O Último Beijo

Capítulo I

Conversava com uma amiga na saída da escola e enquanto caminhávamos e ela me disse:

- Você é tão legal, mas, um pouco triste.

Respondo:

- Sim, e qual o mal nisso?

Ela retruca prontamente:

- É que para alguém tão inteligente e bonito... (passo a fitá-lo após o inesperado elogio) um sorriso não custa nada.

Ela completou quase sussurrando, um pouco vermelha ao perceber que eu a observava e parecia estar perdida em meio ao meu incessante olhar.

- Chegamos.

Discretamente a desperto de seus profundos sonhos e desta vez é ela quem me observa fixamente, uma caminhada de dez minutos apenas e era como se estivéssemos juntos lado a lado a vida toda ali nos olhando.

- Sim.

Ela finalmente responde sem muita convicção, me despeço aproximando-me e beijando lhe suavemente a bochecha rosada e um tantinho quente, enquanto vou me afastando devagar e digo:

- Até amanhã.

E começo a me afastar, imaginando que ela ainda fosse dizer alguma coisa, entretanto ela está imóvel balançando maquinalmente a mão direita, neste momento me distancio muito lentamente agora já sentindo um calor insuportável retiro minha blusa de lã e sigo andando e vou ouvindo meu coração disparar e começar a bater cada vez mais rápido e mais alto, me vem de repente à imagem daqueles doces olhinhos cor de amendoim me olhando timidamente e escuto aquela voz suave e sonora a rumorejar repetidas frases sem sentido na minha cabeça. Jamais me senti assim tão conscientemente inconsciente nesse exato instante o mundo todo parecia estar equivocado e tudo estava tão fora do ar, meu desejo agora era te descobrir sozinha e pensando em mim, ou melhor, pensando em nós no momento atual não sei se isso é a vida real ou isso é só fantasia, eu sou apenas um pobre menino isso realmente não me importa eu só quero ver você eu quero ser o teu doce brinquedo e me perder entre os teus dedos de menina mimada cheios de anéis e de enfeites meus pensamentos principiam e encerram em você meio atordoado por fim chego ao portão de casa então abro o cadeado e depois a porta entro na sala e minha mãe me olha com um olhar meio diferente enquanto serve o almoço a meu pai que raramente era visto almoçando em casa ouvia se ao longe duas vozes abafadas, demorei um pouco em reconhecê-las eram de Chico e Caetano reproduzindo “Você não entende nada” em nossa humilde vitrola, saiam às vozes, a voz melodiosa de um em contraste com a voz seca do outro e cantavam:

"Eu quero é ir-me embora, eu quero dar o fora

E quero que você venha comigo

Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não agüento, você está tão curtida

Eu quero é tocar fogo neste apartamento, você não acredita”.

Eu só conseguia prestar atenção na música e estava parado em frente à mesa - em que meu pai comia rápido e sem prestar muita atenção no que eu fazia - há alguns minutos até que minha mãe reparou e me disse:

-Você chegou tão quieto, e está aí pensando na morte da bezerra, sem falar que hoje chegou mais tarde o que está acontecendo menino?

- Nada.

Respondi meio atordoado pensando na música e em minha

amiga amada.

- Você só pode estar namorando não é?

Completou minha mãe já se rindo da minha cara de surpresa e ratificação

- Vá logo lavar as mãos para poder comer

Fiz o que ela disse, almocei, lavei os pratos peguei minha chuteira e a minha bola e fui para a praça ali perto me encontrar com meus colegas de escola para o tão esperado futebol achando que enfim iria me esquecer daquela linda moça um ledo engano sua imagem me perseguia a cada movimento e curiosamente tive um desempenho melhor do que o habitual todos me perguntavam o que eu havia tomado para melhorar meu rendimento da noite para o dia, acabou o jogo e fui logo para casa tomar um banho gelado para acalmar meu ébrio coração, nem mesmo a água fria adiantou eu só pensava nela e agora exageradamente cuidava beijar lhe os ingênuos lábios, só havia algo a fazer ir dormir logo para vê-la na manhã seguinte na escola e foi o que eu fiz na verdade tentei fazer, pois cada vez que eu fechava os olhos eu a via sempre mais bonita do que na última vez em que a pensara e assim fui me compelindo até por volta das duas da manhã quando enfim o sono começou a me dominar.

Capitulo II

Levantei-me no dia seguinte, muito antes do habitual acordei por volta de cinco e meia da manhã estava à espera do horário de ir tomar meu banho para depois ir para a escola e enquanto esperava tive a idéia de lhe escrever uma carta, Uma longa carta em que lhe narrasse o ocorrido na véspera então comecei a escrever a carta e os minutos voavam, ao inverso do que habitualmente fazem, quando se espera que eles demorem a passar, olhei para o meu velho rádio relógio eram já seis e trinta da manhã só daria tempo para um rápido banho e colocar o uniforme do colégio e ainda sair em disparada para estar lá antes de o sinal começar a soar, acabei chegando lá cinco minutos depois do sinal o porteiro não quis me deixar entrar logo sem falar com a diretora, mas logo desistiu ao ver mais gente chegando atrasada eu fui correndo para a minha sala estava tudo muito diferente o dia estava meio nublado e não havia quase ninguém naquela manhã eu procurei em todas as partes da sala e não a encontrei ela só chegou dez minutos depois junto com o resto da sala que ironicamente por chegarem atrasados tiveram que conversar com a diretora antes de ir para a sala de aula o professor que sempre chegava antes de todo mundo estava atrasado eu pensei em falar com ela e de repente ele aparece com uma cara não muito boa não fala nada fica um tempo parado e dispara:

- Caros alunos hoje é meu último dia nesta escola.

Ele começa a olhar para a cara de assombro de seus alunos ele continua:

- Por motivos pessoais eu terei de deixá-los, mas não se preocupem a diretora já está providenciando um substituto.

Ele se cala e começa a contemplar as pasmadas expressões de seus pupilos, parou, andou de um lado a outro se sentou e refletiu um pouco e de repente decidiu declarar:

- Tenho que ir agora, acho que vocês podem sair.

E saiu como se não quisesse ir a nenhum lugar os alunos todos estavam quietos e tardos diferentemente daquela baderna habitual de vozes que eram as primeiras horas da manhã, o docente já estava neste instante caminhando no corredor com um pouco mais de celeridade do que quando estava na sala e por fim deixou a instituição de ensino sem ser digno de reparo, na sala todos os alunos haviam saído menos eu e ela me aproximei dela meus lábios estavam secos e senti de repente uma taquicardia ela me olhou eu disse:

- Oi!

Ela respondeu com um olhar amável e sem pensar e agarrou minha mão gelada e úmida eu alinhei meu corpo junto ao dela, pude sentir o seu coraçãozinho batendo tão rápido quanto o meu, e isso fez com que ajustássemos nossas presenças a um intrépido beijo que nos uniu como a dois membros de um corpo estávamos inertes a tudo que nos cercava, distantes do tempo e do espaço e ficamos ali

Não sei por quanto tempo até ouvirmos a estridente voz da diretora e infelizmente despertarmos do nossos entusiasmos de amor já ouvíamos os passos dela cada vez mais perto separamo-nos confiantes de que estaríamos juntos outra vez, mal deu tempo de me afastar e a diretora enfim chegou à sala olhou o lugar quase vazio e me perguntou onde o Sr. Moraes (o nosso atordoado professor) estava eu não soube responder ela saiu também abalada e dentro de vinte minutos voltou anunciando que iríamos ser dispensados mais cedo naquele dia, comemorei a notícia e em meia hora saímos juntos da escola e fomos até a praça que ficava localizada a duas quadras da casa dela estivemos ali trocando carícias entre nossos recentes corpos e sonhos mútuos em espírito.

Capítulo III

Fui acompanhá-la até em casa chegamos ao portão ela me recomendou que eu não me atrasasse no colégio no outro dia e nos despedimos eu a abracei forte e a beijei e sai andando feliz pelas ruas que se seguiam completamente inebriado de um ardente amor continuo andando e por fim chego à avenida mais agitada da cidade e já estou bem perto de casa examinei bem os dois lados da rua e embora o sinal estivesse fechado resolvi atravessar de repente inesperadamente surge um veículo vindo rápido em minha direção pensei em correr, mas minhas pernas simplesmente não respondiam aos meus comandos ainda vi uma luz e depois devo ter desmaiado com o impacto da batida.

Abri os olhos sentindo um forte odor nauseabundo olhei para a parede e reparei no imenso relógio circular que marcava 11h50min eu tinha dormido demais e ainda sem saber por que tive a sensação de que deveria estar no colégio naquela manhã então quase que involuntariamente fechei meus olhos semi cerrados e virei meu corpo lateralmente senti uma dor descomunal, todavia me senti tão cansado que voltei a dormir. Acordei horas depois novamente sentindo aquele cheiro estranho o relógio indicava 19h48min dessa vez uma luz amarelada me incomodava atentei nas paredes e vi que elas estavam descascadas com certeza não eram as paredes lá de casa que há pouco tempo haviam sido reformadas olhei para o lado e vi outra cama e um senhor sobre ela ingeria uma branca sopa, do outro lado outra cama, outro senhor e outra sopa onde eu estou comecei a pensar, de súbito uma charmosa senhora de uniforme branco encosta ao lado da cama em que estou e com um sorriso me pergunta:

- Tudo bem mocinho?

Ainda estonteado eu retribuo a pergunta com outra:

- Onde eu estou?

Ela continua sorrindo e explica:

- Você está no hospital Santa Isabel...

- Hospital!

Interrompo a não acreditando no que acabo de ouvir.

- Sim você foi atropelado ontem.

Ela retoma de forma serena sua explicação e naquele momento seu sorriso constante já me incomodava ela ainda continuou falando, porém, eu só prestava atenção às palavras hospital e atropelado se intercalando na minha mente nauseada

- Podemos servir o seu jantar agora?

Ouvi não sei como a pergunta da enfermeira que continuara a falar alguma coisa sobre a importância da alimentação e concordei maquinalmente balançando a cabeça o jantar foi servido logo depois até me animei, contudo não consegui comer muita coisa, as horas a partir deste momento demoraram a passar eu estava literalmente perdido num hospital quis ir embora e tentei mover minhas pernas, todavia elas doíam muito, e agora o que fazer? Perguntava-me desesperado, respirei fundo e tentei dormir um pouco mais fechei os olhos, entretanto o sono não vinha e agora chegava a minha mente imagens dela, uma linda jovem cheia de vida, me concentrei em seu rosto e vi que ela parecia a Estela minha amiga de sala no colégio, mas por que eu pensava tanto assim nela? Eu já não sentia dor ela me ocupava todos os pensamentos, agora eu só queria descobrir este mistério que não me deixava dormir em vista disto estava quase que totalmente escuro (havia ainda uma luz branca acessa que me permitia enxergar novamente ao relógio que apontava 00h20min) como a hora havia voado enquanto eu pensava nela, comecei a de repente sonhar que tínhamos um encontro casual e ela vinha em minha direção e eu só prestava atenção em seus ondulados cabelos balançando e em seus róseos lábios movimentando se rumo aos meus, mas a imagem começava a ficar menos nítida em minha mente é o sono que me vem aos poucos e vai me tirando aquela sensação que me alivia, o frio aumentava tanto quanto o meu sono, a imagem ia se desfazendo aos poucos da minha cabeça contra a minha vontade, acordei horas depois e tudo estava escuro, me sentia com uma insuportável dor de cabeça e com certa fome tentei ver as horas no relógio (que já era o meu passatempo favorito) naquela cegueira não pude ver nada e não havia nem mesmo uma vela que fosse ali por perto, sem sono algum me determinei a esperar acordado o dia nascer (o que não demorou muito) o sol em poucos instantes iluminou as paredes e janelas até invadir o quarto em que eu estava já era 07h00min da manhã.

Capítulo IV

Quando um médico veio me ver, ele me olhou surpreso e disse:

- Bom dia! Já está acordado.

- Bom dia! É que perdi o sono.

- E então como você se sente hoje?

- Bem melhor, estou apenas com uma pequena dor de cabeça e uma leve fome também.

- A dor é normal já que você bateu a cabeça na queda.

Quando ele disse isso coloquei a mão na cabeça e percebi que ela estava enfaixada e ele continuou:

- Não se preocupe está tudo bem dentro de uma semana mais ou menos você estará totalmente recuperado.

- Totalmente.

- Bem o corpo sim a sua mente vai te dar um pouco mais de trabalho.

- Como assim doutor.

- Pode me chamar de Gabriel, na verdade você teve um trauma cerebral e devido a isso você desenvolveu uma amnésia anterógrada, ou seja, você não deve se lembrar de nada que te aconteceu nos últimos dias.

- Bom eu me lembro da minha vida toda.

- E do acidente você lembra-se de alguma coisa?

- Agora que o senhor perguntou não consigo lembrar nada disso e até quero saber o que me aconteceu.

- Já que eu tenho ainda um tempo eu posso te contar se você quiser.

- Claro doutor, digo Gabriel.

- Você estava na Avenida Getúlio Vargas foi atravessar a rua e um maluco veio na contramão e te atropelou e, aliás, acho que você o conhece

- Quem é ele?

- Um tal de Richard Moraes, professor de português do colégio que você estuda

- O professor Moraes

Repeti surpreso eu gostava das aulas dele era o nosso melhor professor a turma toda gostava dele

- Sim ele te atropelou e fugiu, mas, foi pego a caminho do aeroporto

- Ele está preso?

- Sim.

- O professor Moraes é uma boa pessoa tenho certeza que ele deve ter um bom motivo para ter fugido, assim que melhorar eu posso retirar a queixa...

- Na verdade não, ele foi preso por falsidade ideológica e formação de quadrilha... Está em todos os jornais do estado.

- Não posso acreditar nisso

- Pois é a vida é assim mesmo cheia de desilusões meu jovem, mas, agora eu tenho que ir.

- Espera Dr. Gabriel

- Sim

Ele encostou-se à cabeceira de cama.

- Sobre a amnésia, eu vou ficar assim para sempre

- Na verdade acho que em alguns meses tudo volta a ser como antes, desde que você se alimente bem, você consegue fazer isso?

- Claro

- Ótimo então vou pedir à enfermeira que te traga o café da manhã

- Obrigado!

- De nada

E saiu me deixando muito mais aliviado, a partir desse dia os dias voaram e em menos de dez dias eu recebi alta e estava liberado para ir para a casa, como o Dr. Gabriel havia me dito naquele dia.

Embora as coisas estivessem melhores eu ainda a tinha sempre em minha memória e ainda sem saber por que, em casa eu estava apenas recuperando-me das poucas lesões e hematomas que restavam em meu corpo e a minha cabeça já havia sido desenfaixada, contudo, minha mente não havia melhorado em nada e meus pais animados com a minha recuperação queriam que eu voltasse a estudar já na próxima semana eu estava normal, só não lembrava o que tinha me acontecido na semana do acidente. Em casa as horas passaram ainda mais rápido do que no hospital e eu já teria de voltar ao colégio na manhã seguinte.

Capítulo V

Era segunda-feira de manhã eu estava pronto para ir para o meu primeiro dia de aula após o ocorrido estava muito nervoso como se fosse aquele meu primeiro dia na escola e não deixava de ser.

- Pegou tudo.

Meu pai me perguntou. Geralmente ele já teria ido trabalhar, mas, hoje avisou que iria mais tarde, pois teria que levar seu filho ao colégio, eu sempre ia sozinho a pé já que eu estudava a quatro quadras de casa, contudo, o acidente havia deixado meus pais um pouco paranóicos eu pedi para ir sozinho e meu pai quase me bateu me deu um sermão sobre os perigos de um garoto andando sozinho na rua e me perguntou se eu queria ir parar num hospital de novo, então eu aceitei a carona que ele ia me dar. Na minha volta do hospital meus pais tentaram ser os pais super protetores e finalmente depois de seis meses tudo voltou a ser como era, bem digo quase tudo na escola muita coisa havia mudado, a diretora pediu demissão e contrataram uma mulher muito mais jovem e linha dura que agora obrigara a todos os alunos a seguirem suas desumanas normas, o quadro de professores foi reformulado e agora só tínhamos professores com pós-mestrado e que não sabiam se expressar e muito menos nos ensinar muitos alunos tinham mudado de turno, escola e até de estado ou país após a prisão do professor Moraes entre eles minha amiga Estela, o meu primeiro dia na escola foi bom apesar das mudanças todos estavam me tratando como um rei após o acidente, (algo que eu não merecia, mas, gostei muito) com o passar das semanas eles me perguntavam detalhes do acidente e eu tinha que explicar que não lembrava nada ainda e aí eles voltaram a me tratar como antes e assim foram passando os meses e eu ainda sem ela, mesmo longe ela não me saía do pensamento e após sete meses finalmente recuperei totalmente a memória e aí chorei muito por imaginar o meu amor longe de mim. Os anos passaram urgentes e finalmente eu com os meus vinte e cinco anos decidi sair de casa para viajar pelo mundo, após terminar o colégio, fazer faculdade e me formar em turismo eu resolvi sair mundo a fora com uma mochila nas costas e conhecer o continente europeu, a verdade é que mesmo após anos eu não havia ainda esquecido ela: o meu verdadeiro amor e me lembrava dela dizendo que sonhava conhecer o mundo e especialmente Madrid na Espanha, eu faria um tour pela Europa partindo para Londres, Edimburgo, Dublin, Paris, Berlim, Amsterdã e para finalizar Madrid seriam seis meses de muita emoção junto com alguns amigos que ficariam em Londres, fato que meus pais desconheciam, eu já tinha quase tudo pronto só me restava comprar as passagens e começar a viagem.

Após seis meses minha viagem se prolongou e fui parar na Itália numa província ao sul da Sicília chamada Enna, lá estava eu sem dinheiro e sem noção do que faria no futuro então tive que ficar lá trabalhando em subempregos para garantir minha existência, apesar de tudo eu adorei os anos na Itália, fiquei lá por três anos e até conheci uma moça encantadora chamada Isabella nós namoramos por dois anos e terminamos por que eu quis voltar ao Brasil, pois não tinha o “permesso de soggiomo de lavoro” ou a permissão de residência e de trabalho

e também já estava cansado de viver lá, sentia muita saudade da comida do calor dos brasileiros e principalmente dos meus pais de vez em quando eu ligava para eles para informar minha situação, nós sempre nos emocionávamos nestes telefonemas, por isso eu só ligava para eles raramente e agora seria outra ocasião para lhes informar que eu estava voltando depois de uma viagem de seis meses que se estendeu para quarenta e dois meses e agora iria finalmente terminar, já fazia dois meses que eu não dava notícia a eles deveriam estar preocupados, mas, ficariam felizes ao saber que seu filho iria voltar para casa.

Capítulo VI

A volta foi tranquila e às treze horas do dia vinte e seis eu estava desembarcando na minha querida cidade demorei mais meia hora para chegar ao portão de casa, quando abri minha mãe veio correndo ao meu encontro me abraçou com toda a força e me encheu de beijos, meu pai esperou eu entrar em casa e me apertou muito em seu abraço emocionado, eu estava muito feliz em finalmente estar em casa passei o dia inteiro contando algumas das minhas aventuras na Europa para os meus pais que riam de algumas me davam broncas em outras e as horas foram passando eu estava muito cansado da viagem por isso fui dormir mais cedo, no outro dia acordei animado e na cozinha vazia decidi fazer uma omelete italiana olhei todos os armários e não encontrei o queijo, agora vou ter que ir ao mercado havia um mercadinho a duas quadras de casa, deveria ter queijo lá, abro devagar a porta para não acordar meus pais que ainda dormem avanço devagar e pulo o portão para não fazer muito barulho fui direto ao mercado comprei o queijo, chocolate e alguns ovos (só para garantir) fui ao caixa paguei, peguei minhas compras, fui para casa estava já no portão e aí uma visão que me deixa completamente desconcertante era ela a minha entorpecida paixão era sim eu reconheceria aqueles olhinhos cor de amendoim era Estela que aos poucos foi se aproximando e enfim chegou a mim.

- Oi! Como você está?

Ela me disse e eu fiquei sem ação, contudo respondi:

- Eu estou bem, só não esperava te ver tão cedo

- Se quiser eu posso voltar depois.

- Não, eu queria mesmo te ver.

- E o que você queria tanto falar comigo?

- Eu preciso te dizer...

- Olha agora eu tenho um compromisso, mas depois das seis eu vou estar livre

- Por mim tudo bem

- Claro eu passo aqui as seis então.

- Combinado então.

Eu passei o resto do dia esperando chegar o horário combinado com ela estava pensando no que lhe dizer. Enfim chegou a hora e eu saí lá fora para a esperar ela chegou na hora marcada começamos a andar sem destino pela região ela me perguntou por que eu não fui ao colégio no dia seguinte eu lhe expliquei tudo sobre o acidente, o professor Moraes, a amnésia, o colégio, a faculdade e a viagem a Europa (principalmente a visita a Madrid) ela me contou tudo sobre a sua vida desde então e chegamos a velha praça que ficava localizada a duas quadras da antiga casa dela ali olhamos a lua eu me aproximei e tentei beijá-la ela me impeliu e disse:

- Não posso eu vou me casar amanhã

- Sério!

- Sim eu voltei para cá há dois anos com o meu namorado na esperança de te encontrar e me livrar dele, aí eu soube que você estava na Europa fiquei meio decepcionada e tentei enrolar meu namorado não deu certo hoje nós somos noivos e mês que vem a gente vai casar.

Me aproximei dela olhei os seus olhos tristonhos e de novo quis beijá-la.

- Você não ouviu?

- Sim, mas, não ligo só quero te dar o último beijo

- Tudo bem

E ali nos beijamos depois de tantos anos eu voltei naquele momento a ser criança aquela criança apaixonada ficamos nos beijando por algum tempo até ela afastar-me gentilmente. Ainda ofegante sussurrei em seu ouvido:

- Vai então, vai ser feliz!

Ela me olhou quase chorando como uma criança que não quer separar se de seu pai e tentou agarrar minha mão, desta vez eu tentei me afastar dela e disse lhe:

- Desculpe não posso fazer isso, adeus!

- Você ainda me ama?

- Sim, nunca deixei de te amar, mas agora você tem que ir.

- Não, se você não quiser.

- Adeus, meu amor!

Beijei-lhe os frios lábios e esse foi nosso último beijo continuei caminhando sozinho a caminho de casa peguei propositadamente o caminho mais longo e fui andando devagar e contando meus passos imaginando o que eu poderia ter mudado naquele instante do nosso último beijo e segui caminhando e pensando até a ponte Ernesto Dornelles olhei a clareza das águas em meio à escuridão eu já sabia o que deveria fazer.

Luiz Henrique Santos
Enviado por Luiz Henrique Santos em 12/05/2011
Código do texto: T2966647
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