Sonhando alto

Gente, este é o início de um livro amador que a minha irmã Julia Castilho escreveu. O computador deu um erro terrível e tivemos que formatar e ela perdeu. Temos o início do livro e queria que vocês me ajudassem a encorajá-la a terminar o livro. Comentem, por favor.

-Vamos logo Luiza, assim você vai se atrasar pro colégio, minha filha.

-Ai mãe, já to indo, calma! Tô desligando o computador.

-Mas por que você ligou esse computador tão cedo?

-Por nada mãe, já desliguei, vamos logo!

Lá estava eu, prestes a chegar atrasada de novo. Passei a metade do ano inteiro chegando atrasada, e no meu primeiro dia de aula depois das férias de julho consegui ir para a coordenadora, que por sinal, me ama.

-COMO PODE LUISA? O que você ficou fazendo nas férias que não tomou jeito, menina?

-Desculpe, é que... o pneu furou. O pneu do carro da minha mãe tava todo ralinho, precisando trocar, já tinha dito isso a ela, agora estou eu aqui atrasada de novo por culpa do pneu.

-Pneu? Do carro da sua mãe? Na época da minha avó essa desculpa já era velha! Melhor pensar em outra da próxima vez que quiser me enrolar mocinha.

-OK, OK, eu confesso. O pneu não furou. É triste confessar, mas... a gasolina acabou. Somos pobres senhora, minha mãe não tinha dinheiro para por gasolina, tive que vir a pé.

-Luisa, sem mais desculpas. Faça algo que melhore seu vocabulário, vá para a biblioteca e procure mais desculpas nos livros. Espere pela segunda aula lá.

Adoro ler. Essa é coisa boa de perder sempre as aulas de matemática que são no primeiro horário, posso ler. Ler e escutar músicas da... Kate Dupont, se ir para a escola fosse todos os dias só isso, eu viria sem reclamar. Kate Dupont é minha cantora e atriz preferida, nesse mundo inteiro. Meu exemplo. As músicas dela são ótimas e para a idade dela, sem nenhum curso de atuação, ela atua muito bem. Os filmes dela são sempre os mais vistos nos cinemas de todo o mundo, alguns ganharam até Oscar, e outros chegaram direto para DVD. Mas é certo, toda vez que alguém ouve Kate Dupont, liga o nome dela a qualidade. Mas o que me faz gostar mais dela, é saber que ela batalhou para chegar até onde está. Ela veio de família pobre. Têm três irmãos mais velhos, seus pais já passaram fome. Ela veio de uma cidadezinha do interior dos EUA. Seus pais investiram no futuro dela, afinal esse era seu sonho, usar seu talento e ser reconhecida. Hoje sua família tem um motivo para se orgulhar, a filha realmente é brilhante e conseguiu fama mundial em dois anos, com quinze anos de idade agora, quase a mesma idade que eu.

O sinal bateu, achei um livro muito legal de piadas, anotei algumas para tirar o mau-humor da coordenadora amanhã, quando chegar atrasada. Entrei na sala de aula e todos começaram a bater palmas, alguns gritavam “Ela veio, atrasada como sempre, mas veio”. Outros gritavam “Como você consegue chegar atrasada todos os dias?” ouve um tumulto na sala, como sempre. Mas quem eu queria que falasse, não falou nada. Ele... Ele... Que é o sonho de qualquer garota. Seu nome é Lucas, o garoto mais popular da escola. Todas as garotas BABAM por ele, simplesmente porque além de popular, tem lindos olhos verdes piscina, um cabelo castanho escuro comprido, daquele que passa um pouco da orelha, e um perfume que até a professora elogia. Ele namorava o ano passado, a garota mais linda do colégio. Terminaram ninguém sabe por que, mas o fato é que terminaram e ele estava solteiríssimo. Estava viajando em meus pensamentos até Lisa interromper.

-LUISA? Acorda! Chegou atrasada e ainda está dormindo?

-Qual é o problema de chegar todos os dias atrasada? Por que as pessoas implicam tanto com isso?

-Lu, você não pega nenhuma aula de matemática do trimestre, só Deus sabe como você tira 8,0 nas provas.

-Esqueceu que meu pai é matemático?

-É, acabei esquecendo. Mas me conta, e as férias? Eu sei que a gente se falou todos os dias mas... não aconteceu nada a mais?

-Ahm... nada que eu me lembre. E de ontem pra hoje, aconteceu alguma coisa com você? – perguntei com cara de pergunta óbvia.

-Comigo exatamente não. Mas, onde você estava ontem à noite?

-Em casa, por quê?

-Você não ouve rádio?

-Por que ta fazendo essas perguntas esquisitas, Lisa?

-É que ontem na 107,5 anunciaram uma promoção. Sua sorte é que ainda não tá sendo muito comentado.

-Minha sorte? Afinal, que promoção é essa?

-Uma da Kate Dupont.

-KATE DUPONT? – eu disse quase gritando.

-Quer falar baixo? Ou quer que todo mundo saiba?

-Desculpa. Mas me conta que promoção é essa!

-Você tem que ligar pra rádio e responder por que você merece passar UMA SEMANA EM MIAMI com ela.

- O QUÊ? O prêmio para o vencedor vai ser uma viagem para Miami, para conhecê-la?

-Sim. Você vai ligar né?

-Mas que pergunta! Essa vai ser a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa, vou ligar quinhentas vezes e falar um monte de coisas diferentes, assim tenho mais chances.

-Isso!

-Cara, se eu ganhar... não sei o que faço.

-Nesse caso, eu sei. Me leve junto.

-Mas é claro, tem duvidas? – eu disse rindo.

O sinal do intervalo bateu, estava ansiosa para conversar com o Tom, tinha uma semana que eu não falava com ele, e para melhores amigos, isso era muito. Desde sempre é assim, pelo menos desde que me lembre. Tom é meu visinho, crescemos juntos. Com sete anos mudei de escola, ele também, então conhecemos Lisa, e hoje somos um trio que ninguém derruba. Nunca deixamos um ao outro na mão. Somos amigos para todas as horas. Tom nunca me deixou na mão nesses quatorze, quase quinze anos que nos conhecemos.

-Tom! Me conta, conseguiu o dinheiro pro seu celular de... de quanto é mesmo?

-R$2.500,00

-Isso! Conseguiu os R$2.500,00 trabalhando na loja do seu pai nas férias?

-Não... mas consegui juntar mais um pouco.

-Que bom. Quanto você tem agora?

-R$32,00

-Força que um dia você chega lá, amigo. – eu disse dando um tapinha na suas costas.

-Tom, a Lu vai participar de um concurso, e se ela ganhar vai para Miami conhecer a Kate Dupont.

-SÉRIO? Nossa que legal Lu. Esse é seu sonho. Se tiver um espaço na sua mala, me leva junto?

-Claro. Tem espaço para os dois, não se preocupem. Mas, vamos cair na realidade agora né gente? Sonhar é muito bom, mas o país inteiro pode concorrer. Com certeza alguém vai ser mais criativo que eu.

-Mas alguém tem que ganhar, e eu acredito em você – Tom disse.

-Obrigada. –agradeci – Espero que esteja certo.

Cheguei em casa, feliz, saltitante e hiper ansiosa para participar do concurso. Contei para a minha mãe toda animada, ela nem teve tempo de responder, estava atrasada para o trabalho. Meu pai estava no “escritório”, acabando de escrever seu último conto, ele é escritor nas horas vagas.

-Oi pai – disse abrindo a porta devagar – eu posso entrar?

-Claro minha filha.

-Então pai, sabe a Dupont?

-“Dupon”? Não, não sei de nenhuma “Dupon”.

-Kate Dupont, pai.

-Ah, claro, como poderia não saber?

-Então... tá acontecendo um concurso aqui no Brasil, quem ganhar passa um tempo com ela lá em Miami!

-Sério minha filha? O que está esperando para ligar? Já contou a sua mãe?

-Eu vou ligar depois do almoço que o Matheus está fazendo. Falando nisso, nem dirigir meu irmão sabe, quanto mais cozinhar, pai. O que ele está fazendo lá?

-Eu estou muito ocupado minha filha, não tenho tempo para cozinhar. Seu irmão está fazendo esse favor para mim.

-O que você está escrevendo pai?

-Desta vez estou escrevendo um conto fictício. Depois que acabar dou para a minha criticazinha ler.

-Pai, não precisa mais falar no diminutivo. Eu tô crescida. Até hoje não tem nenhum conto seu que eu não tenha gostado, um dia vou escrever como você.

-Você já escreve e nem se dá conta.

-Talvez sim. Mas então Senhor Criativo, será que você podia me ajudar a bolar uma frase para ligar pra rádio e ganhar essa viagem?

-Minha filha, isso você vai encontrar dentro de você, eu não sei o que é ser um tiete, ah... Exceto pelo fato de eu ter saltado de pára-quedas segurando um cartaz escrito: I Love Elvis.

-PAI! – eu disse rindo – é sério... Eu preciso muito ganhar esse concurso. Se você é tão fã do Elvis até hoje, então pode imaginar o que a Kate é pra mim né, pai? Ela venceu na vida...

-Batalhou para chegar onde está não é como todas as outras celebridades, disso tudo eu já sei, minha filha. Mas você tem que batalhar para chegar até ela, sozinha.

-Odeio os escritores, são sábios demais. – eu disse olhando com a cara de choro que eu fazia quando tinha três anos, quase rindo.

-Vem cá no papai! – disse levantando e então começamos a brincar dentro de casa, como nos velhos tempos. Pai igual ao meu, é praticamente impossível de se encontrar.

As horas foram passando e eu me torturando para achar uma frase que fosse capaz de ganhar de todas as outras. Odeio esses concursos de frase. Por que pra tudo se precisa criatividade? Meu pai tem, por que ele não me empresta? Cheguei a pensar em: “Porque eu sou muito fã dela, serve?”, mas não ia servir. Fui juntando milhões de frases curtas e no final deu quase um texto. Selecionei a melhor parte dele, e disse após o BIP. Agora era só orar, e torcer para que meu bando de palavras soltas servisse, enfim, para alguma coisa. Tentei esquecer, liguei pra Lisa para já ir me conformando. Conversamos sobre o que todas as garotas do mundo conversam: GAROTOS. Começamos comentando dos mais feiosinhos, dos nerdes, depois dos normais que não tem graça nenhuma, e finalmente: Os populares. A princípio, Lisa não citou Lucas, eu estava só esperando que isso acontecesse para eu confessar o quando eu achava ele lindo, o quanto eu achava os olhos dele perfeeeeeeeeeeeeeeeitos, o quanto ele era...

-E o Lucas? O que você acha dele? – ela perguntou.

-Lucas... Lucas... de qual Lucas você ta falando? – me fiz de besta.

-Do único que você conhece.

-Ei, o que está querendo insinuar? Que eu não sou popular o bastante para conhecer vários Lucas?

-Se você não é então também não sou. – ela disse rindo.

-OK, não somos populares.

-É. Mas não mude de assunto, o que você acha do Lucas?

-Ele é... – perfeito pensei – calado!

-É verdade, ele quase não fala. Mas é gatinho, vamos confessar.

-Não sei não... – O que eu estou dizendo? - mas pelo menos ele tem uns olhos bem bonitos.

-É, tem mesmo.

Nos vinte minutos seguintes ficamos falando do Lucas. Será que eu tinha uma queda por ele? Nossa que pergunta! Claro que tinha. E que queda. À noite... Acabei sonhando com ele... De novo.

No dia seguinte, depois que voltei da escola, reuni meu pai e minha mãe no sofá da sala, cruzei as pernas, e disse:

-Gente, pais queridos que eu amo tanto, tem uma coisa que eu queria conversar com vocês.

-Quanto você quer? – meu pai disse.

-Credo, pai. Que trauma, não quero dinheiro.

-Então, o que você quer? – minha mãe perguntou.

-Caraca, não vou nem mais conversar.

-É brincadeira – minha mãe disse – o que você quer conversar com a gente?

-É, que... meu aniversário de quinze anos está chegando, já é daqui a um mês. Eu quero alguma coisa realmente legal. Vocês guardam dinheiro na poupança há tanto tempo para eu ter meu aniversário, e agora chegou a hora. Precisamos decidir o que vamos fazer com todo esse dinheiro.

-Quanto você acha que tem na sua poupança, minha filha? – meu pai disse.

-R$20.000,00?

-Querida, volte para a realidade, por favor. – minha disse zoando da minha cara.

-Então quanto tem? – perguntei.

-Tem muito, mas nem tanto. Você tem que decidir o que vai querer primeiro. O que você acha de uma BIG festa de quinze anos? – meu pai disse.

-Ah não pai, isso eu tinha em mente há muitos anos atrás. Agora eu quero uma coisa que eu possa realmente aproveitar.

-Tipo o que? – minha mãe perguntou.

-Não sei... Uma coisa que nunca se apagasse da minha memória, que eu pudesse curtir... como... UMA VIAGEM.

-Isso – meu pai disse – boa idéia minha filha. Pra onde você tem vontade de viajar?

-Para a Europa. Tenho vontade de conhecer Veneza, o que vocês acham?

-Minha filha, Veneza é caro demais, escolhe outra coisa.

-O quê? Ah não. Bom... que tal Fernando de Noronha?

-Filha, tem que pagar a taxa de preservação, é cara demais. – meu pai disse.

-Cara, já to ficando sem opções. Que tal Niterói? Ipanema? Adoro o Rio de Janeiro, tinha vontade de voltar lá. Búzios quem sabe. O que vocês acham?

-Muito lugar, pouco dinheiro.

-Afinal, quantos vocês têm nessa poupança?

-R$560,38 aproximadamente. – disse minha mãe.

-O QUE? – surtei – em quinze anos vocês conseguiram juntar R$560,00?

-E 0,38 centavos minha filha. – meu pai disse.

-Pai! O negócio é sério. O que eu vou fazer agora? Como eu vou aproveitar meu aniversário de quinze anos sem dinheiro?

-Nós não estamos sem dinheiro, ainda temos R$560,00 querida. A gente pode não conseguir te levar para Veneza nem para Fernando de Noronha, mas a gente pode te levar mais para perto. O que você acha de Uberlândia?

-UBERLÂNDIA MÃE? Essa é a sua idéia de viagem? Nada contra a cidade, mas a última vez que fomos para lá, foi quando nos perdemos. Essa não era bem a minha idéia de viagem.

-Filhinha, use o que nós te demos.

-Dinheiro é que não foi.

-Estou falando do computador, menina. Pesquise algum lugar baratinho que possamos ir. Tenho certeza que com esse dinheiro podemos aproveitar bastante.

-OK – suspirei fundo – eu vou tentar achar algum lugar “baratinho”.

A semana passou muito rápido, já estava no dia em que o vencedor do concurso seria anunciado. Na escola, tentei pensar que não ganharia, assim, a decepção seria menor. Lisa não me deixou esquecer desse concurso um minuto. Ficou tagarelando no meu ouvido dizendo que eles falariam: Tãnãnãnãm... O vencedor do concurso é... uma mulher. O nome dessa mulher é... Tanãnãnãm... LUISA! Luisa Miranda. Até que seria bom, mas no mundo real essas coisas não acontecem comigo, nas histórias do meu pai sim.

Voltei para casa com os ouvidos doendo, peguei meu almoço, fui pro meu quarto, liguei o rádio e comecei a almoçar. De repente, eles começam a dar o anuncio:

-Vamos agora anunciar o ganhador, ou ganhadora, do concurso que dará uma semana em Miami com a tão famosa Kate Maddy. Podemos? – esperou uns quatro segundos – então vamos lá. Vamos por partes. É uma ganhadora. Mora em Brasília-DF, é da nossa capital. O nome dela é Lu...Luciana, Luciana Pereira. Parabéns Luciana, iremos entrar em contato com você em breve. Fiquem agora com o Top5 na sua 107FM.

Meu mundo caiu. Já estava meio baixo por isso a queda não doeu tanto. Mas mesmo assim, no fundo ainda tinha a esperança de ganhar. Seria o melhor aniversário da minha vida.

Três semanas depois...

-Lu, ficou sabendo da nova?

-Que nova?

-Não ficou? – completou Tom.

-Não. O que aconteceu gente?

-A 107,5 vai sortear outro participante para ir pra Miami. A Mariana não se encontra mais no telefone, nem no endereço que ela deu. Ou deu falso. E eles vão pegar a frase de outra pessoa, isso vai acontecer hoje à tarde, as 15h30.

-O nome dela era Luciana, Tom – eu disse rindo – mas vocês só podem estar de brincadeira. Isso é ótimo, significa que eu ainda posso ganhar.

-É Lu, agora eu tenho certeza que você ganha. – Tom disse.

-Mas... eu não ganhei da última vez, o que vai me fazer ganhar dessa? – disse com a cara de desanimo.

-A ausência da Mariana. – Lisa disse

-Luciana.

-Que seja – respondeu – agora a frase dela já foi descartada, tenho certeza absoluta que você ganha.

-É, quem sabe...

Cheguei em casa, almocei, descansei e acabei pegando no sono. Quando acordei eram 18h. Fiquei desesperada, afinal, o anuncio do rádio aconteceu e eu não fiquei sabendo quem ganhou.

-Mãe, alguém me ligou?

-A Lisa e o Thomas te ligaram umas dez vezes, disse que você estava dormindo querida.

-Valeu mãe.

Peguei o telefone e liguei para Lisa na mesma hora.

-Alô? – ela disse do outro lado da linha.

-Eu ganhei?

-Lu?

-Claro que sou eu. Eu dormi...

-Sua mãe me disse, cara como você fez uma coisa dessas bem na hora do anuncio?

-Eu ganhei ou não?

-Bom... aí eu não sei. Qual é seu sobrenome?

-LISA!

-GANHOU, É CLARO QUE VOCÊ GANHOU! Eu te disse que ia conseguir!

-Sério? Tá... tá... falando sério Lisa?

-E eu minto pra você?

-Mente!

-Você que tá mentindo agora.

-Cara... eu... vou... desmaiar! Não acredito que vou passar uma semana com KATE MADDY em MIAMI!

-VAAAAAAI!

-A gente precisa se encontrar, nós três para comemorar. Ou melhor, todos nós, liga pro Tom e pede para ele vir aqui em casa, vai rolar F-E-S-T-A!

-Tá! Ai, que legal.

-Beijo, Lisa.

-Beijo.

Saí gritando pela casa, contei para minha mãe, para meu pai e para o Matheus. A fixa de que eu tinha ganhado o concurso demorou a cair. Minha família surtou junto comigo, comemoramos um tempão, eu ainda mal podia acreditar. Avisei da festinha e eles concordaram, Matheus ficou de chamar alguns amigos dele também, mas antes disso, sentamos para conversar.

-Querida, você... vai para Miami, sozinha?

-Não sei de nada ainda mãe, to tão feliz que to até com dificuldade de raciocinar.

-Que isso minha filha, respire!

-To respirando pai, respirando.

-E seu passaporte? – perguntou Matheus.

-Eu tenho. Quem não tem ainda é você.

-O que é completamente humilhante. Eu já tenho dezessete anos e não tenho passaporte, você nem quinze tem, e já tirou o seu.

-É mesmo. – concordei.

-Gente, calma. – meu pai disse – a questão agora é se você vai sozinha para lá. Miami é outro país minha filha, o famoso Estados Unidos da América. Vai ser muito complicado você sozinha lá.

-Pai, calma. Amanhã a gente vai na rádio conversar com o cara, tenho certeza que algum de vocês vai poder ir junto.

A festinha de comemoração rolou até às 2h da manhã. Era para ter acabado às 23h, afinal amanhã ainda é terça feira, mas meus pais não conseguiram expulsar os “poucos” amigos do Matheus. Tivemos que chamar a vizinha, que chegou com um extintor de incêndio e deixou todo mundo branco, até aí foi farra. Depois ela pegou um taco de beisebol e ameaçou colocar todo mundo pra fora por bem, ou por mal. Aí sim deu certo. No dia seguinte, eu estava morta de cansaço, não tinha conseguido dormir de tão ansiosa.

-Desculpa, eu sei que tenho chegado atrasada há meses. Mas é que é ruim arrumar uma roupa todos os dias...

-Como assim? – perguntou a coordenadora.

-É ruim escolher uma roupa para vir à escola, ué.

-Como pode ser ruim? Você usa uniforme menina.

Que droga, pensei. Esse sono está me deixando meio abobalhada.

Fui para biblioteca. O tempo que fiquei lá passou surpreendentemente muito devagar, estava louca para encontrar Lisa e Tom. Louca para entrar na sala e ver se alguém tinha notado que eu ganhei o concurso... principalmente para saber se o Lucas tinha notado.

Quando entrei na sala, todos ficaram calados, olhando para a minha cara como se eu tivesse com um chapéu enorme e ridículo na cabeça. Me olharam até assustados. Passei a mão no cabelo, para saber se ele estava baixinho, arrumadinho, e estava. Então, o que estariam olhando? Quando eu estava colocando minhas coisas na minha mesa, todas as meninas levantaram quase que ao mesmo tempo e vieram em minha direção, levei um susto.

-Luisa, foi você que ganhou o concurso? – uma enjoada da sala perguntou.

-É... fui eu si...

-Nossa, você vai para Miami mesmo? – a melhor amiga da ex namorada do Lucas perguntou.

-Vou sim. Só não sei quando ainda.

Respondi quinhentas perguntas de todas as meninas, então, assim que o professor entrou na sala, foi a vez dos meninos. Uns oito levantaram e vieram falar comigo, entre eles estava ELE... ele... ele... O Lucas.

-Quando você vai para Miami, Luisa? – Lucas perguntou.

-Eu? Eu... é... eu não sei ainda, tenho que ir na rádio e me informar sobre as coisas.

-Ah tá. Legal, boa sorte pra você. – ele disse dando um sorriso. Senti minhas pernas tremerem, e percebi que ganhar esse concurso, tinha sido a melhor coisa que já acontecera comigo. Depois que ele se virou e foi sentar, eu levantei para fazer um charminho, e fui até o professor avisar que eu teria que faltar a próxima semana de aula, pois estaria em Miami Beach in United States Of America, Flórida. Mas... bem... no percurso tropecei na lata de lixo e fui parar nos pés do professor. Arrastei junto comigo a carteira do Benjamin Valentin, que quase me matou. A sala inteira parou para rir. Alguns até aplaudiram minha linda performance .Ai na hora de levantar eu bati a cabeça no quadro e quase arranquei ele fora, minha cabeça ficou até deformada. Depois dessa desisti de falar pro professor que ia faltar uma semana de aula e voltei pro meu lugar, Lisa riu tanto que quase ficou roxa. Êta gentinha que vive rindo da desgraça dos outros. OK... vamos combinar que esse foi O mico. Aliás, nisso, sou campeã. Lucas foi outro que quase morreu de ri, e eu quase morri de vergonha. Fala sério.

Por Julia Castilho.

Isabela Castilho
Enviado por Isabela Castilho em 09/04/2011
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