Setembro

Ela havia tido um dia difícil. Descobriu que o cara, a quem ela supostamente amava, teria dado em cima de sua amiga. Virou um copo de Passaport por completo, porém cuspiu logo em seguida. Decidiu ir para festa à noite e beijar o primeiro que insistisse o suficiente. Trajou uma calça jeans colada, uma blusa atrevida e um salto deslumbrante. Sentiu-se segura, galanteadora e completamente dona de si.

Marcelo havia sido o guerreiro disposto que passara duas horas aos pés dela, implorando que não o deixasse passar o restante da festa sozinho. Ela lembrou-se do copo de uísque que entornara mais cedo dando-se conta de que odiava bebida. Fez o pobre rapaz jogar o copo caro no lixo, ir em casa, tomar um banho e escovar os dentes. E sim, ele o fez como ela o restringiu. Quando Marcelo voltou, o canto mais limpo era exatamente o local onde ela deveria estar esperando. Não fora a primeira vez que isso acontecia com ele. Marcelo era um cara persistente, o típico brasileiro que não desiste nunca. Baixou a cabeça, caminhou até o quiosque mais próximo e comprou outra bebida. Sumiu posteriormente.

Ela vagou pela festa sem muitas pretensões. Deparou-se com um amigo do cara que havia quebrado seu coração. E mesmo tendo todos os motivos para vingar-se naquele momento, desistiu dessa ideia e deixou-se levar pelo papo maroto de “Mulher de amigo meu tem que ser bem cuidada. Estou de olho!”

Cinco horas da manhã, ele ofereceu-se para deixá-la em casa. Antes disso, percorreram até uma rua mais calma, restrita de qualquer insinuação. Pararam embaixo de uma árvore velha e ele a encostou num carro estacionado próximo ao meio fio da calçada. Ela, tão esperta e inteligente, não havia notado que aquilo se tratava de uma traição, uma traição dupla. Aquele rapaz tinha uma namorada e aquele mesmo rapaz era o melhor amigo do cara que, embora tivesse extrapolado, amava a garota que permanecia entre o carro e dois braços. Todavia, nada era bastante o suficiente para que ‘aquele rapaz’ mudasse de ideia quanto ao que iria fazer.

“Há muito tempo eu queria de dizer uma coisa”, ele disse.

Ela não falou absolutamente nada, agora que tudo fazia sentido em sua cabeça.

“Na verdade, seria bem melhor se eu pudesse lhe mostrar”, o rapaz prosseguiu.

Ela balançou com a cabeça afirmando o que ele havia lhe proposto. Imediatamente, o rapaz a beijou nos lábios, tomando-a por completo em seu abraço mais forte do que nunca. No final, proferiu a seguinte frase:

“Aproveitar cada minuto como se fosse o último…”

Das inúmeras frases de efeito que ela gostava, essa fora a única que com certeza iria permanecer para sempre. E mal ela sabia que, no fim de tudo, essa mesma frase seria exatamente a moral de toda a história.

L R Magalhães
Enviado por L R Magalhães em 22/09/2011
Código do texto: T3234500
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