Entre quatro e meio....

Impressionante como a vida é ironica, como prega peças em nós com situações totalmente imprevisiveis. Casos que exigem o máximo da nossa capacidade de dissenimento e bom senso, passando por cima de questões emocionais, financeiras e principalmente das estratégias que temos definidas para o jogo da vida.

Numa única noite, que não tinha esperança de nada nem ninguém, acabo conhecendo uma pessoa que me despertou aquele algo a mais, a vontade de conhecer, a curiosidade do "se" e aquela pontinha de luxúria que ilumina nosso olhar.

Deve ser encantamento de familia, pois logo após ter decidido que valia a pena investir algumas fichas nessa possibilidade, descobri que este novo pretendente é irmão do pretendente passado. Aquele que tinha deletado da minha vida no ano novo por que tinha me abandonado completamente... aquele, que eu nunca completamente esqueci, o tipo de homem que é bonito demais para não dar saudade! quem diria que ele voltaria à minha vida só para me apresentar seu irmão e me colocar nesse dilema cruel?

Melhor seria não pensar nisso e deixar que eles se acertassem, afinal é certo que o antigo iria falar com o novo sobre mim, e que eles iriam chegar a um consenso sobre quem investiria em mim naquela noite. Isso na teoria, porque na prática não foi bem assim...a cada dança, eles dois reafirmavam o interesse em mim.

Para não cair na monotonia, fui em busca do meu parceiro perfeito de dança: meu noivo querido que me rendeu tantas histórias e bons momentos no último ano. Um homem simples em todos os sentidos, decidido e quase sempre presente. Não posso dizer que aquelas danças foram um erro, pois nunca que algo tão bom iria ser errado, mas é como se mais um aplicativo tivesse sido iniciado. Ali, naquele momento me senti segura, pois tudo que eu precisava fazer para deixar tudo exatamente do jeito que estava era dar-lhe um beijo, e consequentemente dar fim a todos os outros conflitos.

Mas me senti mal... tinha aquela voz na minha cabeça dizendo que aquilo não era a coisa certa a se fazer. Fiquei nesse conflito do querer mas não poder por todas as três músicas que ficamos juntos.

Precisava clarear as idéias, peguei um dançarino completamente desconhecido - até o momento - para fazer aula. Isso me daria ao menos uma hora para pensar na estratégia que já envolvia 3 pessoas diferentes! De novo, não deu certo... pois mesmo o "ninguém", ganhou um nome diferente, virou o "número 4". Aquele que eu não queria nada, que estava no final da lista de pretendentes, mas que mesmo depois da aula, vendo que eu estava "ocupada", vinha me tirar para dançar e reafirmar seu interesse.

Aquele era o momento de sair, fumar um cigarro e tomar uma cerveja em paz, sozinha, e pensar na vida. Mas na exaustão de todas aquelas danças, abandonei a idéia de ficar de pé fumando e simplesmente dei um sinal ao garçom para me trazer um chopp. Me escondi na mesa mais ao fundo que consegui encontrar e coloquei o bom senso para funcionar.

Por mais que não tivesse ninguém na mesa comigo, e que eu tivesse deixado todos longe de mim, ainda não conseguia pensar direito na postura a adotar diante desse completo imprevisto. Ainda tinha uma outra pessoa, que apesar de não estar ali fisicamente, sempre esteve na minha cabeça, não como uma idéia, mas como um conceito, uma referência de ideal a se buscar. Um ser acima do bem e do mal, que sempre busco em horas de crise e que sempre me ajuda, mas que desta vez acabou me atrapalhando: me senti atraida por essa metade psicológica de gente, já que a parte fisica não estava presente.

Decidi que o melhor seria permanecer só. Queria ser forte e ficar ali em cima, no patamar a que fui elevada, com o ego inflado, mergulhada no poço de auto confiança que estava.

Ainda sentada naquela mesa de bar, decidi que me faria de dificil, que dançaria com todos mais algumas vezes, mas que permaneceria sozinha. E logo que vi o meu noivo passado, o chamei para dançar e fui colocar isso em pratica! Até que no primeiro passo de dança fui vencida. Não pelo charme do noivo, não pela tentação que me apertava o peito, mas pelo cansaço fisico que não me deixava continuar a noite.

Com tantas emoções enclausuradas naquela pista, foi como se eu tivesse tido um pico de adrenalina. Três horas que fiquei completamente ligada, que dançei no 220, e que dei o melhor de mim. Agora que o "rush" tinha passado e que a decisão havia sido tomada, fui vencida pela única inimiga que tenho e que já tinha me vencido antes: eu mesma.