Chegou o Amor

Ele se considerava protegido dos males do amor, imunizado contra esse sentimento que fazia os homens mais fortes tombarem como se atingidos por um raio e chorarem como se tivessem voltado a serem meninos pequenos. Andava de cabeça erguida olhando para as mulheres apenas para escolher aquelas que melhor satisfaziam seus desejos de homem. Acreditava sempre em seu poder sedutor, acreditava que nunca tombaria, ele não, afinal ele não era um bobo, era um homem e se alguém tombasse não seria ele e sim alguma donzela que se perderia em seu olhar de predador.

Mas ele estava errado. Ele não sabia da verdadeira força do amor por que ainda não sabia o que era na verdade esse amor. E, como tudo um dia se revela em nossas vidas, o amor se revelou a ele.

Foi quando tentava mais uma de suas conquistas, escolhia mais uma de suas vitimas, quando percorria com o olhar as faces das mulheres em busca de uma nova presa. E foi nesse momento que ele a viu, uma mulher que poderia passar despercebida aos olhos de outros homens, mas que aos seus era a dama mais bela que alguma vez já andou sobre a Terra. De repente ele se deu conta que caíra em uma armadilha, agora ele era a presa.

Não se contendo, ele foi ao encontro daquela que o atraia tanto e, pela primeira vez em sua vida, as palavras faltaram à sua boca. Ficou paralisado e pálido, podia se pensar que era uma estatua de mármore se não fosse por seu intenso suor e sua respiração ofegante.

“O que deseja?”, era a voz de sua amada perguntando assustada frente aquela estranha aparição. E aquela voz apenas serviu para cativá-lo mais, encantá-lo mais e atraí-lo mais. Mas as palavras ainda insistiam em não sair, ele queria dizer apenas que queria dar e receber amor, queria dizer que sua vida agora era dela, queria dizer que o mundo havia parado no instante em que a vira.

“Eu queria apenas...”, começou ele finalmente, “...apenas me apresentar”.

E assim os dois se conheceram. Conversaram um sobre o outro. Mas ele não revelou a ela sua verdadeira intenção, tinha medo que ela o rejeitasse assim como ele próprio havia rejeitado todas as mulheres de sua vida.

Então eles se despediram e ele partiu, mas não partiu sozinho. Aos poucos se deu conta que uma pequena semente havia caído em seu coração e no passar dos dias essa semente brotou provocando um comichão silencioso em seu peito. Ele podia sentir enquanto as raízes penetravam fundo em sua alma, os ramos percorriam todos os cantos de seu coração e também sentiu espinhos, espinhos que lhe roíam as entranhas não o deixando dormir.

Seus amigos estranhavam sua mudança. Onde estava aquele garanhão? Onde estava aquele que se dizia ter o corpo fechado para o amor? Talvez tivesse sim o corpo fechado, mas o amor não é uma coisa apenas da carne, é algo mais profundo que nem todos os poetas do mundo conseguiram definir por mais longas que fossem suas noites de insônia.

Seu único pensamento era ela. Sonhava com a doçura de sua voz. Via a imagem de seu rosto em todas as mulheres que cruzavam seu caminho. Queria deitar em seu colo e sentir seu abraço. Suspirava como meninas adolescentes. Agora ele sabia o que era estar apaixonado.

A única saída era ir à procura dela. Ele a procurou em todos os lugares desesperado por achá-la, louco para dizer a ela o que não tivera coragem de dizer na primeira vez que a viu.

Então ele a encontrou e descobriu que ela também o procurava, que ela também fora enfeitiçada. De fato ela havia sentido a febre dos apaixonados, o calor daqueles que se descobrem não poder mais viver sós nesse mundo e havia desejado como nunca antes estar abraçada junto a alguém que acalentasse o clamor de seu intimo.

Agora a procura havia acabado. O amor mostrou mais uma vez ser insuperável e os dois apenas se olharam e viram um no outro a promessa de uma cumplicidade que iria durar a vida toda.

Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 29/05/2011
Reeditado em 30/05/2011
Código do texto: T3001625
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