MEU PRIMEIRO NAMORADO

Eu tinha apenas quatorze anos quando conheci o Alberto,a primeira vez que o vi foi num centro espírita que minha mãe freqüentava por conta de sua separação com meu pai.

Uma vizinha a convencera de que o traria de volta, sinceramente...

Isto nunca acontecera só fez afastá-lo mais.

A princípio ela acreditava e me obrigava a acompanhá-la, com o passar

Dos anos chegara à conclusão de que a enganaram.

Alberto era sobrinho, afilhado, protegido da mãe de santo e dona do terreiro,uma mulher austera, sombria, prepotente, só seu olhar

assustava,particularmente morria de medo dela, que Deus a tenha, pois falecera há tempos.

Quando chegava dia de sessão eu inventava de tudo para não ir, inutilmente,minha mãe deixava os meus irmãos com minha avó e íamos acompanhadas da vizinha e sua sobrinha que beirava mais ou menos a minha idade, uns dois anos mais velha talvez.

Ele não era freqüentador assíduo do centro, nem gostava, embora seus pais, seus irmãos “morassem” praticamente lá (ao lado).

Ele por sua vez fora criado na casa de sua madrinha.

Certa ocasião o encontrei e nessa oportunidade não sabia quem era e de quem se tratava, também não existia a possibilidade de sermos apresentados ou de tentarmos uma aproximação, existia uma norma no centro que homens e mulheres sentassem de lados opostos.

Havia até intervalos, mas minha mãe estava sempre por perto fazendo a escolta, parecendo mais um sargento linha dura.

Observei que ele ficara me olhando, como sabia?

Claro, eu ficara discretamente a olhar também.

Nem preciso dizer que sua presença passou a ser mais freqüente, e através de minha vizinha fiquei sabendo quem era e lamentei dizendo:

Tão bonitinho... Tinha que ser afilhado da bruxa (desculpem era meu conceito em relação a ela)

Numa situação por acaso, sei lá, sua irmãzinha com uns três anos talvez, fugiu do seu colo e veio parar no meu e ali permaneceu até dormir, foi então que ele se aproximou com o pretexto de pegá-la, alguém quem sabe estava conspirando a nosso favor, trocamos meias palavra, mas o suficiente para nos apaixonar.

Minha mãe até estranhara eu não mais reclamar de acompanhá-la e provavelmente começaram a estranhar a presença dele constante.

Falávamos-nos através de sua irmã mais velha, era nosso pombo correio enquanto pensávamos numa maneira de nos encontrar.

Até que surgira uma oportunidade, mas tudo precisava ser muito bem elaborado entre eu, ele, sua irmã e minha amiga.

Este seria no dia da festa que teria no centro,o plano parecia perfeito, ninguém daria falta de nós, pois costumava encher muito.

Combinamos o seguinte:

A minha amiga fingiria estar passando mal num determinado momento

Em que sua tia não pudesse socorrê-la, então eu e a irmã dele ficaríamos solidárias e ofereceríamos-nos a levá-la para casa, ele por sua vez nos esperaria no ponto de ônibus já que morávamos distante.

Sua irmã iria para casa, eu, ele e minha amiga seguiriam.

Depois deixaríamos minha amiga em casa e retornaria somente eu e ele, nada poderia sair errado.

Tudo seguiu conforme o planejado, até que no retorno ao centro a meio do caminho o Alberto me convidara para dar uma passada na casa de um amigo dele que estava aniversariando, ele só queria felicitá-lo, jogo rápido... eu concordei.

Chegando lá o ambiente era propícias, luzes coloridas piscando, música romântica tocando, ninguém nos vigiando, começamos a dançar nos beijar, esquecer-se da vida até que acabamos por demorar mais do que devíamos e o tempo suficiente para dar falta da gente.

Bem que sua irmã tentou aliviar a nossa barra, mas não foi possível

Quando chegamos (a festa já havia terminado) e o circo já estava armado,ele tomara uma senhora bronca de sua madrinha e eu fiquei com o pior da parte, minha mãe apelou, ganhei umas tapas para todo mundo ver.Mas estava feliz para me importar, flutuava e nada me tiraria do êxtase, nem mesmo algumas tapas que fosse à frente dele.

Sua madrinha o proibira de me ver... eu ficara de castigo e também proibida por minha mãe de freqüentar o centro, em outra situação ficaria até feliz, mas nesta perdi o chão, parecia fim de mundo, aceitaria tudo, até apanhar, menos ter que me afastar.

Mas quando queremos, damos um jeitinho para tudo, passamos a nos encontrar escondido aos domingos no matine do cinema ou na saída da escola.

Até certa vez me atrasar na saída, eu e minhas amigas tínhamos horário para chegar. Nesse dia quando soltei do ônibus minha mãe aguardava no ponto, apanhei até em casa.

Qual foi o resultado?

Castigo e proibida de ir ao cinema.

Ainda me restara o colégio, onde quase sempre ele aparecia para ver-me e eu por vezes matava aula para nos encontrar, ficávamos em uma rua próxima ao colégio, enquanto a turma jogava queimada eu namorava.

Até o dia em que uma prima passou de ônibus e pegou, nem tive tempo de calá-la, foi direto a minha mãe contar, desta vez a separação foi inevitável, minha mãe não perdoaria a traição.

Ficamos por meses separados e isso para eu era o pior dos castigos, como sofria,como chorava e nada comovia a minha mãe, nesse aspecto ela tinha coração de pedra e também haveria de respeitar a vontade da mãe de santo.

Então arrumei um novo namorado na esperança de esquecê-lo e também para aliviar as coisas com minha mãe, pois estava chegando meu aniversário de quinze anos e não queria que estivesse aborrecida comigo.

Neste dia recebi um cartão com uma curta frase dizendo EU TE AMO

E junto um buque de rosas, julguei ser do meu namorado, mas era

do Alberto.

À noite meu pai fizera uma festinha intima, para poucas pessoas e entre elas(mesmo sem ter sido convidado) estava o Alberto que aparecera do nada. É... Ele mesmo, surpreendendo a todos

Encheu-se de coragem e chamou o meu pai as fala, embora com seus dezessete anos, parecia um homem maduro e determinado, foi direto ao assunto e pediu consentimento para me namorar.

Talvez por não esperar o meu pai ficou sem ter muito que dizer, e pelo o fato de ser meu aniversário, acabou por consentir o que não agradou a minha mãe.

Meu pai também era um homem rígido, com uma diferença, jamais nos batia e não morava com agente, facilitava nosso relacionamento.

Estava feliz, eu e Alberto namorando e minha mãe não podia proibir.

Mas como dizem: alegria de pobre dura pouco.

E esta durou até sua madrinha descobrir, Alberto brigara com ela, voltou para a casa dos pais, mas tantas foram a pressão que não resisti e pus fim no relacionamento.

O problema de sua madrinha não era propriamente dito comigo, até porque eu não passava de uma adolescente, a questão é que tinha planos para seu futuro o que não incluía namoro atrapalhando.

Para eu um encantamento do primeiro namorado e que julgava ser amor, para ele que tivera outras namoradas e por ser responsável levava as coisas mais a sério.

Embora separados ele não retornou para a casa de sua madrinha, foi trabalhar como protético e tão logo largou e foi trabalhar na Globo, eu tratei de seguir o meu caminho também.

Pensa que essa história findou-se por aqui? Não

Depois que se firmara no emprego tornou a me procurar, recebera uma proposta para ir trabalhar na Espanha numa emissora de TV, queria que o acompanhasse, mesmo que fosse preciso casar.

Decepcionou-se quando recusei, não poderia , era muito nova, tinha toda uma vida, estudo, família. Ele não foi...E jamais me perdoou.

Pensei ser um rompimento definitivo e que jamais tornaria nos ver.

E seria talvez, se não o encontrasse por acaso na rua.

Nesse dia eu caminhava para o trabalho quando nos encontramos, ele quis saber como estava, conversou, conversou e quando dei conta havia perdido meu horário.

Pensei retornar para casa, mas ele fez um convite para fazer um passeio diferente, já estava ali mesmo, aceitei, fomos para a Quinta da Boa Vista, curtimos todo o dia, apreciamos a natureza, deitamos, rolamos na grama, foi lindo, inesquecível,que guardei na memória, pois desde então não mais nos vimos.

Ele queria cobrar responsabilidade, compromisso, casar-se... Eu aproveitar,Nem tinha certeza do que sentia.

Anos se passaram e eu o perdi de vista, soube que casara com alguém

Da TV tendo um filho, depois separou casando-se novamente,

Dessa segunda união arrumara mais duas filhas e que passara a beber

Demasiadamente.

Também casei, descasei e tinha uma filha.

Em 1986 eu morava com minha mãe e estava preparando para casar-me novamente, mas no dia em que fui buscar as chaves da casa que iria morar sofri um grave acidente com o meu então futuro marido o que me deixou impossibilitada por quase um ano numa cama, dependendo de meu irmão para locomover, este me carregava no colo para tudo.

Estava próximo de meu aniversário, mas ninguém tinha ânimo para

Comemorações estando naquele estado, até alguém bater a porta

Do apartamento em que morávamos e por incrível que pareça era o Alberto. Sem saber, ele morava no mesmo condomínio só que em bloco diferente, não sei como ficou sabendo do acidente que sofrera indo visitar-me.

No dia seguinte (meu aniversário) ele apareceu em minha casa com uma cadeira de roda dizendo que iria precisar para sair agradeci e ressaltei que não iria a lugar algum daquela maneira.

Respondeu-me:

Você vai sim, quem disse que passará seu aniversário em casa

À noite sob forte persistência de sua parte não tive como fugir, anunciou que iríamos tão somente à padaria do condomínio, mas que todos precisavam ir, minha mãe, meus irmãos.

Chegando lá deparamos com a surpresa que me preparara, com direito a bolo e tudo o mais.

Os dias que se sucederam ele me foi fiel, amigo, enfermeiro, irmão, de uma dedicação sem par levava-me para todo o lado e queria que eu fosse morar em sua casa para melhor poder cuidar de mim.

Embora soubesse que eu tinha compromisso e que só estava afastada

Por conta do acidente em que ambos sofrêramos.

Certa noite ele disse que tinha uma surpresa, tirou uma aliança do bolso,colocou em meu dedo e disse:

Sei que nunca será minha mulher, mas peço que me permita somente por um instante sonhar, fingir ser verdade, quero que guarde contigo essa aliança, se eu não tiver a oportunidade de trocá-la por outra esta servirá para que de certa forma me tenha a seu lado e lembre-se de mim. Surpreendeu-me muito e fiquei confusa

Não tardou o meu namorado se recuperou e voltou a freqüentar a minha casa.

Alberto aos poucos foi se afastando, a situação era realmente constrangedora,até que não mais apareceu.

Por várias vezes mandei-lhe recados, não queria que fosse assim lhe tinha carinho e grata por toda dedicação.

Meu irmão dizia que sempre que o encontrava estava a beber, de certa

Forma pôde compreender o seu lado, não deveria ser fácil ver a mulher que amava mais uma vez se perder.

Ele sumira completamente e assim que recuperada casei-me, a aliança que dera-me guardei.

Até que certa vez ao encontrar uma amiga em comum, perguntei se

Tinha notícias do Alberto e para minha tristeza respondera:

Você não sabe?

O Alberto falecera em via pública acometido por um infarto (a bebida colaborara)

Ninguém me avisara... sussurrei

Toda vez que olhava aquela aliança fazia-me sofrer, uma dor muito intensa,durante muito tempo isto ficou em evidencia no meu pensamento e por não ter tido a oportunidade de dizer tudo o que desejei. Foi então que decidi por deixá-la com minha mãe,guardando o Alberto num lugar especial... no meu coração

Ainda hoje me pego a lembrar... Sentir-me culpada por não ter tido a chance de me despedir(quem poderia adivinhar),de agradece-lo por

ter existido em minha vida e o quão foi importante.

Contudo ele contou a melhor parte de minha história, a de uma menina

encantada com o seu primeiro namorado.

Cristina Siqueira
Enviado por Cristina Siqueira em 12/03/2012
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T3549065
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