O Amor de Clarice. Parte - II




E a vida de Clarice foi mudando.
O desembargador conseguiu nomear Fernando o tutor de Clarice. Junto com as autoridades, abriram um processo contra os dirigentes do orfanato, que entre outras acusações, presos por abuso a menores. Agora Clarice estaria segura e poderia ter uma vida feliz ao lado de Fernando.
Aos alunos e alunas de Fernando adoravam Clarice. Sempre estavam lhe fazendo mimos. Quando chegou o aniversario dela, foi feita uma grande festa. Todos compareceram e levaram presentes. Clarice estava encantada. Havia sido o aniversário mais lindo de sua vida.
A Sra. Zilda a amava. Clarice passou a chamá-la de tia e todas as semanas iam as duas fazer compras.
Fernando voltou a dar aulas na Universidade. Precisava de um melhorar sua renda para poder dar mais conforto a Clarice. Também, matriculou-a em uma boa escola. Os dois saiam pela manhã e voltavam ao meio dia.
Na parte da tarde, Fernando dava suas aulas particulares de dança e piano. A Noite ensinava musica e dança a Clarice.
Fernando havia mudado completamente seu modo de vida. Trajava-se bem, estava sempre de bom humor e o mais importante, havia voltado a sorrir. Ele era um homem muito simpático, moreno e alto.
O Natal foi lindo para eles. Arvores, ceia e trocas de presentes... Só que os presentes que Clarice deu a Fernando, foram comprados pela Sra. Zilda.
No aniversario de Clarice, foi uma festa e tanta. Fernando convidou suas alunas e todas compareceram. Foi um dia inesquecível para aquela doce menina.
E assim os anos foram passando.
Clarice foi aprendendo a tocar piano e dança. Por outro lado Fernando a cada dia que passava mais se afeiçoava a ela. Estava feliz. Muito feliz mesmo.
Durante os anos seguintes, Clarice demonstrava que seria uma grande pianista. Fernando ficava surpreso com a sua evolução.
Então, quando ela já estava com 13 anos, ele a inscreveu num concurso de pianistas. Queria ver até onde ela seria capaz de chegar com sua técnica.
Não deu outra. Clarice foi aplaudida de pé. O publico aplaudiu por mais de cinco minutos a sua apresentação. O júri não teve como não lhe dar o primeiro lugar.
Ali começou a carreira de pianista da nossa querida Clarice.
Fernando estava orgulhoso ao ver Clarice alcançar os primeiros degraus que ele sabia ser de grande sucesso em sua vida.
Logo ele passou a ser solicitada a fazer apresentações em vários eventos e sempre acompanhada de Fernando.
Assim a menina que um dia estava desamparada, suja, com fome e sem ter onde e como sobreviver, hoje estava linda e contava com todo apoio daquele homem tão dedicado.
Cresceu ao lado de Fernando que se esmerava em atenções.
Os anos passavam e já aos 17 anos, Clarice sonhava em um dia percorrer o mundo.
Um dia, numa bela tarde de verão, algo aconteceu que a deixou pensativa.
Já havia observado que uma senhora que era aluna de Fernando em aulas de piano, ficava com muitas insinuações. Clarice já não era mais uma criança e sabia muito bem diferenciar amizade de uma insinuação. E o que percebeu naquela tarde a encheu de ciúmes.
Começava ali um conflito em sua vida. Antes era agradecimento e reconhecimento pelo homem que a fez chegar aonde chegou. Agora aquele ciúme parecia querer levá-la por um caminho que não saberia como administrar.
Preferiu guarda silêncio sobre seus sentimentos. Era a melhor coisa que poderia fazer. Tinha medo de estar enganada sobre o que sentia e por outro lado causar embaraços em Fernando.
- Meu Deus! O que se passa comigo? Ele me ver como uma filha, apesar de me tratar como se eu fosse alguém que apenas ajudasse. O que devo fazer? – pensava enquanto engolia em seco o ciúme daquela senhora tão bonita e envolvente.
Para tranquilidade de Clarice, percebeu que Fernando evitava educadamente as investidas daquela senhora.
Mais um ano passou e Clarice foi convidada por uma companhia a ir se apresentar em Paris.
- Claro que deve ir, querida. Afinal foi para isso que eu preparei você.
- E como você ficaria aqui? Porque não vem comigo?
- Sabe perfeitamente de minhas obrigações. Tenho a Universidade e meus alunos.
- Ora Fernando, isso não é desculpa. Serão somente quinze dias...
- Eu sei como é isso. Quinze dias que podem se transformar em muitos mais dias. Está decidido. Você vai e vou esperá-la retornar.
Clarice não queria ir sem a companhia de Fernando. Mas ele a estava empenhado para que ela fosse. Por outro lado queria dar-lhe este presente de vê-la em um recital em outro país.
Por fim concordou em ir a Paris.
No dia de sua viagem o coração de Clarice estava apertado. Estava difícil deixar Fernando e seguir viagem. Por duas vezes pensou em desistir, mas lembrava de que havia assinado um contrato. Isso mudava tudo.
Quando se despediu de Fernando no aeroporto, ela chorava. Estava tremula e gelada. Dentro dela gritava uma voz: “Diz a ele que tu o ama”.
- Não posso... Não poderia dizer tal coisa porque tenho medo dele não aceitar – pensava ela quase que em voz alta, sentindo desespero.
- Você falou alguma coisa querida?
- Não. Apenas pensei em algo.
- Vou esperar ansioso por noticias suas. Vão ser os quinze dias mais longos de minha vida.
- Para mim eles vão ser como se o mundo estivesse em trevas. Pela primeira vez me separo de você e isso está me deixando muito triste.
Mais uma vez se abraçaram antes que ela fosse para a sala de espera de embarque.
Clarice estava angustiada. Queria dizer a ele o quanto o amava. Queria poder gritar seu nom
e bem alto dizendo que o amava.
Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 12/09/2011
Reeditado em 16/03/2012
Código do texto: T3215684
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