(Mono) SILÁBICO

Uma lágrima, uma tristeza no olhar e você se foi.

A tarde acontece calma, uma música nova no rádio e nosso amor ainda não acabou.

Formas sinuosas de um passado feliz ressurgem em minha mente ainda inconformada com tua ausência perspicaz.

Forço um sorriso, mas não adianta tentar mentir pra mim mesmo.

Outra lágrima.

Novo esforço.

Recuso-me a chorar tua ausência.

Passo o domingo trancado no quarto, a monotonia parece tão comum, um equilíbrio que não ouso confrontar. Seria suicídio. E nestas condições morrer parece-me, no mínimo, irracional.

Loucuras de domingo rabiscadas na capa da lista telefônica.

Sento no sofá.

Mergulho num sono profundo.

Acordo cansado e recordo suas gravuras pintadas no papel de pão, rabiscos abstratos que grudamos com ímã na geladeira, como um retrato de família, um troféu pelas conquistas antes tão ovacionadas.

Parecíamos tão felizes ali.

Momentos...

Apenas isso.

E a simplicidade nas coisas tende a me confortar como só um amigo o faria, mas não tenho nenhum por perto, nenhum pra quem eu possa chorar. Se bem que choro é sinal de fraqueza, e mesmo em meio à miséria emocional em que me encontro, ele, o choro por si só, não seria reconfortante.

É que o choro, apenas por chorar, não acalanta o ser.

E não tenho coragem de arriscar, a teimosia não me trouxe aqui, jamais me levou a lugar algum. Do contrário, todas as vezes que retruquei, que voltei e repensei, me quebrei e tenho me quebrado tanto, cacos e frangalhos, pedaços e mais pedaços.

Deixo escapar apenas um soluço silábico e finito. É um grito camuflado, como um ensaio desastroso e efêmero para algo que nunca foi concreto.

O desespero queima rápido, como o fogo no papel virgem.

A rotina solitária de todas as noites só é quebrada pelo som do rádio que ligo para fazer-me companhia, a voz do locutor e as melodias românticas remetem-me certa esperança que não arrisco alcançar, e sonhar parece ser a melhor escolha, afinal é fim de noite, e pela manhã preciso trabalhar.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 05/01/2011
Código do texto: T2710513