O Ciúme é sinônimo do Amor

Amar é sorrir por nada e ficar triste sem motivos, é sentir-se só no meio da multidão, é o ciúme sem sentido, é ser feliz de verdade

Albert Camus

Bodas de Zinco

A relação de ambos estava no cume de um estouro. Qualquer coisa era motivo para gritos e discussões. Cada vez mais os conflitos aumentavam, algumas vezes ocorriam de duas a três vezes por semana, horas e horas de gritos e discussões, que ao final cessavam-se em prantos e lamentações, os quais como bêbados após um bom trago se entregavam a atenuar a própria culpa cingindo-se em um ato de perdão.

Apesar desta complicada relação, baseavam-se na fidelidade e autenticidade entre ambos. Porém algo muito estranho começou a ocorrer, todas as discussões que de início pareciam ser de praxe diminuíram. O homem chegava e nada contrariava como era de hábito.

Sua esposa começou a desconfiar da quietude do marido, algo havia de errado, será que estava sendo traída? O homem não parecia mais o mesmo, decidiu ficar atenta, esperou-o dormir e começou a mexer na carteira e nas pastas dele, algo da suposta sirigaita devia estar lá para evidenciar o ato pérfido.

Em uma das folhas da agenda, a foto de uma moça, a qual era belíssima, na flor da idade, com longos cabelos cor de ébano e olhos azuis intensos, a moça faria qualquer homem perder a cabeça.

Sua decepção foi gigantesca, todo aquele amor acabava, e mesmo assim não se conformava com a traição, queria mais alguma prova para acreditar naquilo, aguardou uns dias e começou a verificar manchas vermelhas no colarinho das blusas do amado, sua decepção aumentava cada vez mais fazendo com que lágrimas jorrassem de seus olhos. Após tais provas estava inegável a traição, teriam uma conversa séria, a qual poderia ser a última discussão de ambos. A mulher estava decida a dar um basta na situação.

O marido chegou e não fora recebido com o costumeiro beijo da esposa, ela o aguardava no sofá, pronta para selarem tudo isso e colocar um fim nesta história. A esposa estava com uma cara de desconfiança e séria para o marido, o qual corou e indignou-se pela esposa ter descoberto tudo, colocava a mão no bolso traseiro quando foi interrompido pela montanha de palavras que ela despejava.

A foto fora levantada e as camisas beijadas expostas. O homem olhava tudo com surpresa. A esposa com mais, da cara de pau do acusado:

- Você olhou bem a foto- dizia ele

- Olhei!

- Pois então?

- Pois então o que?

- Não se reconheces aos vinte anos quando nos encontramos pela primeira vez.

A mulher pegou a fotografia, olhou fixamente e notou os traços semelhantes. Essa ele conseguira responder, mas como se explicam as manchas de batom no colarinho.

- E as manchas do colarinho? Não reconheces o próprio batom? O qual toda vez que adentro esta casa me recebes com um beijo nos lábios e outro próximo a região do pescoço.

A mulher passou o dedo nos lábios viu a cor, comparou com os das blusas e emudeceu. O que faltava se explicar era o porquê ele ficara tão corado quando ela iria introduzir o assunto além do cessar das constantes discussões.

- Simplesmente por isso- o homem colocou a mão no bolso e retira duas passagens para Buenos Aires- Aqui está nosso presente de 10 anos de casamento.

Não só a esposa, mas o marido estava revendo conceitos, tudo fora planejado, queria descobrir até que ponto sua esposa o amava, ou estava atrelada a ele pela instituição matrimonial.

Ambos se beijaram e esqueceram os conflitos anteriores, focando-se apenas no amor.

As grossas e pesadas cortinas fecharam-se, e os aplausos ecoaram pelo grande Teatro.

Moral: Muitas vezes o ciúme faz com que o homem vende-se para os verdadeiros sentimentos como o amor. Fazendo enxergar situações incabíveis onde não existe. Discussões podem ser encaradas como sinônimo do amor, pois discutir é sinônimo de importância com o outro, o cessar destas é que se é preocupante!

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 14/04/2012
Reeditado em 14/04/2012
Código do texto: T3612695
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