Porradas Com Luvas de Pelica!

Costumo relatar este episódio aos meus amigos íntimos, e hoje, resolvi compartilhá-lo aqui, com meus amigos de versos. Depois deste dia repensei minha vida, e (tenham a certeza),...me tornei um pouco melhor!

Meu filho caçula aos dezessete anos havia terminado o ensino médio e tentava a faculdade, um emprego. Enquanto isto não acontecia, começou um curso de teatro, uma de suas paixões. Sempre incentivado por mim a buscar seus objetivos, Rô, batalhava por tudo aquilo que acreditava.

Um dia ele chega em casa, me conta que, fora convidado a colaborar com uma ONG que trabalhava com adolescentes carentes e que(segundo ele) acreditava no seu potencial ao lidar com a informática. Muito talentoso, sempre bem humorado, Rô sempre se mostrava disposto a ajudar os amigos ou qualquer um que cruzasse seu caminho e precisasse de ajuda.

Certo disso, Rô me comunica o fato, eu logo de cara não gostei. A ONG fica em um bairro muito distante do nosso. Era totalmente inviável deixar um garoto menor de idade percorrendo por São Paulo até altas horas da noite. Aparentemente Rô aceitou minha recusa e acreditei que estivesse tudo bem.

Sábados e domingos eram sagrados: Escola de teatro em companhia dos amigos, um lanche na rua, bate-papo com as garotas da sua idade, até que certo dia, precisando falar com ele urgente, liguei para seu celular,...fora de área. Então liguei para a escola de teatro que me comunica: - Não, Ronaldo não está aqui, hoje ele está na ONG! Furiosa, (pois, havia dito que não era para ele ir para lá), liguei e constatei. Um pouco mais tranquila uma vez sabendo que estava tudo bem com ele, aguardei sua chegada em casa.

Após as 24:00, Rô chega e começa minha bronca:- Eu já havia te proibido de ir para tão longe, ja havia te dito que não queria você lá. Ele me escuta, tenta se desculpar. - Mas mãe, gosto de estar lá, sei que posso ajudar no trabalho com menores carentes. Gosto de saber que posso fazer algo legal!

Totalmente descontrolada, uso meus argumentos de mãe: - Sou sua mãe, você é menor de idade, portanto, posso te proibir! Continuo falando: - Menor com problemas, não é problema seu! Ele me olha por alguns instantes e em silêncio até que solta a voz. - Pode sim mãe! Você pode me proibir e eu vou obedecer, mas, vou ficar extremamente decepcionado com você, porquê não foi isto que me ensinou. Você sempre me disse,...- 'todos somos responsáveis uns pelos outros", e agora me proíbe de ajudar alguém? Mãe, se todos pensarem como você o mundo estará perdido! Termina com uma frase que me deixou envergonhada:- Onde estiver alguém fazendo algo para melhorar esta sociedade, seja lá onde for e eu puder, quero estar lá, quero fazer parte!

Fiquei meio desconcertada, envergonhada, sem argumentos me calei por alguns segundos até me recompor e respondi gaguejando:- está bem, então tá! Apenas me comunique e mantenha o celular carregado e ligado. Ele me deu um beijo e foi se deitar. Depois deste dia, passei a apoiá-lo até a vender revistas para arrecadar verba para a ONG.

Ronaldo se tornou uma bela história na minha vida que, pretendo relatar em um livro iniciado a dois anos e um ano depois de sua partida deste plano. Uma lição de vida, de amor e de solidariedade que aprendi entre lágrimas !

Hoje busco ser melhor, na esperança de ser digna de reencontrá-lo um dia e dizer-lhe: Obrigada pelas porradas com luvas de pelica!

Dorinha Araújo

Dorinha Araújo
Enviado por Dorinha Araújo em 28/09/2011
Reeditado em 10/02/2017
Código do texto: T3245066
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