Drúzila

Enquanto eu corria, arfando, minha cabeça pulsava confusamente. Nada mais eu poderia fazer; era o fim do amor.

Mas ainda corri por mais de uma hora até o tombo; vozes ao longe - sirenes. Alguém segurava minha cabeça e tentava falar comigo. Eu puxava o ar com dificuldade e soltava num jato. Movi meus dedos. Soube depois que o nome dela era Drúzila.

Havia algo estranho nos olhares das pessoas com as quais eu tentava me comunicar. O semblante era como o de quem tenta entender a origem do sotaque. Mas tudo mudava muito rapidamente. Parecia que a cada minuto eu era diferente. Também podia ver as pessoas mudando muito rapidaemnte. No meio de uma fala a expressão passava por vários tons. Como se alguém tivesse acelerado o tempo.

A primeira vez em que a vi foi claro: uma mulher muito bonita! Naquele momento eu nunca poderia imaginar qualquer futilidade; ela refletiu um brilho de olhar que me capturou imediatamente. Meu imaginário começou a trabalhar de modo lépido num desejo de que ela me fosse trazer, não sabia ainda muito bem porque, uma felicidade muito carnal. Contive-me, mas, nossos olhares não: conferiamos rapidamente os contornos corporais e alguma filigrana do que poderia ser um tipo: Ela teria um perfil? Algo que resiste? Não vi imediatamente. Todos esses dias fico imaginando que história estaria eu escrevendo se um beijo na boca eu lhe tivesse roubado. E se ela me tivesse seduzido a ponto de eu não resistir? E se ela não resistisse, pelo contrário, se me correspondesse calorosamente no beijo? Tudo isso poderia ter acontecido e eu estaria agora escrevendo outra história. Essa hitória versaria sobre o amor que acontece de forma fácil entre duas pessoas difíceis. Clichê! Estranho amor, pois, que intenso, carnal, visual, encantado, um tanto desafetado, bonito amor! Mas algo aconteceu. Um rompimento inesperado para mim. Tudo transcorria num clima de crescente enebriamento, com declarações de ambas as partes. De repente, num golpe, ela desata a falar que eu estava impedindo catagoricamente sua aproximação amorosa; ou melhor, ela desflecha: você está rejeitando cada investida minha, uma atrás da outra, e nem percebe! Eu levei um susto! Fiquei atônito. Não conseguia ver nada do que ela falava. Fiquei em silêncio por um tempo. Depois indaguei se não era uma brincadeira, pois, eu não via mesmo que chegara momento em que eu deveria manifestar concretamente no sentido de aceitar ficar com ela: ou seja, beijá-la! Eu não mais consegui recobrar o senso para encaminhar então a possibilidade. Passei a gaguejar palavras sem sentido e expressões moralistas me enrolando cada vez mais. Drúzila enfurecida ria nervosamente até que decide dispensar-me com um "toma seu rumo"! Lembro-me ainda de um carinho que fiz no desespero de vê-la daque jeito ignorando o meu pedido para que não ficasse assim.