Amor explícito

Meio dia e meia. Estava no aeroporto com minha neta esperando meu filho chegar de viagem. Ela fez um desenho num papel branco e escreveu “te amo” para surpreender o pai.

Divertia-me com a tagarelice dela quando ouvi alguém falando ao celular: _ E aí! Chegou? A pessoa parecia feliz. Aliás, hoje em dia todo mundo gosta de parecer feliz com suas roupas de vitrine, carro flex, botox, cães de raça e outras coisas mais.

Virei para trás, bem devagar, é claro, para ver essa pessoa supostamente alegre. Era um senhor elegante vestido de preto, esguio, contidamente impaciente, que esperava no portão de saída dos passageiros. A pessoa esperada estava pegando as malas. Enquanto aguardava, sob o olhar curioso do guarda, esfregava as mãos, esticava o pescoço e seu olhar buscava em meio aos transeuntes o motivo de tanta felicidade.

Confesso que fiquei curiosa e imaginava: quem seria ... Um filho? A esposa? Um amigo que não via há tempos? A demora não o importunava tanto posto que a alegria era maior.

De repente ele ergueu o braço e acenou. Todo seu corpo sorriu. Verificou a hora. Arrumou a camisa. Guardou o celular no bolso. Ajeitou o cabelo e, por instantes, prendeu a respiração.

Ela surgiu na porta com o carrinho cheio de malas e uma bagagem de mão. Sorriu para ele. Esperou que uma mulher passasse adiante dela com as crianças. Aproximou-se. Largou o carrinho e a bagagem de mão no chão. Uma senhora bonita,roupa discreta,silhueta delgada e muita saudade.

Quando eles se abraçaram eu senti um arrepio. Foi emocionante vê-los ali, no meio de toda gente, deixando que o amor, discretamente, os envolvesse. Coisa rara isso. Não era cena de filme. Era real. O amor é tão bonito na maturidade...é sereno. Não sei se mais pessoas viram o que eu via, mas, mesmo assim continuei observando a vida ao vivo diante dos meus olhos.

Não lhe parece uma cena comum de aeroporto? Abraços, beijos, sorrisos na chegada e choro na despedida? Mas aquela cena não era corriqueira.

O mundo ao redor desaparecera e só havia eles dois e o amor. Ficaram ali, abraçados por um bom tempo, sem se importar com nada. Juntaram testa com testa, eu pude ler nos lábios dele uma frase: _ Você me faz muita falta, querida. Ela pousou a cabeça em seu peito e o abraçou novamente. Descansou. Ele passou a mão em seus cabelos carinhosamente. Com certeza se sentindo protegida e amada. É isso que uma mulher gosta de sentir.

Meu filho chegou. Minha neta correu ao seu encontro. Ele a pegou no colo e os dois deram um longo e carinhoso abraço. É bom se sentir protegida e amada em qualquer idade.

O casal se foi. Constatei que não era uma suposta alegria, dessa que a gente vê garantida nas propagandas. Era alegria genuína, legitimada pelo amor.

Eu não me esqueci daquele dia.

Mariacris
Enviado por Mariacris em 03/12/2011
Reeditado em 12/07/2013
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