Nó na Garganta

Ela permitiu-se cair sobre seus joelhos e chorar. Soluços e mais soluços desperdiçados na madrugada.

Ninguém poderia ouvi-la, e falar de dor ou sofrimento já não seria possível, pois o lamuriar destas palavras já a haviam perpassado e sentir era tudo o que seu frágil corpo podia suportar, não sei ate quando.

Ela também não pede por socorro, é que gritar a esta altura do campeonato não vai adiantar, o desenrolar desta trama não se dará pela violência emocional que a força do grito provoca.

Também não é do caráter dela instigar dor ou medo. Ela sabe bem o que é se doer...

Apenas soluços...

Constatação; Ela, apesar dos males e danos, tem intacto um caráter, que não se altera diante de tantas desilusões... Um caráter sóbrio. Tão sóbrio como sentir ressaca numa segunda-feira pela manhã. Ela, a ressaca, é a certeza de acordar depois de uma noitada de pura liberdade...

Extravasar...

Libertar-se!

Permitir-se.

Era um pouco disso, ou tudo isso, o que ela buscava nessas lágrimas soluçadas e falhadas. Talvez essa liberdade fosse solidão. Ela não sabia, e apesar do caráter intacto, não era hora agir pela razão. Às vezes permitir-se e melhor que correr o sentimento, o que provavelmente corroer-lhe-á o ego, como ferrugem no ferro velho e desgasto.

Tentou caminhar, ensaiando alguns passos desperdiçados. Não queria caminhar, queria morrer, é que morrer provoca a sensação de liberdade buscada neste momento e a hipótese causou-lhe uma leve euforia disfarçada pelo medo.

Desespero, e ainda assim, medo.

Recupera-se portanto apenas o suficiente para conseguir chegar em casa e desmorona-se em seu quarto clareado apenas pela fraca luz de uma abajú.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 29/11/2010
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