Redescoberta do amor

Uma tarde refrescante. Os pássaros voavam a procura de migalhas e fontes de água, parando de tempos em tempos para perder-se na atividade de cantarolar apoiados em galhos. A semana fechava com sol após chuvas constantes e irritantes.

O jovem aproveitou o fim do expediente para perder-se nas trilhas do parque. A camisa social pairava esticada livre, a gravata dobrada no bolso esquerdo e o terno jogado sobre o ombro direito. Os pés já haviam reclamado tudo que podiam e agora aceitavam com o desconforto do sapato social.

As nuvens fechavam-se conforme o sol dirigia-se para além do horizonte. Parecia que o grande astro havia feito tudo que podia para oferecer sua luz aos que assim queriam. Era a vez de a chuva voltar a reinar e derramar seu manto de caos e irritabilidade.

Aos poucos o parque esvaziava-se. As mães ordenavam que seus filhos pegassem seus pertences e buscavam seus pequenos guarda-chuvas dentro de suas grandes bolsas. A cidade, aos poucos, fechava-se a espera daquilo que era anunciado pelo céu que, aos poucos, se tornava cinza. Junto vinham as brisas que se deixavam fluir e brincavam com as folhas que jaziam no chão.

E no meio de tal quadro, um elemento ressaltou-se perante os olhos do rapaz. Um rosto conhecido, com os olhos cerrados, aproveitava o doce toque do vento que reconfortava antes que a cortina d’água começa-se a cobrir e abraçar os que sob ela permanecessem.

Aquela foi a chave para algo já tão conhecido. O tempo mudou, o clima foi esquecido e as vozes silenciadas. Todos os sentidos se rendiam à visão. Buscavam enaltecer aquele que permitia o contato com tão bela figura.

E não mais do que de repente ele era tomado por algo que esquecera há anos. Um turbilhão de sentimentos se juntava e deixava o coração pequeno, apertando-o. Porque ainda era capaz de sentir tanta dor? E porque se sentia tão feliz em sofrer? Como poderia o tempo, mestre da cura, não ter apagado esse platônico punhal?

Tão magnífica imagem foi complementada pelos cabelos cor de mel que valsavam conduzidos pelo vento. Sendo, pouco depois, interrompidos e domesticados por uma suave e bondosa mão que os acomodava.

O rapaz perdeu o ar e sentiu que este lhe era inútil no momento em que os belos e brilhantes olhos verdes se abriram, retomando lembranças embaralhadas no passado. Transbordando o controle de tão frágil mente. Provocando um tímido sorriso.

Aquele pequeno e profundo sonho foi interrompido por um fechar de livro e pela cobertura de uma florida sombrinha que escondia conhecido rosto sob as diversas coberturas que percorriam a cidade, deixando o coração aflito pela redescoberta do amor.