SENSAÇÕES - AS MESMAS OUTRAS

Aqueles olhinhos fixavam atentos e atônitos, procurando uma justificativa plausível ao menos, para o fato que ocorre e se repete diante dela.

Inicialmente uma lágrima, dela mesma, umedece a terra na qual alicerça seus pés, que agora mal podem sustenta-la.

Seu espírito reage ao acontecimento e busca acalma-la, como só um bom amigo faria. Mas fé é tudo que ela não tem agora, e suas reservas, apesar de cheias parecem inacessíveis, tentar usar fé nestas condições é no mínimo insano.

É que diante de tragédias não se pode raciocinar, tudo o que acontece é uma reação puramente instintiva, involuntária e mecânica.

Ela, simplesmente se rendeu ao tempo e deixou que tudo acontecesse como já estava previsto, inclusive a explosão atômica de sentimentos que o desespero proporcionou-lhe inocentemente. Ela, portanto, entregou-se aos berros alucinados, e à fadiga, e à desesperança, na tentativa vã de expressar uma dor que escala nenhuma seria capaz de medir a intensidade.

É como morrer lentamente, de novo, e todo dia.

É como ter oxigênio e não poder respirar, ainda que suas narinas estejam perfeitamente saldáveis. Os pulmões imploram pelo ar que não vem, e você começa a agonizar, desfalecendo.

E seu amor ali, partindo com outro alguém, a fez sentir-se tão tola. Como pode ela, mulher vacinada, ter acreditado em felicidade?

Afinal, quem acredita em felicidade?

Ensaiou, portanto um sorriso torto, tão forçado que assustaria quem a olhasse de perto.

A tentativa frustrada á fez desistir da mentira no sorriso. Estão aí duas coisas com as quais ela terá de se acostumar a partir de agora: Frustração e Desistir.

Mas há muito tempo que ela já vem abrindo mão das coisas que mais ama, inclusive dele, o tal amor. Talvez assim ele possa ser mais feliz, talvez assim ele sobreviva, e se o sucesso dele depende de seu fracasso, ela não hesitará em proporcionar-lhe esta vitória.

Ela alegremente fracassará.

Afinal, amar é um pouco isso também. Só que ela nunca se acostumou com o pouco, só com o muito. Em tudo que ela toca existe o tempero e o acúmulo do exagero.

Ela aprendeu muito sobre o amor assistindo novelas, era seu ponto forte, saber de novelas e o desenrolar das tramas, nunca supôs viver uma, na verdade nem se dera conta disso, só queria desfrutar de seu momento trágico, afinal não é todo dia que se vai ao inferno estando lúcido. Não é todo dia que se morre acordado.

No final, seus olhos se fecharam, e ela, que nunca se permitia, deixou-se desfalecer um pouquinho só, enquanto ele partia para bem longe com outro alguém. Era este seu momento, o de sofrer.