Ditinho, o amante da Natureza

Quanto falo de Ditinho geralmente ele se mostra um arteiro com um grande coração, mas suas atitudes não são somente reflexo do carinho de sua mãe e irmãos, a paz que cercava sua casa a beira do rio Paraíba, entre o canto dos pássaros o serelepe que nas ferias de dezembro subia nas goiabeiras já com os bolsos cheios de jabuticabas graúdas espantava os sábias do campo que insistiam em furar uma a uma. Para depois repousar na gigantesca raiz da figueira. Dizia ele que de encantadora a casa nada tinha, mas com certeza Deus morava ali. Contava que certo dia logo pela manhã antes do sol nascer fingiu dormir somente para ver Deus passar, e não é que passou mesmo, aquele dia a imagem foi encantadora, quando os primeiros raios solares clarearam a vidraça entreaberta do quarto os pássaros já disputavam qual melodia seria a mais bela dia, mas não foi por muito tempo, pois uma sombra de nuvens carregadas já desabava na cabeceira do Paraibão. Daí eu sonhei com estas palavras...

O trovão espantou os pássaros. A natureza, impressionante é... O estrondo do trovão despertou a mata, Que se inflama se excita e se desfaz, E atormentada geme alucinada.

A ventania sem piedade golpeia a figueira, Fustiga a relva, mexe com ela, Dela não escapa nem as palmeiras... Onde cantaram os sabiás. Diante do sopro devastador e implacável. O passaredo alvoroçado emudeceu, O arvoredo se retorceu, Como se ele fosse um gigante alucinado. Brilham os raios no céu cinza, Tombam na floresta os troncos seculares, Morrem as frondosas, nascem os tronqueirões. Batalha sem vencido, sem vencedor.

Rio atormentado e impiedoso é mortalha. Que a embarcação desavisada, desvairada, Tenta superar, mas, logo vencida, Súbita despedaça. Chora floresta abatida, Pelo entusiasmo da tormenta. Grita mata calada, Extasiada pelo aguaceiro maldito. Que vigoroso poder te arrebata, Toda a calma, ó natureza? Para dar-te temível grandeza que sufoca, fere e mata!...

Eu bem te entendo! A natureza humana é por vezes assim, martírio tenebroso, Destilam, poder no âmago violento, Origem do conflito e da crueldade. Mas, como tu, de devastar se cansa. O infernal braseiro logo esfria, Das desgraças, então ela se esquece, Para voltar à grandiosa abonança.

E foi que Deus levou Ditinho para formar o tapete de folhas caídas de um bambual, folhas tantas que formam um longa trilha que une os sonhos à paz eterna.

Dedicada a Maria Mineira

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 09/12/2011
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