Ideias confusas

Cap 1

Continuação:

A doutora havia falado muito bem sobre o tal procedimento. James estava esperançoso com o resultado. Ele amava aquele garoto como se fosse seu filho. Passou os dois anos numa profunda depressão. Fred não acordava. Georgina havia tentado de todas as formas reanimá-lo, mas de nada adiantava.

O motorista estava desesperado, não sabia como reagir com tal preocupação. Se Fred não saísse do coma, ele acabaria cometendo uma loucura.

A mansão estava vazia, os jardins já não eram mais como antes. Tudo tinha uma aparência de abandono e solidão. James se lembrava de como Fred era cauteloso com tudo aquilo, sempre tentando manter as aparências de uma família feliz.

- Pobrezinho... Nunca teve uma família de verdade... Seus pais sempre tão ocupados em Nova Iorque, não dão a mínima para seu único filho. Aceitaram perfeitamente a ideia de ele participar de um programa para readaptação de jovens na sociedade... Por dois anos? Como aqueles idiotas puderam acreditar nisso? – questionava James a sim mesmo tentando entender o descaso dos pais de Fred.

- Achei uma loucura desde o começo! – disse em tom audível como um louco.

- O senhor me chamou Seu James? – perguntou Susan, a empregada nova que James conseguiu contratar para ajudá-lo nos serviços domésticos da enorme mansão.

- Não, estou apenas falando sozinho! Acho que estou ficando louco! O garoto não acorda Susan! – disse James pachorrento enquanto se acomodava em uma das poltronas da sala de estar principal.

- Bem, não conheço o garoto direito, mas pelo que vejo o senhor era muito ligado a ele, não é mesmo?

- Sim, Fred é um verdadeiro filho para mim...

- Entendo sua angústia, mas a doutora Georgina não avisou que faria uma nova tentativa de... Reani... Reci... Como é mesmo a palavra? – quis saber Susan.

- REANIMAÇÃO... – respondeu o motorista/tutor/mordomo soletrando vagarosamente para que sua ouvinte pudesse entender.

-... Isso... Reanimação... Não sei o motivo, mas essa palavra sempre sai da minha cabeça... Enfim... Vamos ver se dessa vez o rapaz sai dessa situação lastimossa...

- Lastimosa... – corrigiu James.

- Isso mesmo!

- Obrigado pelo carinho Su, mas estou muito deprimido hoje. Além do mais se ele acordar o que será de sua vida. O pobrezinho nem ao menos sabe que conseguiu entrar na universidade e que perdeu dois anos na mesma. Imagine quando ele souber...

- Eu sei como é difícil... Senhor... Mas temos que ter fé...

- Mas infelizmente não é só isso que me preocupa...

- Como assim senhor?

- Supondo que ele acorde e fique bem. O que acontecerá depois? Ou melhor! O que Georgina aprontará depois? – perguntou James apalpando o coração com as duas mãos trêmulas.

- Matt! Preste atenção nos exercícios! Mantenha a calma e a concentração no elemento determinado. – pediu Jorge a seu aluno avoado.

- Pode deixar professor, vou me esforçar mais na próxima vez... – disse Matt esbaforido.

- Se alguém depender de sua ajuda pode não haver uma “próxima vez”... – disse Jorge rispidamente afetando Matt profundamente.

O protetor do elemento da Terra estava melhorando bastante com o passar do tempo, isso seu instrutor não poderia negar. Mas Jorge sempre via em Matt, um menino muito relapso. Parecia não estar ali de corpo presente. Sua mente voava por outro lugar. Jorge não sabia aonde.

Construir um redemoinho com folhas de árvore usando apenas a mente era estressante e muito difícil, especialmente com se tinha outras preocupações em mente. O garoto não parava de pensar na avó.

- Será que ela está necessitando de algo? – pensava o guardião girando as mãos para acertar mentalmente a posição das folhas que planavam no ar num movimento harmônico.

- Você está indo bem, continue... – elogiou o professor.

A sala especializada no treinamento do elemento da Terra era ótima e muito espaçosa. Terra, areia, plantas, árvores e folhas haviam de sobra. E isso era tudo o que Matt precisaria para se tornar um guardião valoroso. Ele não entendia muito bem o que Georgina queria dele, apenas obedecia às suas ordens. Era quase que automático, muitas vezes seu corpo queria fazer uma coisa, mas o cérebro o impulsionava a outra coisa totalmente diferente.

- Agora tente girar para criar um arco e passar per aquelas plaquetas logo ali... – disse Jorge apontando para algumas estacas de ferro fixadas ao chão perto dali.

Tudo bem foi à resposta do garoto, que com proeza realizou o exercício perfeitamente.

Movimentando os braços freneticamente, Matt conseguiu transformar o redemoinho desorganizado de folhas em uma graciosa circunferência. Depois com ainda mais destreza transformou a circunferência em um arco, como o professor havia instruído. Pronto, estava feito.

O arco passou levitando majestosamente por entre as estacas de ferro e com um movimento característico Matt conseguiu prender as plaquetas com seu pseudoarco formado por folhas de árvores e plantas.

- Muito bem rapaz! – disse o instrutor gentilmente apontando com a mão uma cadeira para que seu aluno pudesse descansar.

- Obrigado. – respondeu Matt meio sem jeito.

No caminho para o dormitório Matt decidiu: ia fazer uma visita surpresa para sua avó e levaria um pouco de dinheiro, já que Georgina depositava mensalmente na conta de cada um deles uma quantia razoável.

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 06/05/2012
Código do texto: T3652616
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