Busca em Bali



       
        Os fatos narrados aqui estão ligados a uma seqüência de sonhos, que por anos a fio os tive em uma freqüência regular de pelo menos uma vez por semana.
Estas visões me levaram a lugares onde nunca estive antes e a pessoas que jamais havia visto, apesar do incrível realismo.
        Há quatro ou cinco anos, em uma locadora de vídeo loquei um filme que me impressionou muito, mas assim como outros logo esqueci seu título. Apesar de ser baseado em fatos reais, era apenas mais um filme.

Não sei por que, passei a associar estes sonhos ao filme assistido na época em que eles começaram.
Para entender melhor vou passar um pouco a idéia do drama do filme que foi baseado em fatos reais.
Tratava-se da história de uma menina de aproximadamente dez anos, que em sonhos visualizava uma vida passada em outro tempo e espaço, longe do lugar onde nascera e morava com seus pais.
Tudo aconteceu ao Sul da Índia. Através dos sonhos ela se via  transportada para uma cidade no extremo Norte daquele país.
Em seus relatos, a menina passou a identificar lugares e pessoas, entre estas um comerciante seus  filhos e a esposa, que a reconhecia como sendo ela própria.
Passando assim, a afirmar ser esta sua família. Identificava cada um dos membros da família  pelo nome, pela  e idade de cada um. Estes, relatos eram confidenciados  sempre ao seu pai.
Curiosamente tratava-se de uma família muito pobre, que fora constituída em uma pequena localidade. E por esta condição constatava  que nunca se afastaram para qualquer outra parte do seu país.
Não me lembro se por apelo ao padre do lugar, mas foi este quem  resolveu levá-la até a cidade da qual fazia ela a criança as suas referências.
Aqueles fatos angustiavam a família e principalmente o pai da criança que por sua vez não fez qualquer obstáculo em permitir que a filha viajasse em companhia do dito padre. E assim, em condições comum, fizeram uma viagem de trem que levou alguns dias para atravessar o país.

Lá chegando, andaram pelas ruas da cidade ate encontrarem uma loja que ela reconheceu como sendo a do comerciante. Seus relatos foram confirmados tal qual em seus sonhos, em todos os detalhes.

         Voltando para minha história...
Várias pessoas também já me relataram casos semelhantes aos meus. Conclui-se que se trata de fenômeno, que vai além da nossa capacidade de entendimento.
Assim, apenas tento associar a outros, na busca de uma compreensão melhor, como por  exemplo deste filme.
A princípio, não eram tão claros os lugares visualizados nos sonhos. Eram estranhos e as pessoas falavam um língua que não consegui entender.
Porém, com a freqüência a linguagem tornava-se compreensível.

 A principio, imaginei que  o local talvez fosse a Índia, esta conclusão levada apenas feições das pessoas que apareciam, mas as paisagens não eram aquelas tão miseráveis e pobres que já conhecemos daquele país. Assim fui descartando  a hipótese de imagens totalmente negativas! Onde era? Será que existia tal lugar?

         Suas praias eram muito bonitas e seu povo bastante diferente, mas ainda era pouco para chegar à conclusão de que tanto buscava e precisava.
Restava-me usar métodos de eliminação e associação.
Dos meus conhecimentos, pouco concluí. Na minha busca e pesquisas entre elas  através de revistas especializadas em turismo tirei informações muito próximas das adquiridas nas visões.

Certa noite, após uma visão, levantei-me e tentei localizar em mapas geográficos, o que tinha visto com tanta clareza, mas a única referencia que tinha até então eram a paisagem e relevos, que pareciam vulcões e características de uma ilha.
Em certa ocasião, que mais tarde viria concluir ser a razão de tudo.
Mais uma vez em sonho  encontrava-me em um ritual de dança típica de povos ilhéus, com traços orientais.
Figuras estranhas e parecidas com os dragões japoneses, faziam movimento rituais, Após apresentação, deram lugar a uma figura exótica e belíssima que aparecia dançando. Tratava-se de uma jovem com trajes típicos e movimentos leves nos braços, em que pude descrevê-la detalhadamente, tamanha a nitidez! Sobre sua cabeça um adorno de flores amarelas em forma de coroa, com uma única flor vermelha ao centro, dois lindos brincos de ouro com pérolas incrustada, olhos expressivos e sombreados, na boca um batom vermelho que realçava o contorno de seus lábios; em seu pescoço e ombros algo como uma pala vermelha e artisticamente ornamentada; sobre seu corpo, parecia apenas que o tecido com tons amarelo e verde que havia sido enrolado nele, completando-se com duas faixas vermelhas, com largura entre 10 a 12 cm, presos somente no busto e descendo até o comprimento das vestes. Ouvi de uma pessoa ao lado que estávamos diante de uma princesa da Ilha.
Não foi tão fácil chegar à conclusão, mas passei a acreditar que se tratava de uma das ilhas da Indonésia, e tudo culminava para Ilha de Bali e isto tornava uma  idéia fixa.
Em uma agência de viagem informei-me de como chegar, aonde ir, ficar, comer, enfim, precisava do maior número com informações possíveis sobre a ilha.
Para minha surpresa, no amontoado de revistas de turismo, mais precisamente na terceira revista, encontrei uma edição especial com o título
"BALI - A ILHA ENCANTADA”.
Pensei estar influenciado pelo que vi na publicação, mas as evidências falaram mais altas, estava ali o ponto de partida para minha busca.
Busca em Bali!
Na verdade o que viria a ser? Até então, via lugares e pessoas sem saber o porquê, apesar de agradar-me muito estes sonhos, para mim fugiam totalmente de minha realidade.
Como que de forma seqüencial, os acontecimentos davam a entender que as informações acumuladas faziam parte de uma história que aos pouco iria se esclarecendo, obedecendo a uma ordem lógica, promovendo lentamente o entendimento.
Assim, em um contato direto ainda em sonhos, pela primeira vez uma mocinha entre dezoito e dezenove anos, com traços físicos de uma oriental, misturada com traços de nordestina brasileira, tal era a mistura, acompanhada da doçura, meiguice e de seu sorriso, somavam-se ainda  à sua beleza natural.
Estava diante da moça que descrevi no ritual de dança. No diálogo que tivemos, ela me dizia: "você tem que vir aqui”. Parecia-me estranho respondi-lhe perguntando. Como? “Já estou já estou aqui!” Sorrindo, ela me disse: "isto é um sonho, venha de verdade!”
A fantasia e o real foram tomando conta da minha cabeça, mas na medida em que estes foram se repetindo, fui sentindo algo muito próximo da realidade.
E comecei a pensar na possibilidade de ir ao encontro de uma ou de outra realidade, pois a curiosidade obrigava e induzia-me a ir atrás de tal busca.
Passaram-se pelo menos uns três anos até dar início ao projeto da viagem.
A Ilha de Bali não está tão próxima, mas, como se diz, longe é a lua! Mesmo assim o homem já foi lá!... Por que eu não iria a Bali?
Em trinta de janeiro deste ano de 1998, tive um sonho com Ile, este era o nome da moça que passara com freqüência a aparecer.
Como se fosse um apelo, como quem queria me dizer:
Ou você vem agora ou não virá nunca mais!
Tive a sensação de que se não se criasse condições para a dita viagem, sentiria uma grande perda ou quem sabe não voltaria a ter as visões que me davam muitos prazeres.

Passei realmente a me preparar para a viagem.
Apesar de tudo estar no campo da irrealidade humana, nos preparativos tinha anotado dicas e locais onde deveria ir, como chegar, hospedar, locomover e comer além de detalhes comuns para quem já tem alguns vistos de entradas em seu passaporte.
Finalmente chegara o grande dia: Oito de abril deste ano.
Tive pela frente uma viagem longa, que somada às 25h de viagens e conexões, acrescidas de 11h de fuso à frente do nosso horário, cheguei ao Aeroporto de Denpasar, no dia 10 de abril, portanto, três dias após minha partida do Brasil.
Mesmo fazendo a rota mais rápida, rumo Ocidente, onde fizemos escalas em Joanesburgo, na África do Sul, e em Hong Kong.
A chegada foi confusa tanto quanto os sonhos, em que se misturam o real e o irreal, a dúvida com a angústia.
E, pela primeira vez, o medo de não entender bem o que estava fazendo ali.
No meu relógio nem hora nem data estavam certos, pois marcava dia 9 de abril e 19h, data e hora do Brasil.
Mas na realidade, somadas às 11h do fuso horário, eram 6h da manhã do dia 10. Até nisto, parecia ser proposital tamanha era  confusão na minha cabeça.
Encontra - lá? Só Deus saberia me explicar como! Se é que ela existia!
Mas real ou não, tinha um nome para procura: Ile Sor, (perguntei-lhe o que significava, ela respondeu-me que em sua língua que, era algo como sua outra metade), apesar da fonética arrastada para os meus ouvidos acostumados com a velha língua portuguesa, parecia  como Ilha do sol..
No resgate das bagagens, fui tomado por certa insegurança e um pouco de pânico, pois quando alguém se dirigiu a mim falou:
“SELAMAT DATANG”, “SEJA BEM-VINDO” em bahasa bali (língua local).
Senti na espinha dorsal um calar frio misturado com uma sensação de pavor.
Mas as coisas, em seu tempo e hora, iam se revelando de forma surpreendente.
Tive então a surpresa, vi uma pessoa, a mesma que estivera ao meu lado na ocasião do ritual e que me falou que se tratava de uma princesa da ilha.
Tinha certeza de ser a mesma que displicentemente vira em sonho.
Como já me conhecesse, pausadamente, em espanhol, me ofereceu seus serviços de motorista. Gentilmente, tomou-me das mãos o carrinho com as bagagens.
Tudo que parecia amedrontador sumiu de forma tão rápida, que me senti envolvido por uma onda de felicidade idêntica às vividas naquilo que promovera esta história.
Apesar de escolher por acaso, estava ali, exatamente no inicio da melhor época do ano para a visita a ilha, que é entre os meses de abril e outubro.
Ao sair do Brasil, por precaução reservara o hotel.
Indiquei o meu destino ao motorista, que a esta altura já havia se apresentado com o nome Nyoman.
Como sempre, preparados e orgulhosos, todos os motoristas de aeroportos parecem que fizeram a mesma escola.
Seguiu o roteiro, apresentando-me os lugares e as direções das praias, montanhas e vulcões, a grande atração do lugar.
O exemplo o Batur no Norte da ilha, com sua cratera a 1.717m de altitude, fumegante e de forma ameaçadora.

Já no hotel, à entrada, passamos por figuras esculpidas, que representam guardiões contra os maus espíritos.
Logo fiquei sabendo, que todos os hotéis da região têm seus guardiões em suas entradas ou recepções.
Tudo isto se passara nas três primeiras horas da chegada a Bali.
Tinha agora a sensação de que o melhor ainda estava por vir!...
Após as acomodações, banho e leve descanso, ao olhar para o relógio a confusão voltou à minha cabeça.
Parei, fiz as contas do fuso entre o Brasil e Bali, somei às 11h, acertei logo o relógio e o dia Eram 16h, do dia 10 de abril. Dai para frente teria uma melhor orientação.
Rápido vesti uma roupa apropriada para resto da tarde e noite. Desci até ao restaurante, pedi a primeira coisa que parecia familiar; pelo menos no visual.
“O NASI CORENG" (arroz frito, galinha, camarão e ovos). Tudo por um preço menor que um sanduíche na Riachuelo (em Russas).
Fui até o salão de hóspede, diante de uma televisão vi desenhos animados até entrar uma programação local, horrível.
Levantei-me e encaminhei-me até a porta do hotel, onde avistei Nyoman.
Nomes sempre me levam a curiosidade de saber o que significam: Fiquei sabendo que o primeiro filho de um casal sempre se chama Wayan, o segundo Made. Ele terceiro filho, como em todas as outras famílias, chamava-se tradicionalmente Nyoman.
Por isto Bali é conhecida com sendo a terra dos nomes iguais.
Entender esta... Pobre ocidental! Deixa para lá.
Só que me parecia mais uma vez como a terra das confusões, talvez por isto chamavam-na de ilha encantada.
Falando mesmo em português, fiz-me entender o que queria, sair à noite!
Ele com, respondeu- me sorrindo em espanhol, que me levaria a Kuta, balneário do tipo Ocidental, onde desfilam os turistas e balineses.
Numa mistura exótica e oriental. Gostei do lugar.
Queria ficar só, mas não queria que Nyoman se afastas-se, parecia ser ele ali meu anjo da guarda em carne e osso.
Sentado a uma mesinha, pedi uma coca-cola. Servido, passei a observar os que passavam. Instintivamente, após um bom tempo, olhei em minha volta.
Nada vi de especial. Como se alguma coisa estivesse faltando ou não satisfeito com a panorâmica, me virei, talvez de um jeito até brusco... Estarreci com a visão a minha frente!... O choque foi tão grande, que emudeci, meu coração disparou, a vista embaçou, não tinha outras palavras para descrever aquele  momento.
Estava diante do meu sonho. Não sei quanto tempo se passou até me refazer do primeiro momento. Senti vontade de não estar ali, tantas coisas me passaram pela cabeça, até sentir de novo a mesma energia que sentia em meus sonhos, só que agora estava diante de uma realidade, pura realidade!...
Tomei coragem, para isto estava ali, era a razão de tudo. Levantei-me e fui a sua direção, sentia-a receptiva e não tinha dúvida de ser ela por quem procurava.
No pequeno espaço, veio-me outra dúvida: como iria falar com não sabia uma palavra sequer em bahasa bali? E pensei rápido em Nyoman, como interprete!
Porém, para o primeiro contato, não havia mais tempo, no meu livrinho de bolso, tinha lá
“SALAMAT MALAN” (Boa noite) “APA KABAR" seguido de um  Como vai?... Ela respondeu-me num sonoro e claro português. O que me deixou pasmo! Em seguida convidou-me para sentar.
Atônito, num clima de êxtase, nos olhamos por um bom tempo, sem saber o que falarmos. Na minha cabeça, fustigava-me à vontade de saber se tudo era coincidência ou se realmente nossos espíritos já  tinham-se encontrado antes.
Eram tantas as interrogações que não tinha por onde começar, a não ser por nossas apresentações.                                                             “Estendendo-me a mão, apresentou-se com Ile, completei a apresentação, sentindo o calor suave de sua mão entre as minhas.” Alguma coisa me dizia que iriam se desenrolar naturalmente, à medida que fôssemo-nos conhecendo.
Após algumas horas de conversa, lembrei-me de Nyoman. Por um momento fiquei preocupado, não o via. Ela percebeu e falou-me, que não estava mais sozinho. Aquela era sua cidade, e eu seu convidado, e seria a minha guardiã.
Em seguida me convidou para assistir a um ritual de dança típica de Bali. Aceitei o convite honrado.
Algum tempo depois ela me falou que meu amigo acabara de chegar, que podíamos ir!
Pedi que solicitasse a conta. E pela mão me guiou até o carro de Nyoman.
Em sua língua, bahasa bali orientou o mesmo até chegar ao local do ritual. Acomodou-me em uma mesa estratégica e pediu-me licença, pois faria uma apresentação especial naquela noite para mim e talvez fosse à última.
Antes de sair, chamou um tipo de atendente, pediu para me servir uma bebida nativa. Fiquei preocupado, mas ela me tranqüilizou, pois não se tratava de bebida com alto teor alcoólico. Assim, foi servida em taça muito enfeitada com limão, cerejas e flores brancas e amarelas.

Era drink de boas-vindas.
Logo, à meia luz, começara a apresentação chamada de Barong, que apesar das figuras estranhas, representavam o bem.
Após a apresentação das personagens, por último, exatamente como vi e descrevi o sonho, ela apareceu com todos os detalhes.
O que estava acontecendo era indescritível ou cabível dentro do cotidiano de pessoas normais. Não que me sentisse extraordinário, mas o que estava acontecendo não era menos que isto!
Tudo aqui ia além da minha compreensão. Quando me peguei perguntando se era necessário entender a felicidade!
Fim da apresentação.
Do meu lado Nyoman me falou mais sobre, ela é uma princesa da ilha! Tal qual no sonho, com o mesmo timbre de voz.
Passados alguns minutos, Ile chegou feliz e me deu o primeiro beijo, como velhos conhecidos e amantes, dizendo que dali em diante seria minha.
Em silêncio,  onde me confessou estar comemorando o seu decimo nono aniversário, e que gostaria de chegar ao hotel antes de virar a data.
Como que num passo de mágica quando faltavam três minutos para meia-noite, estávamos deitados um ao lado do outro, felizes e abraçados.
Foram trinta dias de descobrimentos e felicidades, de conquista e respeito.
Eram umas cinco horas da tarde, do dia onze de maio desse mesmo ano, quando na suíte especial do Hotel Bali, numa banheira de água quente, envolvidos pela magia atingimos nosso primeiro momento de plena felicidade! Rompemos as barreiras que ainda restavam. Selamos ali nossas vidas para sempre.
Este foi o nosso desejo!... Com sua voz doce e suave, em tom baixo, pude ouvi-la pronunciando:
Encontramos a outra metade de nossas vidas.”
Esta ainda é uma história sem fim, porque hoje vivemos felizes em algum lugar do Brasil...

 
     Quem sabe se um dia em não complemente esta linda historia de amor!...
Enquanto isto a água vai passando por debaixo da ponte dos suspiros!


Francisco Rangel
Francisco Rangel
Enviado por Francisco Rangel em 25/11/2011
Reeditado em 20/12/2012
Código do texto: T3354919
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