Eu Senti

Teu cheiro ainda tão presente.

Acalanto.

E o adeus pareceu por um minuto mentira.

É o meu memento de fingir... Faço alusão ao teu nome sem pronunciá-lo, o que seria um pecado imperdoável, afinal foi nosso pacto, o de esquecer-mo-nos um ao outro.

Aquele sorriso manso, quase imperceptível e totalmente forçado, cravejado pela tua saudade e pelo não amor, agora desaparece da minha face, não preciso mais mentir. Não agora.

Paços trôpegos pela casa, e sento-me na sala.

No horizonte o arrebol se expressa sem precisar de palavras, entardecer.

A simplicidade da cena me conquista, tenho fascínio por coisas simples. Não consigo entendê-las. Eu que sou uma eterna e permanente incógnita.

Deveria ser tão fácil viver sem você, era essa a idéia, sempre fora.

Os fantasmas do passado ainda rondam nossa casa, em todos os cantos vejo você lívido, dançando, cantando e obrigando-me a segui-lo sob pena de um ataque fulminante de cócegas.

Eram tantos risos.

Sentada no chão, abraço os joelhos e cantarolo nossa musiquínha, amanhã estarei melhor.

Certamente.

É que já é noite, é o milagre do anoitecer sempre me traz uma vontade sua.

É que também tenho o direito de sentir sua ausência.

Ainda ontem corríamos afoitos pelo jardim, ávidos, como crianças repletas de inocência, de amor.

Permito-me uma lágrima.

Só uma.

É que também tenho o direito de chorar tua total ausência, já que fingir força tenha sido minha única escapatória, agora que não tem ninguém por perto, confessar um choro parece justo. É minha oração de vá em paz e nos reencontraremos um dia, certamente.

Pego no sono e sonho com você dizendo obrigado, e o acidente, apesar de mortal, pareceu por um instante insignificante, você esteve aqui hoje.

Eu senti.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 26/11/2010
Reeditado em 26/11/2010
Código do texto: T2637722