Casal

– Você parece criança!

Parecia. Mas não era. Era muito mais mulher do que ele poderia supor.

– E você é um bobo! – ela riu.

– Culpa sua! Pessoas apaixonadas sempre ficam bobas.

– Ah, não ponha a culpa no amor! Você sempre foi meio bobinho mesmo...

– Obrigado!

Ela riu novamente, divertida. Agarrou-se a seu pescoço, beijou-o e foi correspondida sem entusiasmo. Ele estava sério.

– O que é?

– Nada.

– Está com uma cara estranha...

– Alguns problemas no trabalho... Bobagem.

Deu um sorriso chocho, enlaçou-a pela cintura. Ficaram assim sentados, olhando o horizonte, calados e pensativos. Eram felizes afinal. Davam-se bem, dificilmente brigavam, as famílias se conheciam... Tinham seus problemas, como todo casal, mas nada com que não pudessem lidar. Amavam-se.

Planejavam morar juntos, talvez casar... Não costumavam tocar no assunto, mas os dois já pensavam a respeito. Seria bom amadurecer o relacionamento. Ter uma casa só para eles, comprar um cachorro como ele queria ou um gato como ela desejava. Tirariam no par ou ímpar, ele dizia. Filhos. Ela queria muito ter filhos. Não tão já, mais tarde, quando conquistassem um padrão de vida mais estável. Ele seria um bom pai, adorava crianças. Ficaria bobo e entusiasmado, ela também. Formariam uma família, uma família unida e quem sabe até...

– Estou doente.

Foi essa confissão bombástica que a tirou de seu devaneio.

– O quê? O que você tem?

– Não sei ainda... Preciso fazer alguns exames.

– Mas é grave?

– Parece que é...

Engoliu em seco, fitou o nada, ficou alguns minutos em silêncio, tentando absorver o impacto da notícia.

– Não se preocupe. Vai dar tudo certo.

E se não desse? Como poderia saber? Disse aquilo apenas para consolá-lo, dando a entender que ficaria a seu lado de qualquer maneira. Mas teve medo. Medo de que aquilo estragasse todos os seus planos, o que provavelmente aconteceria. Apertou sua mão com força, lamentando a incerteza do futuro.