Luz do sol

Ela não queria esperar o dia amanhecer para pregar os olhos. Seu senso de responsabilidade era latente em sua personalidade forte. Os olhos aguçados se concentravam ora no papel, ora na janela, que acusava uma tímida claridade. Respirou fundo e fechou os olhos. Ainda podia vê-lo. Seus olhos espertos, seu sorriso muito branco e iluminado. Os braços se abrindo para acolhê-la e envolvê-la no seu universo. O perfume suave ainda não saíra de suas entranhas. Fora apenas um contato de peles... pelo menos no sentido físico das coisas. Era incrível a catalisação desse processo de "osmose", quando o assunto era o amor.

Amor.

Ela se assustou quando pensou nessa palavra tão simples. Se assustou como ela surgiu rápida e imediatamente, como resumo de seus sentimentos e pensamentos da última semana até o presente momento. Amor. Amor. Realmente se encaixava e fazia sentido. A figura alta e a presença forte dele não saíam da sua cabeça. As palavras doces. Os gestos de carinho. O beijo no rosto. E os olhares. Nem um beijo, nem uma confissão diria tanto como aqueles olhos negros fixados nos seus. Era como se ele a amasse de uma maneira codificada, num mundo paralelo, onde os habitantes eram apenas eles. Sim, ele a amava. Aquilo a excitava, a fazia sorrir, mas ao mesmo tempo a assustava. Tinha medo de soltar as rédeas do coração mais uma vez. Mas parecia impossível não ceder. Aquilo a envolvia, trazia um sentimento de calor e paz que ela nunca havia sentido antes. Uma certeza tomava conta de seu coração - não havia mais espaço para medo, mesmo diante de circunstancias adversas, que pareciam dificultar e entrincheirar tudo que sentia. Era verdadeiro. Existia. E ponto final.

Despertou de sua divagação e voltou para o papel. Era preciso escrever mais dez histórias como aquela. Seu livro seria publicado na semana seguinte.