Euforia Resumida (Sinônimo de Alegria)

A menina em piscadelas tenta desesperadamente se livrar das lagrimas que salientes molham sua face.

Ela não se permite chorar.

Ora, aos 12 anos de idade, já se é quase moça, e chorar a essa altura do campeonato seria assumir sua derrota.

Ela, moça de tenra idade que era, tinha convicção de que não havia perdido.

E as horas passam, e o tempo voa.

A menina agora admirando o relógio se põe a esperar, e nem demora muito, logo avista os passos do menino, a razão de seu dilema principal, caminhando estrada a cima, carregando a mesma e velha mochila.

Os olhos da menina brilham, e seu coração dá pulos e mais pulos de uma eterna euforia, que nem se acaba.

O peito se comprime, e se torna difícil respirar.

A menina nem sabe o que quer. Mas sabe que não agüenta mais sentir aquilo de não poder dizer nada ao menino. Essa angustia guardada tem lhe roubado horas durante dias, semanas mesmo.

E ela, destemida, decide que seria hoje o grande dia do: Não sei o que devo fazer! E mesmo assim farei.

Porque a menina era corajosa. Herdara isso não de seus pais, mas sim de velhos e empoeirados romances presenteados pela avó paterna, que em infância lia tais histórias fantasiando um futuro casamento feliz, quem sabe um príncipe e seu cavalo branco. Ela, a menina, com tanto zelo os guardava e, por horas a fim, se propunha a pacientemente lê-los nas horas de lazer.

Comia-os, mesmo. Saboreando cada palavra, de acordo com ela, sinônimos para sentimento.

Como era filha única, havia aprendido a não perder tempo com coisas fúteis, e dessa forma, sempre encontrou o refugio para sua solidão e ociosidade na leitura. Afinal, quando estava acompanhada dos personagens de seus romances, não estava mais só.

E o tempo voava em meio às entrelinhas...

A menina hoje, já nem é tão menina. E se dá conta que os romances expressam mesmo alguma verdade. Não aquela sonhada e fabulada, porque nem sempre o garoto tem um cavalo branco, ou é um herói de guerra. Mas no final, o que prevalece, é o sentimento.

E ela está certa de que o menino sem dente, e com mochila cor de terra, traz consigo um jeito todo seu de sorrir que agrada a menina. Porque só ele consegue roubar dela aquele riso todo bobo, disfarçado com o brilho do olhar esperançoso de desejo.

Mesmo tão jovens já experimentavam um desejo e uma necessidade um do outro, que ambos não sabem explicar.

E a menina vermelha nem entende, como vergonhosa e destemida se proproe a perseguir o menino, e a gritar o seu nome, e nem esperar ele ouvir e esperá-la, para já correr ao seu encontro.

A menina não entende mesmo, mas se percebe desajeitada diante do menino e a pedir-lhe um beijo, e se assusta com a cara de espanto do menino, que nem entende direito o que se passa, e o porquê do pedido inusitado da menina.

Ela, portanto, inclina seu corpo para frente, enquanto o garoto mecanicamente, e sem pensar, cerra os olhos.

E os lábios se tocam tímidos e trêmulos num beijo fosco, e sem vida.

O peito da menina palpita e a euforia domina.

Ela agora entende o sinônimo escondido nas entrelinhas dos romances, e a euforia da mocinha ao reencontrar seu grande amor depois da batalha. E percebe, estática, o quanto o reencontro tem a falar sobre a partida.

Ela nem sabe, mas pra ele também fora seu primeiro beijo.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 15/01/2012
Reeditado em 15/01/2012
Código do texto: T3442670