A carta

Alguém vinha em minha direção e eu ouvi uma voz masculina dizer: " Oi, estou aqui para te proteger, meu amor por ti é infinito, acredite!" e quando ele chegou perto de mim, estendeu suas mãos e abraçou depressa, seu corpo era forte demais para que eu pudesse me soltar. Quando olhei para cima a fim de ver seu rosto, não conseguia enxergar nada, via tudo embaçado. Aquele anjo desapareceu na minha frente, por um instante eu acreditei ser verdade, mas tudo não passou de um sonho.

Era uma manhã setembrina ensolarada e eu ainda estava assustada pelo sonho que eu havia tido naquela manhã. Quem era aquele homem que me abraçava tão forte? E que segurança que ele passava para mim! Eu fiquei até com saudade dele, coisa estranha. Senti uma segurança inacreditável nesse sonho sem ao menos saber quem era aquele anjo.

Meu coração estava acelerado demais e eu não queria acordar.; Queria continuar nos braços daquele estranho que agradava e que me fazia sentir estar sendo amada de verdade. Que calor bom que eu senti, mas tudo foi utopia.

Era 07h00 da manhã e eu tinha que ir para a escola, a vontade era pequena demais, mais eu tinha que ir e logo. Tomei um banho rápido e um café mais rápido ainda. Ao sair de casa eu percebi que a caixa de correspondência tinha uma carta. Minha mãe naquele dia não havia pego, ela sempre pegava as correspondências antes de sair de casa logo cedo. Era uma carta endereçada para um tal de "Lucas". Eu não conhecia nenhum e sabia que meus pais também não e muito menos o remetente "Brian". A curiosidade era grande então eu abri a carta e li.

"Querido Lucas"

Eu sei que neste momento ondas se formam em sua testa se perguntando quem de fato eu sou, mas logo você saberá. Tenho consciência de que você ficará tão surpreso assim como eu fiquei quando soube a mesma verdade que te contarei agora. Mas, antes de começar, gostaria de dizer que fiquei muito feliz quando soube a verdade. É claro que isso tem explicação lógica, e pode ser que você descubra antes de terminar de ler. Então, lá vai.

Eu nasci em Içara, uma cidadezinha localizada ao Oeste de Santa Catarina. Quem me deu a luz foi uma mulher chamada Sophia Cabral, mas eu não a conheci, pois quando nasci fiquei em estado delicado na maternidade por três meses. Então um irmão mais velho pensou que eu havia morrido com ela, parece que uma das enfermeiras havia confundido tudo e meu irmão entendeu errado. Depois desse dia ele enterrou nossa mãe sem saber que eu estava na maternidade.

Minha mãe tinha uma amiga chamada Hortência que residia do lado de sua casa e como a conhecia á muitos anos, se prontificou a cuidar de mim. Eu fiquei sabendo dessa história á um mês e estava imaginando como contaria á você tudo isso. Enfim, ela me disse tudo o que sabia, portanto, agora eu escrevo para você. Ela também disse que só resolveu contar-me a verdade porque eu perguntava muito quando ela iria me dar um irmão. Ela chorou e colocou a mão nos olhos, e enfim resolveu me contar toda a verdade, que não era minha mãe e também que eu tinha um irmão. Eu não tenho certeza se você ainda mora aí, já faz tantos anos. Mas, estou me arriscando porque gostaria muito de te conhecer.

Depois desta revelação eu exigi seu endereço. Ela me disse que você mora aí desde então e com a irmã da nossa mãe. Sei que, você tinha apenas 10 anos de idade. Hoje você deve ter trinta anos, pois eu tenho vinte anos. Bom, gostaria muito de te conhecer um dia se você quiser. Você pode até estar casado e eu posso até ser tio e não sei.

Grande abraço fraterno,

Brian.

Depois dessa confissão eu entendi tudo. Havia apenas duas semanas que eu estava morando ali, naquela casa que talvez um dia pertenceu a Lucas. A antiga moradora era a tia que cuidara de Lucas. E agora? O que eu ia fazer com aquela carta? Minha mãe comprou essa casa de um senhor de idade que resolveu vender para ficar com seus filhos em outro estado e quando fez à oferta ela aceitou. Quando soube que ia vim para esta cidade fiquei feliz demais. Minha mãe até achou estranho eu sorri tanto.

Eu não imaginava o que poderia fazer, mais eu queria de alguma forma ajudar Brian. Eu daria tudo para ter um irmãozinho, mas minha mãe não poderia ter mais filhos. Depois de pensar muito sobre esse assunto eu resolvi escrever para ele. Contaria toda a verdade, desde quando eu peguei a carta sem ter permissão para ler. Não tinha idéia do que escrever. Fiquei uns segundo com a cabeça vazia para ver se chovia alguma idéia, e nada. Quando percebi, já havia perdido o horário para ir a escola e acabei não indo mais. Fiquei a manhã inteira pensando no que descreria nessa carta.Então, escrevi que tal jeito.

“Olá Brian"

Primeiramente gostaria de dizer que sua carta chegou ao endereço certo, mas, esta pessoa que a carta endereça não mora mais aqui, ou seja, esta casa foi vendida duas vezes e agora quem mora aqui sou eu e meus pais, aliás, me chamo Hághata. Sinto muito por você, até gostaria de ajudá-lo se fosse possível, mas não conheço nenhum Lucas.

Por incrível que pareça eu não sou muito sociável, sempre fiquei na minha, pois a timidez criou raízes em mim. Quando li sua carta eu senti uma enorme vontade de te ajudar mesmo não te conhecendo.

Espero que não fique chateado com essa estranha atrevida.

Peço desculpas desde já porque me atrevi a ler a carta. Eu queria me desculpar mesmo. Sei o que você sente. Minha mãe uma vez engravidou e perdeu o bebê quando estava de três meses, eu chorei muito porque sempre quis um irmão.

Bom, era isso, perdoe-me novamente por ler sua carta. Espero que um dia você encontre seu irmão.

Hághata Passos.

Eu ainda custei a acreditar que tudo aquilo havia acontecido comigo. Minhas noites eram curtas e eu só pensava na reação de Brian quando lesse minha carta. Foi uma tremenda loucura, eu sei! Mas teria que avisá-lo, porque talvez ele esperasse o resto da vida para ver esse irmão. Que nunca iria aparecer. E sofresse ao longo do tempo esperando por ele.

Passaram-se alguns meses. A estação estava no final e logo Outono chegaria e já estava perto de eu fazer dezoito anos. Era Sábado á noite eu estava na varanda da minha casa pensando em Brian. Já havia se passado muito tempo e ele não me respondera, é claro que ele não tinha obrigação nenhuma de me falar sobre sua vida, em se tratando de um assunto tão delicado para certas pessoas era um incômodo. Então eu pensava, com a brisa quase quase outonal tocando minha face, a beleza me envaidecendo, o vento levemente passando em meus cabelos anunciando a chegada da nova fase e eu com pensamentos longe.

Peguei o livro que estava lendo e continuei da página que parei. Desde que eu recebi aquela carta que não era para mim, não tive mais vontade de ler nenhum livro, não parecia eu mesma fazendo isso, desprezando um livro, coisa que eu mais amava fazer, devorar livros. Quando decidi que queria mudar minha maneira de ser não pensei que teria um impacto tão grande e agora não me conheço mais como uma garota sem sal e sem açúcar que as pessoas costumavam falar por trás de mim. Sinto-me diferente, depois da carta, tudo mudou. Logo, recebi outra carta, agora, endereçada para mim de verdade.

"Querida Hághata"

Não tenho palavras de agradecimentos mais bonitas agora que um simples obrigado. Você foi corajosa de responder a carta para um estranho sabendo que não tem nenhuma obrigação de ajudá-lo. Até agora não acredito que isso aconteceu comigo, eu poderia ter respondido antes, é claro. Mas, não tive coragem, estava pensando demais e acabei deixando o tempo passar.

Porém pensei, “Porque não responder á uma garota que teve coragem de se arriscar em ajudar um estranho sem querer nada em troca?” criei coragem de lhe escrever.

Agradeço do fundo do meu coração pelo que você fez. Se não fosse por sua ajuda, eu estaria sofrendo esperando respostas do meu irmão e quanto mais o tempo passasse mais eu ia sofrer. Pensaria que ele talvez houvesse me rejeitado ou algo assim. Ninguém gosta de tomar um choque assim.

Gostaria de dizer que gostei muito de suas palavras e queria conhecer você pessoalmente se assim você também desejar. Logo estarei aí, o fim do ano está chegando e o vestibular também. Logo chegará Dezembro e eu estarei chegando aí no começo deste mês. Quem sabe eu dou uma passada na sua casa para nos conhecermos.

Com carinho,

Brian

Dezembro havia chegado e eu estava com o coração na mão. Pensava: " Será que Brian viria me conhecer de verdade? Como eu esperava por ele! Valeu muito eu ter esperado todo aquele tempo por esta resposta. Meu coração nunca me disse ao contrário, eu sempre confiei nele. Naquele momento eu me sentia capaz de apreciar a beleza de dentro de qualquer pessoa, estava serena. A mulher que existia dentro de mim era querida, compreensiva, amiga e amável.

Eu buscava perfeição em mim mesma e a vida para eu tinha tantos porquês que às vezes me pegava pensando em um deles ao me deparar com a realidade que naquele momento da carta enfrentei. Em minha alma havia uma bela composição feita pela lembrança boa que vivi. Eu não queria jogar aquele momento fora, mas não poderia compartilhar com ninguém ainda, eu queria acreditar no que eu estava sentindo primeiro.

Nunca gostei de verdade de nenhum garoto. As minhas colegas às vezes me apresentavam alguns, mas nenhum nunca fez meu coração disparar. Eu acreditava no amor sim, e qual garota da minha idade nunca acreditou? Nunca sonhou? É claro que sim! Várias vezes, mas eu nunca consegui acreditar que para eu isso um dia funcionaria. Nesse momento até que eu estava mais apresentável. Resolvi que não me desvalorizaria mais.

Naquela manhã de verão, o sol pairava lá em cima deixando calor se espalhar com a ajuda do vento. Eu estava sentada na varanda da minha casa olhando para o verde da natureza exímia, quando de repente vi um belo jovem aproximar-se do portão da minha casa e chamar pelo meu nome. Eu o olhei hipnotizada, nunca tinha o visto antes, logo veio Brian em minha cabeça, a felicidade se movimentou em mim e eu fiquei excitante de alegria. Era Brian! Era ele! meu coração dizia que sim. Me aproximei do portão.

- Brian? - Eu disse num tom sufocante de ansiedade.

- Sou eu sim, você é a Hághata? - Ele perguntou olhando em meus olhos.

- Sim. - Eu respirei profundo sem acreditar e depois continuei. - Pensei que você nunca viria de verdade. Nunca aconteceu isso comigo antes.

- Comigo também não. Não vai me convidar para entrar?

- Ah! É claro. - Eu até gaguegei. - Entre.

Brian me abraçou e eu senti que ja conhecia aquele abraço tão acolhedor e protetor. Logo, veio o sonho na minha cabeça e eu tinha certeza de que era ele meu anjo. Eu olhei para Brian e ele estava com rugas na testa, esperando que eu falasse alguma coisa. Eu também fiquei curiosa para saber o que se passava em sua cabeça, pois eu não acreditava que alguém pudesse ler minha vida, eu achava que era brincadeira. O olhar de Brian era o contrario, ele suspirou e logo olhou para mim, o que eu tinha certeza de que era o começo de uma conversa. Nos braços dele eu tinha certeza de que ele era o meu amor. Aquele que o sonho me trouxe.

Belly Regina
Enviado por Belly Regina em 04/12/2010
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