086 – A CORTINA E A BRISA...

A noite se fez longa e vazia, minha alma também vazia desencanta, estirado no sofá, pensamento a vagar em nada a me levar, me sinto só, longe de tudo, longe de mim, ouço lá fora a brisa por entre as ramagens ranger a sua sinfonia, quando olho pra janela abraçada nela a longa cortina branca com seus detalhes azuis baila ao sabor da brisa.

A cortina suavemente arfa, tremula, onda azulada se levantando e abaixando em falso requebros provocativos para uma janela toda estática, emudecida e maravilhada naqueles volteios cadenciados pela brisa, meus olhos cansados se levando no ir e vir adormeço naquele balançar, onda azulada a me levar...

Meu mundo enigmático emergindo de entre as trevas e antigas cores recuperando todo o seu viço, um sol avesso da terra para o céu ilumina e destaca vagas sombras disformes e irreconhecíveis, vidas palpitantes que a tênue luz reconforta e revigora em relampejos.

Inesperadamente uma sombra se destaca pela beleza e suavidade da sua luz e decididamente caminha na minha direção, interrogo as minhas lembranças na procura de uma imagem parecida pra desafogar os meus devaneios e ela mais e mais se aproxima, e quanto mais se aproxima suas feições vão se delineando claramente, seus cabelos longos encaracolados ao vento a bailar, seus olhos claros, sua face por inteira a se mostrar, meu coração desespera, palpita, o ar me falta, é ela, que saudade, que alegria, felicidade perdida agora reencontrada, flores perfumando a brisa tépida que a tudo acaricia... De braços abertos vou ao seu encontro, quero abraçá-la, beija-la, matar esta saudade que há tanto tempo me maltrata...

Ouço sua voz chamando por mim, sorrindo ela me abraça e surpreendentemente em nada se faz em meio aos meus abraços, parece que a saudade e a loucura produzem os mesmos delírios...

Em sobressaltos desperto, murmuro o nome dela, o meu olhar a procura por todos os cantos da sala, a realidade é indesejada e a solidão insiste, meus olhos na janela, a cortina imóvel em seu canto, o desencanto prevaleceu, mas eu vou ficar aqui esperando que a brisa volte a afagar a cortina, de novo adormecer, sonhar e com ela outra vez encontrar...

E é tão pouco o que desejo...

Mas é o bastante para que haja felicidade em minha vida...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 29/07/2011
Reeditado em 29/07/2011
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