''DAQUELES AMORES QUE SERRA NÃO SOBE''


    ...são os amores de verão.

    ...são os amores daqueles amantes que nunca mais se verão, foi apenas por uma semana, quinze dias, quando muito um mes, e olhe la' se todo este tempo durou, olhe la'...

    ...são os amores da juventude, da meia idade ou mesmo da velhice...quem um dia não os teve? os amores de verão, ahhh!! que coisa boa, quanta ilusão, bolha de sabão , que e' bom enquanto dura e depois que se acaba quanta desilusão...ahhh!!! ploc!!! estoura não bolha de sabão, estoura não!!!

    ...eu tive uma vez um grande amor de verão...eu tinha dezoito, ela tinha dezesseis..eu era ainda um menino que apenas estudava e na vida nem pensava, não trabalhava, não precisava, tinha tudo que queria, meu pai me dava...

     .....e fomos para Ilha Bela ficar em nossa casa de praia onde todo dia trabalhava dona Gelda como caseira e guardiã de tão bela casa no resto do ano todo e junto com ela morava Giselda, a flor mais bela e filha dela, de dona Gelda...uma loira de olhos azuis e tranças douradas...

    .......e eu fiquei louco de amor por ela..ela no começo fugia de mim, eu era o filho do dono, ela era a filha da empregada..desniveis sociais imperdoaveis, dizia minha mãe,...onde ja' se viu isto? e eu era considerado o estraga prazeres da estação de verão,temporada muito esperada por ela e pelas lindas amigas dela...desaforado era eu por trazer tão desagradavel assunto nestes dias de ''farniente'', de nada fazer a não ser ''aparecer''...

      ....mas com o dias quente passando o amor dela por mim tambem cresceu, ficou escaldante, e nos dois juntos perdidos nas matas da ilha, nas praias, nas cachoeiras apagando nossos fogos nas aguas gostosas e geladas que do alto dos morros vinham...

      ...foram dias, foram noites, jamais por mim esquecidas e tenho certeza que por ela tambem...muita chuva, muito raios e trovões, muita luta para junto ficarmos, muito calor, muitos banhos nus, pelados, nas cachoeiras e regatos..

       ...e uma manhã o verão tinha passado, tinha acabado, o carnaval ja' batia seus tambores ao longe e a caravana do verão seguiu sua rota subindo a serra de volta ao planalto, na rotina do dia a dia...ja' era Março, ja' era quaresma, cinza na testa para os pecados serem perdoados e eu perguntando que pecados eram estes e ninguem me respondendo...eu não era um pecador!!!..

       ...e minha mãe dizendo que eu era sim e chorando vivia pelos cantos e cochichos e mais cochichos eu ouvia e minha vida eu seguia...e outros verões vieram e tambem se foram, nunca mais para a casa de praia na Ilha Bela fomos,a casa foi vendida,  compraram um sitio no alto das montanhas Alterosas, casa de veraneio por la' agora...e por la' era ao contrario, serra abaixo o amor de verão não descia..tambem!!! pudera, eu por la' nunca me apaixonei

      ....o tempo passou levado pelo vento quento dos verões em que eu crescia, me casei, familia montei, meus pais se foram desta vida para melhor, eu ficando velho estava e um dia para matar saudades'a Ilha Bela voltei, atravessei a baia de balsa, por la' andei, e curioso, na casa de praia fui dar uma espiada, estava toda reformada, diferente, era uma pousada, entrei, serviam almoço por la', fiquei em uma mesa em um canto daquela sala que ainda se parecia com a antiga sala de minha juventude e fui servido por uma moça loira de lindos olhos azuis, chorei, lembrei de Giselda e de dona Gelda e disse isto a ela, ela sorriu, nada disse e se foi, foi e voltou com uma senhora bem velha que se dizia chamar Gelda e esta era a neta dela, filha de sua filha Giselda, que deus a tenha, e sua neta se chamava Gabriela e que sua filha tinha falecido ao dar a luz a sua neta, e ela a tinha criado....e me perguntava quem eu era...eu menti, inventei uma mentira sem pe' e nem cabeça, me despedi e sai...covarde era eu? cafageste e desumano?, não pensava eu, não, não sou não...para que mexer em ferida que ja' esta' ''quase'' cicatrizada, para que cutucar velhas feridas? e fui sentar na areia da praia e chorar...

 .....e me lembrava de minha mãe e tinha raiva dela agora e de meu pai tambem, afinal eramos amigos e ele nunca me disse nada, nada, nada,...aqueles cochichos, a venda da casa da praia, nunca mais irmos la'..a compra da casa nas montanhas Alterosas, passar os verões longe da praia...eles sabiam de tudo, foram cumplices, devem ter dado a casa para dona Gelda em pagamento do que eu tinha feito, e ela coitada, viuva, semi-analfabeta e naquela situação aceitou e por tudo que passou....que desgrameira toda que a pobre mulher passou!!!

    ...voltei para meus afazeres e pedi ao meu advogado que tudo providenciasse, ele assim fez, testes de Dna foram feitos e comprovados e um dia em meu escritorio eu Gabriela recebi e em suas mão uma certidão com meu nome eu lhe entreguei, ela aceitou e neste dia eu tive a certeza...

     AMOR DE VERÃO SOBE SERRA SIM...Gabriela subiu, veio em busca do amor que nunca teve, amor de um pai que nunca tinha conhecido...agora conhece, agora tem..antes tarde do que nunca e eu tudo lhe contei...chorei, choramos, e agora somos bons amigos..ja' meu deu ate' duas lindas netas...e uma delas se chama Graziela e a outra ''Giselda'' loirinha e de olhos azuis iguais ao da avo' dela, a outra Giselda, a que me amava e quem eu tambem amava, mas que nunca subiu a serra...que pena!!! quanto desperdicio, de tempo, e pior...de vida.

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 06/02/2011
Reeditado em 07/02/2011
Código do texto: T2775557