De Volta ao Mar

Era uma vez uma jovem e linda Sereia de olhar brilhante e sorriso encantador e que com sua alegria cativava a todos a sua volta. Essa jovem Sereia amava ao mar e toda sua magia, mas sonhava com o mundo dos mortais e todo o seu encanto. Certo dia decidiu ver de perto tudo aquilo que tanto lhe atraia e submergindo as águas veio a terra, a uma linda praia... E quão grande foi a sua emoção: tudo era belo e perfeito; a magia que havia ali era bem maior que a do mar.

Ali ela conheceu o amor, o amor que antes só habitava em seus sonhos!... O seu olhar que era brilhante, agora resplandecia esse brilho, era como se não precisasse dos lábios pra mostrar o seu sorriso. Naquela praia, acalentada pelos sons das ondas e o toque suave do vento, ela viveu os momentos mais felizes de sua vida.

E aquela jovem Sereia entregou-se de corpo e alma aquele momento mágico e sublime; vivendo como se fosse o único de toda a sua vida. A sua emoção e felicidade era tal que não havia palavras para expressá-las... Mas chegou à hora de voltar pro mar, ela não tinha como evitar; e despediu-se daquele mundo de magia e do seu amado com lágrimas nos olhos, porém deixou com ele uma concha mágica através da qual podiam se comunicar e se verem. E com um beijo de amor profundo e a promessa de logo voltar pra viver aquele amor, se despediu e voltou pro mar.

A vida daquela jovem Sereia mudou por completo, tudo agora girava em torno daquele amor; daquele sonho; daquela nova vida que ela pretendia construir ao lado do seu amado. Nas águas profundas do mar já não era mais o seu lugar, ela agora tinha terra firma pra pisar e um lindo conto de fadas pra viver. Arrumou tudo o que lhe pertencia e comunicou o fato a seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Estava amando e ia partir pra viver esse amor!... Uns a chamavam de louca, outros falavam que ela estava sendo ousada, porém estava certa; e outros perguntavam se ela não tinha medo...

- O medo sempre há!... – Ela falava. E era verdade, uma vez ou outra lhe batia uma insegurança, o coração ficava apertado... Então ela pegava a sua concha mágica e entrava em contato com o seu amor e o seu coração se alegrava. Eles praticamente se tocavam, mesmo estando distante; e o que falavam um para o outro era tão sublime que logo ela esquecia o medo e aumentava o desejo de sair voando como uma borboleta e ir pousar em seus braços.

Porém faltando 18 dias para data combinada de sua partida ela recebeu seguinte mensagem vinda por parte do seu amado:

“Boa noite Borboleta, me desculpe, mas hoje estou meio que chateado, com os acontecimentos e minha cabeça não esta lá, boa para poder lhe dar a atenção que você merece, amanhã se Deus assim o quiser nos falaremos, mais uma vez peso desculpas; também acho que estamos nos precipitando em tomar decisões rápidas, você me desse que quer um compromisso serio, eu também quero mas estamos indo rápido de mas e isto tudo me assusta, sei que o futuro depende da gente mas mesmo assim ainda fico meio que assustado, acho melhor você resolver seus problemas por ai e eu vou resolver os meus por aqui. Ainda tem uma coisa que eu não tinha lhe falado, mas a minha ex não quer assinar a separação e eu não acho justo só lhe falar isto só quando você estivesse aqui, por isso falo agora porque já não aguento ficar com isso guardado. Quero que me entenda e me desculpe.”

Tal foi sua dor. Foi como se o peito rasgasse e algo lhe perfurasse a alma!... Um pronto de dor e desilusão molhou-lhe a face; a amargura selou o seu coração enquanto um nó sufocante tapava-lhe a garganta. E em um terrível esforço de esboçar sua dor esse foi o único som que saiu da sua garganta:

Luxação de uma dor que parece não ter fim;

Um sonho encantado quebrado aos pedaços,

Ilusão de adolescente e de menina em estilhaços.

Zumbido que me traz dolorosas lágrimas.

Canteiro de rosas que já não há perfume,

A cerrada tormenta de pranto e de dor;

Rompendo esse laço que adornava esse amor.

Loucura que foi só minha e que me trousse dor!

Os laços e os sonhos nem sempre resistem ao tempo.

Só deixando, porém, as marcas de um viver...

Após pronunciar essas dolorosas palavras, vendo o tamanho da sua insignificância para aquele que ela acreditava ser o seu grande amor. Tentou entender a necessidade que o ser humano tem de se alto firmar em cima de uma mentira, ou no ocultar da verdade. Ela não entendia o motivo de ele não haver falado antes que era casado. Por que depois de tanto tempo se falando todos os dias, fazendo declarações de amor, planejando ações pra uma vida a dois e, um amor eterno, só naquele momento ele foi revelar o que realmente era, queria e pensava. Por que planejar uma coisa que na verdade não queria pra si?... Era o que ele se perguntava o tempo todo.

Afogada em um oceano de amargura, angustia e decepção, aquele brilho em seu olhar desapareceu; o sorriso já não mais era visto em seus lábios; passava as noites em claro e não conseguia alimentar-se direto. Em sua concha de repouso, colocou em evidencia três frases:

Fazendo curativo no coração pra ver se passa essa dor!...

Eu só queria saber pra que inventaram esse tal de amor?

E onde se põe os estilhaços do sonho que se quebrou?...

O mundo dos mortais para ela perdeu o encanto. Decidiu, então, não mais sair do mar; e nunca mais foi vista.

Cícera Maria
Enviado por Cícera Maria em 20/03/2011
Código do texto: T2859976
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