Chocolate

Noite. Eles estavam deitados na cama, ambos nus em sua quase inocência. Ela deixava a cabeça no ombro dele e com os olhos observava os olhos dele se fecharem e abrirem suavemente. O que ela realmente queria era admirá-lo dormindo.

Mas enquanto não dormia, os olhos dele brilhavam com a luz da televisão em frente à cama, e ela sentia o cheiro que o corpo dele exalava, era a melhor coisa do mundo para ela. Debaixo das cobertas, as pernas dela entrelaçadas com a dele, os braços dele ao redor do corpo nu dela. Ela queria que ficassem assim para sempre, seria sua pena que ela não se queixaria em pagar.

Ele fala alguma coisa e começam a conversar. O assunto simplesmente não importava. O que realmente importava é que eles estavam juntos e naquele momento apenas isso bastaria.

Então ela sente uma vontade súbita de comer chocolate. Ele se levanta, se veste com a primeira blusa que encontra e uma bermuda. Ela apenas observa, quando ele diz:

- Você não quer chocolate? Vamos comprar!

Ela o encara desconfiada. Fazia tanto frio lá fora e a noite estava desanimadora. Estava tão bom apenas eles deitados ali, na casa que era deles e de mais ninguém. O mundo lá fora simplesmente não importava.

Mas então ele arranca a coberta que a cobria. O frio a invade e ela se obriga a vestir. Pega uma camisa dele e um short velho.

Os dois saem de casa, despenteados, mal vestidos. Mas não importava, estavam lindos um para o outro. Eles caminham até a padaria perto de casa. Chegando lá, ele começa a pegar todo o tipo de chocolate que vê pela frente e ela fica assistindo. De bombons a barras, ele vai enchendo a cestinha de produtos que a padaria disponibiliza. Ele pega outra e vai enchendo, e assim sucessivamente até acabar com todo o estoque de chocolate da padaria. Ela apenas assistia, boquiaberta.

Ao passar no caixa, todos na padaria ficaram encarando ele. Enquanto os produtos eram passados no caixa vagarosamente, ele olhava para ela sorrindo. O sorriso mais belo que ela já vira. Acabava com qualquer tristeza, aniquilava qualquer sofrimento e lhe dava esperança de viver o resto da vida ao lado dele. Ele não precisava dizer que a amava todos os dias, precisava apenas sorrir pra ela. Pois ela sabia que era a razão do sorriso dele, e ele, a razão da vida dela.

Saíram da padaria. As mãos de ambos carregadas de sacolas e eles riam um para o outro. Ali perto acontecia um show em um clube fechado e eles podiam ouvir o bom e velho Rock N' Roll que vinha do show. Em frente ao clube havia uma praça. A praça em que eles conversaram quando saíram pela primeira vez, a praça em que eles se beijaram, a praça onde deram inúmeras gargalhadas juntos. Ele vai caminhando em direção à um banco e ali se senta. Ela fica em pé observando, esperava que fossem pra casa. Então ele diz:

- Vem se sentar.

Ela vai caminhando lentamente e se senta ao lado dele. Deixa as sacolas encostarem no chão e olha pra ele com olhar desconfiado. Enfim, ele diz:

- Bem, agora nós não saímos daqui sem terminar de comer todo esse chocolate.

Ela se espanta. Há mais de um quilo de chocolate ali e eles com certeza ficariam muito tempo, se fossem rápidos terminariam quando o dia estivesse começando. Ele começa abrindo a primeira barra, morde um pedaço e a estende pra ela. Ela dá um mordida e sorri com a boca cheia de chocolate.

O show estava começando e as músicas que tocavam eles conheciam. A noite que se estendeu não foi uma criança. As pessoas que passavam e entravam no clube para ver o show, observavam aqueles dois sentados no banco, rindo, com a cara lambuzada de chocolate. Eram loucos, pensavam. Mas eram mais que isso, eram loucos apaixonados.

Emily Soares
Enviado por Emily Soares em 03/05/2012
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T3648041
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