Um homem desconhecido
 
 
 
Era domingo. Angélica havia acabado de acordar, despontou o rosto através da janela e espalhou o olhar contemplando o jardim, onde viu um homem desconhecido. Esforçou-se para identificá-lo, mas não se recordou de já tê-lo visto antes em sua frente. Não pôde deixar de perceber tratar-se de um belo homem; um tanto jovem, que devia ter seus vinte e cinco anos de idade. O sol irradiante deixava os cabelos dele ainda mais alvos do que eram e embora não estivesse vendo os olhos do mesmo, poderia jurar serem azuis como esmeraldas. O moço, totalmente distraído segurava uma rosa na mão absorvendo o aroma perfumado, como se absorvesse a lembrança da mulher que amava, assim pensou Angélica. “Quem será a tal mulher absorvida no suave aroma das flores?” Interrogou-se ela, intimamente. “Onde ela mora? Como se conheceram? Será que ainda estão juntos?” A jovem não queria interromper-se de suas confabulações sobre o desconhecido, mas apenas continuar a observá-lo em seu jardim, nutrida pela curiosidade em descobrir tudo sobre a vida do moço, e assim, impregnava-se mais e mais em interrogações intimas e incertas.
 
Ele, não percebeu a mesma, e, se notou a presença da jovem a observá-lo, não se importou com esse fato: “Deve realmente estar muito envolvido em suas lembranças” - concluiu Angélica.
 
Era um verdadeiro encanto para a jovem mulher acordar e se deparar com o bonito homem em seu jardim. Aquele era um dia que se iniciava e jamais seria igual aos outros: tão repetitivos e sem graça. Pois ela sempre se sentia entediada com a rotina que tinha, junto ao irmão. O irmão Carlos, era muito severo, a cercava por todos os lados, não lhe deixando se divertir como as outras garotas das redondezas. Sabia muito bem que se o irmão estivesse em casa, aquele homem não estaria tão próximo dela. “Mas será ele amigo de meu irmão?” Pensou rapidamente. Concluiu rápido que não. Sabia que o irmão não era de muitos amigos. Ela só conhecia dois amigos dele, o chato João, morador da propriedade vizinha, que vivia com galanteios sobre ela, e o Herculano, da propriedade um pouco mais distante. “Mas se ele não é amigo de meu irmão, então quem será?” Angélica decididamente não queria mais saber se o moço era ou não amigo de seu irmão. O seu desejo naquele instante era apenas contemplá-lo, e não demorou muito para compará-lo a um dos personagens dos vários livros que devorava todos os dias...
 
Angélica nunca fora uma moça namoradeira, ou melhor, nunca namorara um homem de verdade. Amara sim, intensamente Charles. Ele fora a sua única grande paixão, depois dele, amara outros, mas igual a Charles, nuca mais se entregara a outra personagem de ficção com tamanha paixão.
 
Ela estava tão entregue as suas fantasias, que não percebeu a aproximação do desconhecido vindo até a janela, pois havia fechado os olhos e saboreava o maravilhoso beijo que recebia do visitante...
 
Ele repetia pela terceira vez o cumprimento:
 
- Bom dia!
 
A moça despertou meio deslocada, e sem graça, respondeu:
 
- Am! É, desculpe, é que eu...
- Eu vi. Ainda dormia. Desculpe por invadir seu jardim. Não fique assustada. Sou o filho do Osório, da propriedade na subida da serra. Chamo-me Carone e você?
 
Ela, encantada, dava toda a atenção ao visitante. Os dois ficaram bem à vontade a conversar. Parecia que se conheciam há bastante tempo. O encanto dela por conhecer o jovem era evidente, estava tão entusiasmada que não conseguia conter sua alegria.
 
Carone acabara de chegar de são Paulo. Tinha ido passar as férias nas terras de seu pai, no norte do Maranhão. Já fazia muito tempo que não aparecia na fazenda, pois seu pai e mãe sempre o visitavam na capital, onde estudava.
 
- Então, têm apenas dois anos que vocês moram aqui?
- É! Meu irmão comprou essas terras, aí viemos embora. A gente morava no Tocantins.
- Você gosta daqui? – perguntou Carone.
- Mais ou menos. Eu me sinto muito sozinha aqui.
- Aposto que tem um namorado ciumento, pois você é uma mulher muito linda!
- Obrigada. Mas eu não tenho namorado.
- Não acredito. Mas é porque não quer, não é? - falou, acariciando a mão da moça.
 
Ela estremeceu ao sentir o toque das mãos do homem. O sangue correu ligeiramente por suas veias. Fixou os olhos nos dele e falou:
 
- Seus olhos são tão lindos. É um verde escuro maravilhoso.
 
Carone acariciou a face dela, que fechou os olhos e sentiu melhor a sensação do leve e agradável toque. Logo pôde sentir a sua boca ser tocada com os lábios do homem à sua frente. O momento era tão mágico que não sabia se vivia um momento real ou imaginário. Entregou-se por inteira àquele beijo. Abriu os olhos após sentir que Carone tirou sua boca e olhou-o atentamente e disse:
 
- O seu beijo é tão gostoso que...
 
Ela não pode concluir a frase, pois recebeu outro beijo, só que dessa vez, um beijo mais quente, mais profundo e de língua.
 
As mãos masculinas começaram a invadir o corpo macio da jovem e tocaram seus seios, onde ela totalmente envolvida com os toques jamais sentidos em seu corpo, entregou-se por inteira...
 
Ali mesmo no jardim, completamente pelados, se entregaram. Angélica tremia de emoção, já não parecia mais tão inexperiente, tocava todo o corpo do homem com fervor. Seus sussurros, na hora do orgasmo, invadiram todo o jardim, e todas as flores pareciam compartilhar daquele momento mágico na sua vida. O sol ficou mais brilhante que antes. A vida dela parecia ter tomado outra direção, outro caminho. A felicidade havia chegado. O seu príncipe finalmente tinha lhe encontrado. Ela estava trasbordando em emoções, beijava e tocava cada vez mais e mais o seu amor para não ter dúvidas quanto ao que acontecia...
 
Ele montou no cavalo e deu adeus:
 
- Amanhã nos encontraremos às três horas da tarde na cachoeira. Não deixe de ir, pois eu estarei lá, a sua espera.
- Eu estarei lá. Eu te amo muito. - disse - totalmente embriagada de amor.
 
O jovem saiu cavalgando estrada afora e ela o seguiu com o olhar até o mesmo desaparecer por entre as árvores da beira da estrada. Depois desviou os olhos para o jardim, e reviu, em pensamentos, tudo o que lhe acontecera há poucos minutos atrás. Sorrindo, saiu lentamente caminhando por entre as flores...
 
Os lábios de Lau-Lau no rosto de Angélica, a lambê-la, tirou-lhe do sonho que acabara de ter. Ela abriu os olhos e acariciou o seu cachorro. Pensou em ir até a janela verificar se o homem que lhe fizera tão feliz no sonho estava realmente lá, mas preferiu continuar deitada com o seu cachorro do lado, pois se lembrou que nem mesmo tinha um jardim...
 
           
 







Do livro: "Fragmentos temporais" de Valdon Nez.
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 08/10/2012
Reeditado em 22/10/2012
Código do texto: T3922332
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