AMOR DE INTERNET

Karen estava tão só naquela noite. Lá fora o vento açoitava as árvores anunciando a chuva da madrugada. Sentia o vazio da solidão atormentando seu ser. Queria tanto ter alguém com quem conversar. Ligou para Juliana, sua melhor amiga. O telefone tocou, mas ninguém respondeu.

Karen estava necessitada de uma companhia. Queria ter alguém para conversar.

No mundo moderno o companheiro dos solitários é o computador e suas redes sociais.

Karen já tentara, algumas vezes, conhecer alguém através de um chat da internet. Mas as pessoas eram tão vazias. Havia muitos homens a procura de aventuras amorosas, outros tantos solitários como ela. Era difícil encontrar alguém de bom nível.

“Vou tentar mais uma vez”, pensou.

Entrou no chat e encontrou diversos pseudônimos pouco ou quase nada interessantes. Percorreu a lista de participantes. “Homem maduro”. Bem, pelo menos não era um desses garotos imaturos à procura de apoio de mulheres mais velhas. Resolveu tentar a sorte.

Por alguns minutos teclaram mensagens. “Até que ele é interessante”, pensou.

Pediu que ele abrisse a webcam. Sentiu aquela curiosidade em saber como era a imagem da pessoa do outro lado. Seria um homem bonito, atraente? Ou seria um sujeito de aparência desagradável? Faria o seu tipo?

Na tela do seu notebook apareceu um homem levemente grisalho, bastante magro, tez clara, olhos claros e com um ar que ela achou simpático.

Continuaram teclando e não viram as horas passar. Realmente, o “papo” estava bastante interessante.

Combinaram de se conhecer pessoalmente. Talvez não fosse prudente, mas Karen marcou encontro com o desconhecido na rua em que ele morava.

À noite, Karen teve pesadelos. Sonhou que um estranho estava tentando estrangulá-la. Acordou assustada e com falta de ar. Seria um aviso? Uma premonição?

No dia seguinte, ela quase desistiu de ir ao encontro marcado. Ficou tensa e sentiu medo. A curiosidade, no entanto, foi maior.

Ficou na dúvida, como sempre, sobre a roupa que deveria usar. Depois de algum tempo decidiu-se por um macacão de jeans. “Com esta roupa estarei mais protegida porque ela é difícil de tirar”. Não estaria facilitando as coisas para ele. Um vestido tornaria menos trabalhoso o ato de tirar a roupa. Uma saia também. E o homem sempre se torna mais atrevido se a mulher lhe proporciona alguma facilidade. E ela não queria, de maneira alguma, que ele pensasse que tudo seria muito fácil. Ela era uma mulher difícil de ser conquistada. Dirigiu seu Fiat para onde haviam marcado.

Ao chegar reconheceu-o pela descrição da roupa que ele estaria usando. Calça jeans, camisa azul claro com listras finas e mocassins. Fez de conta que não lhe reconheceu e seguiu mais alguns metros com seu carro. Estacionou seu automóvel. Sentiu suas pernas tremerem. Karen estava tensa, mas não dava mais para recuar. A sorte estava lançada. Dali a alguns minutos ela estaria no apartamento daquele estranho. Sua voz seria ouvida por alguém se ela precisasse de ajuda?

Teria ela chance de gritar se fosse necessário pedir socorro? Que tipo de homem Karen iria encontrar?

Dali a alguns minutos ela teria a resposta, mas quem sabe não pudesse contá-la a ninguém.

**** ****

Karen desceu do carro e olhou aquele homem que vinha em sua direção. Com um largo sorriso ele exclamou: “Que garota linda. Você é bem do jeito que imaginei”. Karen, naturalmente, gostou do que ouviu.

Ele abraçou-a como se fosse um velho amigo. As pernas de Karen tremiam. Ela estava ali, junto com uma pessoa que nunca tinha visto, que não sabia quem era. Quais as intenções daquele homem?

Conduziu-a até o elevador. Karen não andava, flutuava no espaço. Não sentia o chão. Tinha a impressão que estava sendo levada ao cadafalso, que não havia condições de recuar, nem que quisesse.

Karen entrou no prédio. Parecia um edifício desabitado. Ninguém no lobby, tudo muito silencioso. Sentiu o medo aumentar. O coração disparado e a respiração ofegante demonstravam que o medo lhe tomara conta. Dentro do pequeno elevador era possível ouvir os batimentos cardíacos de Karen. Ela estava ofegante. Ela observou um volume dentro da camisa dele. “Meu Deus, uma arma”, pensou. Quis dar meia volta, mas já estavam no hall de entrada do apartamento. Ele empurrou-a porta adentro. Ela entrou um tanto forçada. Havia uma sala de dimensões médias, com uma grande janela de vidro ao fundo. Um aquário com peixinhos vermelhos borbulhava em um canto. Nas paredes alguns quadros com belas paisagens.

Karen sentou-se em um sofá. Ele sentou-se ao seu lado mantendo uma pequena distância. Karen estava estática. Não conseguia mover-se. Não sabia o que fazer. Na verdade, queria fugir daquele lugar. Se ele se ausentasse por um instante abriria a porta e desceria correndo pela escadaria. Mas ele era um homem experiente. Sabia como conduzir uma situação. Queria conquistar a confiança dela. Seus modos macios e sua fala suave foram neutralizando o medo que Karen sentia. Ele conseguiu. Depois de alguns poucos minutos conversavam descontraídos. Ofereceu-lhe uma taça de vinho italiano, borbulhante, desses que as mulheres adoram. Depois da terceira taça Karen se sentia à vontade. O medo e a precaução foram embora. Era tudo o que ele queria para colocar seu plano em prática; ter aquela mulher sobre seu domínio.

Ao se sentir mais seguro da situação sentou-se mais próximo de Karen. Fez um carinho em seus cabelos. Elogiou sua beleza. Karen recuou. – Não tenha medo. Fique à vontade. Estou somente admirando sua beleza. Aquele homem sabia como conquistar uma mulher, ela pensou.

As resistências, pouco a pouco, foram sendo minadas. Ele beijou-a. Karen correspondeu. Os beijos se tornaram mais cheios de luxúria. Os carinhos foram se tornando mais atrevidos. Karen quis resistir. “O que ele vai pensar de mim?” A vontade foi mais forte. Os hormônios fervilhavam no corpo de Karen. Ela estava prestes a se entregar. O perigo aumentava. Mandou o pudor de donzela, que já não era há muitos anos, às favas. O zíper do macacão foi descendo devagar e sem resistência deixando à mostra a pele aveludada e branca. Os beijos foram se tornando mais íntimos e as mãos e os lábios dele percorreram a face e o pescoço e chegaram ao ponto fraco de Karen, seus seios. A respiração de ambos se tornou ofegante.

No aquário os peixinhos abriam e fechavam suas boquinhas admirando a cena. Que tolice; Karen ficou com vergonha dos peixinhos vermelhos voyeurs, boquiabertos com aquele prelúdio de amor.

Ela sentiu o objeto que estava sob a camisa dele contra seu corpo. Estremeceu. Era uma arma, tinha certeza. Uma faca, provavelmente. Quis reagir. Suas pernas falsearam. Seria o medo ou a bebida?

Ele tomou-a pelas mãos e levou-a até o quarto. Ela não conseguiu oferecer resistência. O vinho lhe dava a coragem suficiente e necessária, exatamente como ele planejara. Em passos lentos, quase como se fosse uma dança do acasalamento, chegaram ao leito. O macacão que Karen achou que funcionaria como uma armadura para proteger seu corpo, não resistiu. Separou-se de Karen auxiliado por quatro mãos e foi repousar sobre a penteadeira.

Karen estava entregue à sanha daquele homem desconhecido. Aqueles lençóis macios seriam testemunhas de uma cena de amor ou de violência?

De repente, Karen se deu conta do perigo que estava passando. Tentou levantar-se da cama, mas foi impedida por ele. Sentiu o desespero tomar conta de si. Arrependeu-se de ter vindo ao encontro daquele estranho. Estava dominada. Não tinha saída. Quis gritar, mas a voz não lhe saiu. Lembrou de seus filhos, de sua mãe. Imaginou as manchetes dos jornais. Na primeira página estaria estampada a foto de seu cadáver e acima uma manchete estúpida. Logo ela, uma jornalista experiente. Como foi possível cair naquela armadilha? Era tarde demais para arrependimentos. A sorte estava lançada.

O que aconteceria com Karen? Meu Deus, mais uma vítima assassinada cruelmente?

*** ***

Peter desnudou-se. Sob a camisa ele tinha um vidro de perfume “Linda”, do Boticário, a fragrância preferida de Karen.

Suas bocas se encontraram em beijos apaixonados. Aquela mulher lhe conquistou desde o primeiro momento. Sua pele macia, seu cheiro, seus cabelos, tudo lhe agradava. O membro viril de Peter ansiava em cumprir seu compromisso.

Fizeram amor como se conhecessem a longo tempo.

Quando Peter viu Karen saindo debaixo do chuveiro enleada em uma toalha desejou ver aquela cena nos demais dias de sua vida. Peter apaixonou-se por Karen desde o primeiro instante.

Karen ficou preocupada por ter se entregado no primeiro momento. O que ele pensaria dela? Que ela era uma mulher fácil de ser conquistada? No dia seguinte, preocupada com o que ele poderia ter pensado, mandou-lhe um e-mail: “Desculpe por eu ter sido tão fácil. É que me descontrolei. Mas não me arrependo de nada”. Peter sorriu ao ler o e-mail. Teve ímpetos de beijar a tela de seu computador. Sentiu saudades de Karen e desejou que ela estivesse ali, ao seu lado, para poder beijar aqueles lábios e abraçar aquele corpo novamente. Ficou a relembrar dos momentos que passaram juntos. Queria que ela não tivesse ido embora. Que ainda estivesse em seus braços. Seu membro retesou-se. Peter suspirou profundamente. Ele queria guardar na memória o rosto de Karen, as curvas do corpo de Karen, o sabor dos lábios daquela mulher que tanto lhe encantara. Desligou a luz do quarto, deitou na cama onde horas antes havia amado Karen e abraçou fortemente o travesseiro e ficou a imaginar sua amada em seus braços. Nem ele compreendia o que havia acontecido. Peter, o homem difícil de amar estava apaixonado? Ou seria apenas uma paixão efêmera como algumas outras?

Naquela noite, Peter teria lindos sonhos de amor. E acordaria pela manhã a lembrar dos momentos mágicos que havia passado nos braços de Karen.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 16/01/2012
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