bocado para me beijar. É verdade, e eu ria e ria... Na época eu estudava, mas ele não. Dizia que já havia aprendido o suficiente para a vida, e já trabalhava no escritório da Rede Ferroviária Paranaense, onde seu pai era Maquinista.

Numa Sexta Feira Santa, quando ouve a apresentação da Paixão de Cristo, o Antonio foi escolhido para Jesus, justamente por causa de sua estatura e de sua pose altiva. Acontece que durante a procissão, ele apanhou para valer de um dos algozes. Depois da apresentação, ele me olhava enviesado e me perguntou se eu fora namorada de um dos carrascos que ele ainda ia pegar de jeito. Mas eu não havia notado quem eram os carrascos e não tinha sido namorada de ninguém além do Juquinha que ele havia conhecido, pois num bairro pequeno todo o mundo se conhece. Mas vai ver o cara estava a fim e eu nem havia notado.

Antonio tinha um calhambeque que hora e meia dava no prego e o pessoal se punha a empurrar, porque é claro, nunca saiamos sozinhos. Sempre tinha uma turminha de amigos que superlotavam o veiculo que já estava nas últimas. Não perdíamos circos nas redondezas, parque de diversões e festas juninas nos colégios e nas cidades vizinhas, além dos cinemas é claro. Sempre passávamos pelo cemitério, mas com aquela turminha alegre e barulhenta até os fantasmas se escondiam.

Um belo dia o Sr. Julio, nosso visinho, e que trabalhava com o Antonio na rede, trouxe seu filho de 10 anos para que eu lhe desse umas aulas de matemática, porque o danado havia emperrado na conta de dividir. E todo o sábado lá vinha o Milton com seu caderninho embaixo do braço e eu a ensiná-lo como podia e entendia, mas o carinha estava aprendendo que uma maravilha.

Acontece que num dia em que seu Julio veio buscar o menino, ele se pôs a conversar e de repente veio a pergunta: -- Para quando o casamento com o “ MACARRÂO”?

E eu --Que macarrão?

Ora, o seu namorado Antonio, para nós lá da rede, ele é simplesmente Macarrão.

Mas seu Julio, eu respondi, o senhor acha que eu vou viver só de Macarrão? É claro que não vou casar com ele.

Nem sei se eu estava brincando ou falando sério, porque nessas alturas, o apelido já havia subido para a minha cabeça. Mas o caso é que o miserável do seu Julio foi direto contar para o Antonio que eu não queria casar com ele para não viver só de macarrão. E ai, foi uma briga atrás da outra. Ele implicando porque eu havia falado besteira para o seu Julio e por conta disso, estava sendo motivo de risos lá na rede, e eu implicando por causa do seu apelido. Onde já se viu esse apelido tão feio. ( ao menos para mim era! ) Cada vez que olhava para ele não via mais o meu namorado, mas sim aquele espaguete que não tinha mais fim ...Ficamos tempos nessa confusão dos diabos, sem que nenhum desse o braço a torcer, até que terminamos o namoro e cada um foi chorar as magoas no travesseiro e descontar as tristezas num canto isolado, porque a gente se gostava sim, e como !!!

Doroni Hilgenberg