Eu Te Amo (Parte 1 de 2)

Inglaterra – 1878 a 1896

Era Vitoriana: Era da volta ao gótico, da literatura simbolista inspirada na literatura de mesmo estilo francesa. Era que veio a coincidir com a Belle Époque da Europa continental. Uma época muito bela para se viver no país inglês da Grã-Bretanha, a Inglaterra.

Sob tais aspectos nasceram no ano de 1878, no distrito de Notting Hill, três pessoas que num futuro nem tão próximo, mas nem tão distante, viriam a se conhecer e a criar laços de amor e amizade que se fariam eternos. Seus nomes eram Jane Beth Harrison, Nathan Cook Miller e Sean Ross Carter.

Jane Harrison era uma menina de boa família, rica para se dizer a verdade, afinal seu pai era um grande exportador de vinho. Era estudada, havia feito o curso normal e, aos 18 anos, já era professora. Sabia falar diversas línguas, entre elas o francês e o italiano. E além de dar aulas, o que mais gostava de fazer era pintar, talento que herdara da avó paterna. A família Harrison era bastante conservadora e respeitada e, todos os rapazes da época desejavam desposar a jovem Jane, que ainda não tinha encontrado o amor de sua vida.

Nathan Cook Miller, por sua vez, também era um jovem de família muito rica, filho de um barão. Também era estudado, sabia falar muitas línguas, não só o francês e o italiano, como o alemão e o espanhol. Mas sua vida era o exército. Desde pequeno admirava armas e combates e lutas, de forma que logo aos dezoito, foi se alistar, sem medo de guerras futuras.

O único que não se encaixava no perfil de família rica era o jovem Sean Ross Carter, que descendia de uma família muito pobre e humilde, que lutara para dar educação ao jovem, que além do inglês só sabia falar o francês aprendido na escola, de forma que não tinha visão de uma possível faculdade, o que o levara, a certo contragosto, a se alistar no exército logo ao completar a maioridade.

E foi desta forma que, os três jovens, se conheceram. A única coisa que os ligava era o exército. Mas como se Jane era mulher? Acontece que Jane tinha um irmão mais velho, o qual, no mesmo ano em que os jovens Nathan e Sean iam se alistar, estaria voltando de férias por alguns dias, até o regimento sair novamente em missão.

Notting Hill – Centro de Alistamento - Abril de 1896

- Querida, vá procurar seu irmão. O trem dele já chegou e ele deve estar lá dentro. – falou a baronesa Harrison, vendo a ansiedade da filha mais nova, que ela estar morrendo de saudades do irmão, tanto quanto ela do filho. A menina foi para perto da entrada do grande Centro de Alistamento Inglês, onde seu irmão deveria estar conferindo documentos. Estava numa ansiedade que não cabia em si. Nem reparou que estava prestes a esbarrar em alguém.

- Ei! – gritou a pessoa a quem Jane havia ido de encontro.

- Oh, me perdoe. Estou muito ansiosa por ver meu irmão que o notei em minha frente. – ela falou, um tanto desconcertada. O rapaz que via a sua frente era extremamente lindo; tinha os olhos esverdeados, cabelos louros e um físico muito bonito.

- É claro que perdoo. Aliás, eu que peço perdão por estar impedindo a passagem de tão bela dama. – falou o rapaz. Ela sentiu as bochechas queimarem. – Será que posso ajuda-la a encontrar quem procura?

- Não sei. Imagino que deva estar aqui para se alistar. Meu irmão já entrou para o exército no ano passado. – ela falou.

- Qual o nome dele?

- Harrison. Henry Harrison. – ela falou.

- Harrison? Meu Deus, você então é a bela irmã de Henry Harrison. Eu conheço seu irmão. Trocamos palavras várias vezes em festas. Prazer, eu me chamo Nathan. Nathan Miller. – ele falou, entusiasmado por verificar que Jane era irmã de seu colega. – Ele está lá dentro, provavelmente na cabine de documentos. – falou – Quer que eu a acompanhe? – ele perguntou, mas nesse instante, houve uma briga. Dois rapazes brigavam num estilo informal e decadente, com socos e chutes. Nathan se adiantou para separar os dois.

- Não vá até lá, você vai acabar se machucando. – Jane falou.

- Não se preocupe princesa, conheço os homens. – ele disse e se colocou no meio dos dois. – Vocês estão malucos? – gritou – Querem que algum general apareça por aqui e os prenda por irreverência? Querem brigar, briguem fora do Centro.

- Quem você pensa que é? – perguntou um deles. O que havia provocado à briga.

- Ninguém que te interesse. Vi que você quem provocou a briga. O que este jovem lhe fez?

- Olhe só para ele. Vestes ridículas e pobres! O que esse pobretão veio fazer aqui? – falou o rapaz.

- Meu caro, vejo que você não é digno nem desta discussão. Venha comigo jovem. – Nathan falou, estendendo o braço para o caído no chão. – Como se chama?

- Sean Carter. Valeu a ajuda companheiro, mas não acho que deveria ter me ajudado. Posso sentir que todos olham enquanto caminhamos. – Sean falou.

- Sabe Sean, deixe que olhem. Vamos, está vendo aquela dama ali, é irmã de um colega. Vamos conversar e tentar ajuda-la. – ele falou, enquanto se dirigiam até Jane. No instante em que os olhos de Sean cruzaram com o de Jane, ele soube que ela era a mulher da sua vida. Mas quem diria que o mesmo se passou pela cabeça da jovem dama, que ao olhar o jovem de trapos de segunda mão, também se apaixonou por ele.

- Você foi muito corajoso Nathan. Parabéns. – ela falou, tentando disfarçar e não olhar para o rapaz pobre a sua frente.

- Que isso, aquele palerma estava tirando onda de bom moço de classe. Este aqui é Sean Carter, meu novo amigo. – Nathan falou, sem imaginar que, com aquela atitude de salvar e ajudar Sean, ele estaria comprometendo o próprio coração a tempos de infelicidade disfarçada, afinal, como toda Notting Hill, ele também se apaixonara pela bela e delicada dama Jane.

- Prazer Srta. Jane. Peço-lhe perdão por me apresentar deste jeito e receio que fique com má impressão de mim. – falou Sean, admirando a beleza do olhar daquela jovem, que agora se dirigia aos seus.

- Não me importo. – ela deixou escapar – Quer dizer... Prazer. Sou Jane. – ela falou, recobrando a compostura. Em seguida ela pôde ver, ao longe e vindo em sua direção, seu irmão Henry. – Henry! – ela gritou enquanto ele a abraçava e rodopiava com ela. – Quanto tempo. Por favor, nunca mais fique longe de mim assim!

- Minha pequena Jane, você cresceu bastante em um ano. Está ainda mais bonita. – ele falou, enquanto a envolvia num novo abraço. – Vejo que já conheceu o jovem Nathan. Quanto tempo meu amigo. – ele falou, olhando para Nathan, que parecia satisfeito com o reconhecimento e com o elogio ao ser chamado de amigo. – E este quem é?

- Sou Sean Carter. – ele falou.

- Sean é meu mais novo amigo. Vamos nos alistar juntos e seguir carreira no exército inglês. – Nathan falou.

- Isso é ótimo. Vou usar minha pouca influência para colocá-los em meu regimento. Mas digam, o que acham da marinha?

- Marinha? É sério? – Nathan perguntou.

- Sim, é uma boa. Talvez um de vocês seja escolhido para lá. – ele falou, olhando o físico dos companheiros. – Bom, com licença rapazes, mas minha Jane e eu temos que ir para casa. Creio que nossos pais estão a nossa espera. – ele falou, e ambos os rapazes, Nathan e Sean, despediram-se de Jane beijando-lhe a mão, o que lhe causou arrepios, pelo menos com o beijo de Sean.

Notting Hill – Saída da Escola - Outubro de 1898

- Vamos princesa! – Nathan falou. Estava em seu carro novo em folha, e iria dar uma carona à moça, que estava saindo da escola em que dava aulas, The English Studio, no centro de Londres. A moça entrou feliz no carro do amigo, que estava em férias do exército.

- E então é hoje?

- Sim princesa, é hoje que o navio de Sean vai atracar no porto. Vamos, já deve estar chegando. – Nathan falou. Há dias que a garota estava naquela ansiedade, pois sentia falta do namorado, que já estava fora há meses, no navio Golden Cross. Ele havia sido mandado para a marinha, pouco tempo depois de ter servido o exército, de forma que estava longe todo este tempo também de Sean, seu companheiro e melhor amigo.

Eles desceram do carro e quando ela o viu, foi correndo em sua direção. Ele estava mais forte e bonito do que antes. E além disso, suas feições transbordavam a saudade.

- Meu anjo! – ele falou enquanto a abraçava e dava-lhe um longo beijo. – Eu não aguentava mais de saudades de você. Fala aí irmão! – ele disse, apertando a mão de Nathan, que se sentia um pouco deslocado ali, no meio do casal.

- Como foi cara?

- Foi muito horrível. Não gostei. Quero o exército novamente. – falou rindo. Não parecia não ter gostado. Ele estava apenas brincando. – Foi ótimo! Vamos?

- Olha, eu não vou não. Saia com a Jane e se divirtam. Depois a gente sai.

- Nada disso Nathan. Você deve vir conosco. – falou Jane sem imaginar o mal que causava ao amigo, que ao seu pedido, não pôde recusar sair com os dois.

- Vamos, estou de carro. – falou.

Seguiram para uma lanchonete, onde Sean se pôs a contar sobre a vida no mar, como era bom e mau. Não tinha nada que ele gostasse mais, além de Jane – falou olhando para ela – que não fosse o mar. Era realmente gratificante poder navegar pelos mares afora.

Tudo era muito bom para os amigos naquela época, que não imaginavam que em poucos anos tudo mudaria.

Notting Hill – Casa de Sean – Janeiro de 1900.

Jane e Sean estavam caminhando pela praia onde Sean havia construído sua pequena casa de dois andares, onde pretendia morar com Jane, assim que se casassem. Jane estava enfrentando problemas em casa por estar namorando o jovem rapaz, pois, de acordo com seus pais, ela não conseguiria viver sem os luxos com que estava acostumada, vivendo apenas com o salário que recebia na escola e com o soldo do namorado. Mas ela não se importava. Só queria casar-se com o homem que amava, e o que ela podia fazer se ele era Sean? Ela não se importava em ter que se abster dos luxos, que muitas vezes eram exagerados e até mesmo consumistas.

- Nathan esteve comigo ontem. Ele parecia diferente. – Jane falou. Conhecia bem demais o amigo para saber quando estava com o humor alterado.

- Ele veio aqui depois de falar com você. É porque ele está saindo em missão hoje meu anjo. Ele não gosta de ficar longe de nós. E nem das mulheres com quem ele sai. – Sean falou. Achava mesmo que o amigo estava triste pro aquele motivo, mas a verdade era que ele estava assim por ter que se separar mais uma vez de Jane. Apesar de aquilo ser um alívio para ele, ficar longe de seu amor impossível e das mulheres com que ficava apenas para se distrair, estar longe da presença de Jane era por demais doloroso. Jane não concordava com o namorado. Sabia que o amigo era mulherengo, mas apenas porque não tinha encontrado verdadeiro amor de sua vida ainda. Mas ele parecia muito mais triste, a cada ano que passava.

- Talvez... – ela disse apenas.

- Tenho uma surpresa para você.

- É mesmo, e o que é? – ela perguntou, se despertando de seus devaneios sobre o amigo Nathan. Sean a fez se levantar e a guiou até dentro de casa. O quarto que seria do casal, estava todo arrumado e enfeitado e em cima da cama, estava uma pequena caixinha azul. – Meu Deus. – foram as palavras que saíram da boca de Jane. Era uma caixinha da Tiffany e dentro continha uma aliança com apenas duas pequenas pedrinhas de diamantes cravejados na parte de cima. Dentro da mesma uma inscrição: “Até o dia em que o navio afundar”. – O que quer dizer essa inscrição?

- O navio sou eu. Até que a morte nos separe. – ele falou. Jane conteve as lágrimas nos olhos e beijou o amado e ali, tiveram sua primeira noite de amor.

Enquanto isso, Nathan partia com o regimento e o irmão de Jane, que havia se tornado um Sargento extremamente respeitado. Estavam indo para uma missão particular.

- Nervoso meu amigo? – Henry perguntou.

- Um pouco. Tenho ouvidos rumores sobre uma possível guerra na China. Será que se acontecer o exército inglês enviará tropas? – Nathan perguntou.

- Talvez sim, talvez não. Ainda é impossível dar uma resposta com certeza. Mas não acho que é só isso que o aflige.

- É mesmo? – respondeu com falsa descrença.

- Olha, somos amigos há anos. Eu te conheço Nathan. Sei que você ama minha irmã. E eu sinto muito, gostaria que ela estivesse com você.

- Você não deveria pensar assim. É verdade, eu amo Jane desde o momento em que ela esbarrou em mim no dia em que fui me alistar, mas ela ama Sean e ele é meu amigo e eu também o amo, por isso tenho sofrido quieto todo esse tempo. Prefiro que Jane fique com ele e seja feliz do que seja infeliz com quem não ama. Prefiro ter a sincera amizade dela do que a eterna indiferença. Isso é amor, preferir a felicidade do outro do que a nossa própria. – Nathan falou. Henry deu um tapa nas costas do amigo.

- Ainda assim ficaria muito feliz que fôssemos cunhados, meu amigo. Você é mais do que ninguém digno do amor de minha irmã. Sinto que não seja assim. – falou e passou a seguir mais a frente, deixando Nathan com seus pensamentos, que voavam sempre para Jane. Era muito difícil não ter seu amor, mas mais difícil ainda era se controlar vendo ela e Sean juntos. Não mentira ao dizer que queria ver a felicidade dos dois, mas ele nunca deixaria de amá-la.

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espero que gostem desta história. não esqueçam de comentar!

Camilla T
Enviado por Camilla T em 26/10/2012
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