CHEGOU E FICOU

Naquele domingo, sem muito que fazer, sai para espairecer as idéias. Era noitinha, noite de luar. O céu estrelado, propícia para paquerar. Cheguei naquela praça. Lá já havia vários casais a namorar. Sentei num banco sozinho, um pouco afastado de todos observando o movimento. Ao longe vi um casal que parecia tão romântico , os dois conversavam com tanta felicidade. Passei a pensar em mim. Estava sozinho em casa e me sentia sozinho ali.

Resolvi me mexer. Sai dali. Comecei a nadar pela praça como se estivesse procurando alguém, mas não era verdade. Na verdade quem quer algo precisa sair a procura. Foi o que fiz. A primeira vista tudo era como antes, igual as outras vezes que estive ali, mas, no ar, eu sentia um cheiro diferente. Era doce, muito gostoso, e, quanto mais eu caminhava naquela direção ficava mais forte. Algo me dizia que eu teria uma surpresa. Foi o que aconteceu. Andei mais um pouco e me deparei com aquela garota sentada num banco. Ao vê-la, meus olhos se encheram de alegria, meu coração disparou, minhas pernas perderam o controle, não consegui mais andar, por pouco não cai. Sentei num banco ali, perto do dela de onde conversava com as amigas e que passou a me olhar de canto de olho.

Seus olhos diziam para mim, vem cá, preciso te conhecer. Eu no meu canto ainda anestesiado com tanta beleza não pensava noutra coisa. “Aquela menina é muita areia pra meu caminhãozinho, olha seus cabelos encalorados, seus olhos, como são lindos. E seu corpo, come é sedutor. Não, aquela mulher não é para mim”, mas não podia deixá-la sair dali sem que falasse com ela. Por um bom tempo fiquei nesse dilema. Ela continuava me olhando disfarçadamente.

Eu daqui com medo, vergonha, sei lá o que era aquilo e ao mesmo tempo me preocupava, pois a qualquer momento ela poderia ir embora sem ao menos eu saber de onde ela era. Naquele momento meu telefone tocou. Era minha mãe pedindo que eu levasse a chave da casa porque ela tinha chegado da viagem e estava de fora. Tive que ir embora. Quando levantei para sair, a garota fixou um olhar que me passava a segurança que a gente ainda ia se ver. Eu sem muito acreditar naquilo fui para casa muito triste. No caminho meus pés parecia flutuar, meu fôlego parecia pesado, meus olhos só via a face daquela menina, parecia estar estampado no rosto de todas as pessoas que passavam por mim. Cheguei em casa cumprimentei minha mãe e meu pai. Eles acharam-me estranho porque sabiam que sempre que chegavam de viagem eu ficava muito alegre por conta dos presentes que traziam para mim. Aquilo não fazia mais sentido para mim. Só pensava na garota da praça. Preocupada com meu comportamento mamãe pergunta:

__O que foi, filho? Conta o que está acontecendo com você.

__Nada demais mãe. É melhor eu ir dormir, já é tarde e amanhã tenho aula cedo.

Dizendo isso, sai apressado para o quarto e mamãe ficou conversando com meus outros irmãos, contando-lhes as novidades da viagem. No quarto a minha angustia continuava e a cada instante parecia aumenta e noite parecia não passar. Aquela foi a noite mais comprida que já tive. Na verdade não dormi. Finalmente amanheceu. Levantei antes que alguém me chamasse. Minha Irmã ao me vê, estanhou e perguntou se tinha caído algum bicho em minha cama, eu respondi que fora o bicho amor e que me deixara inquieto e sem sono.

__Como assim, o bicho do amor? Pode me contar qual foi a menina que mexeu como você?

__agora não, é melhor a gente ir logo para a escola, se não chegaremos atrasados.

Entramos no carro e fomos á escola, minha mãe me olhava pelo retrovisor enquanto eu olhava a rua pela janela imaginando como seria bom se eu encontrasse aquela garota novamente na praça. Chegamos à escola. Entramos. Fomos direto para sala, como de costume. Cumprimentei meus amigos e ficamos esperando a aula começar. Do meu lado tinha uma cadeira vazia. Enquanto todos se movimentavam na sala, eu continuava distraído olhando pela janela quando ouvi uma voz suave perguntando:

__Eu posso sentar aqui?

Quando me virei, quase que cai da cadeira, meu coração quase que explode de surpreso, minha mente em frações de segundo viajou pelo universo inteiro e a garota ali esperando minha resposta e eu:

__Popopode. __instantaneamente ela me perguntou:

__Você é gago?_Eu fiquei com um nó na garganta tentando disfarçar o nervosismo, me preparei e respondi.

__Claro que não, apenas fiquei surpreso com sua presença aqui. Não esperava te encontrar tão rápido assim, pois nunca tinha te visto neste bairro.

__Eu estou de passagem por aqui. Vamos passar um mês apenas. Meus pais trabalham naquele circo instalado no bairro. Enquanto isso, vou estudar aqui.

Quando ia tentar saber se ela lembrava de mim da noite anterior ela me surpreendeu:

__Você é o garoto de ontem na praça!?

__Sim.

__Por que você me olhava tanto? Era como se você quisesse me dizer algo. Estou errada?

__Não, realmente eu, ali, queria te dizer algo.

Naquele instante a professora entra e Amanda acena dizendo que depois a gente conversaria e eu acenei confirmando.

A professora começou a explicar o assunto, por sinal bem interessante. Nesse meio tempo bate na porta um senhor e a professora atende, quando ela retorna, chama a Amanda, pede que pegue o material e acompanhe o pai. Eu fique aflito e sem saber de nada. A aula tinha acabado para mim a partir daquele momento eu não conseguia me concentrar, só pensava em Amanda e no que poderia ter acontecido. Terminou a aula fui para casa.

À tarde resolvi ir ao circo e aproveitar para investigar o que acontecera para que Amanda tivesse saído daquele jeito. Para minha surpresa não consegui nada. Voltei para casa mais triste do que fui, porem restava a esperança de encontrá-la no dia seguinte na escola. Esperei ansioso o outro dia e fui à escola. Cheguei lá e fui direto para sala, mas ela não estava lá, sentei e fiquei esperando, passou o tempo que restava para começar a aula e nada dela chegar. Foi outra manhã de angustia.

Depois da aula quando cheguei à minha casa, na hora do almoço não comi quase nada, pois a dor no meu coração era tanto que não cabia no meu peito. As pessoas que estavam perto de mim percebiam quanto eu sofria.

À tardinha fui ao circo outra vez. Fiz outra tentativa de encontrá-la. Dessa vez tive sorte, quando cheguei ao circo, de longe a vi. Fui direto falar com ela que me recebeu muito bem. Eu perguntei o que acontecera para que ela saísse no meio da aula daquele jeito e não voltar mais. Ela me disse que uma de suas tias falecera e eles tiveram que ir ao velório. Disse-me também que não iria mais para a escola porque o circo onde ela e seus pais trabalhavam ia mudar de cidade. Nessa hora eu esfriei porque ela nem se quer me deu chance de dizer o que eu sentia por ela, pois seu pai a chamava e parecia muito irritado, apenas me abraçou, como se a gente se conhecesse há muito tempo, deu adeus e saiu, eu voltei para casa.

Passou muito tempo, e o sentimento que nasceu em mim depois que conheci aquela garota nunca desapareceu. Conheci outras garotas, me casei, mas nunca mais senti por alguém o que senti por ela. Hoje sei que uma verdadeira paixão é única e a gente sente só uma vez e nunca mais. Ah, como eu queria encontrar Amanda outra vez.

Raimundo Farias. Paragominas, 30 de junho de 2011.