Mais uma vez

Ela o viu e sorriu. Ele não era como os outros caras e ela sabia disso não era de hoje. Alguma coisa nele a puxava pra perto, a intrigava, a interessava. Ela o conhecera fazia anos e fazia anos também que não o via.

Hoje ele estava mudado e não, não estava casado, pelo menos não havia aliança. “Como deve estar a vida dele? Será que encontrou alguém que o faz feliz?”, ela se perguntava enquanto o observava lendo jornal. Ele não estava barbudo, gordo e com cara de louco como ela achou que o encontraria um dia, e riu ao notar isso. Ele estava bem. Com a barba por fazer do jeito que ela sempre gostou e com um enorme livro em cima da mesa, o que não era de se estranhar, afinal, sempre gostara de livros assim. Seus óculos agora eram mais estilosos e juntamente com a roupa que usava transmitiam a imagem de intelectual cool. “Será que eu deveria ao menos dizer ‘oi’?”, ela pensava consigo mesma na mesa em que estava sentada do outro lado da cafeteria.

Era estranho para ela tudo aquilo. Quem diria que um dia teria receio de se juntar a companhia de seu melhor amigo, bom, pelo menos era isso que ele era há alguns anos. Bons anos, por sinal. E ao lembrar desses anos, o coração dela acelerou e ela afundou o rosto entre as mãos e riu de forma louca, excêntrica. Até que uma lágrima caiu. E mais uma. Outra lágrima. E agora ela estava chorando, que boba se sentia. Parecia realmente ter voltado àquela época em que havia derramado tantas e tantas lágrimas por ele.

Quando levantou a cabeça para olhar pela última vez para aquele homem que um dia foi o seu garoto, ela viu através de um óculos marcado por digitais, uma mesa vazia e um pânico repentino invadiu o seu ser. No mesmo instante uma garçonete a cutucou e lhe entregou um guardanapo onde, com letras que ela bem conhecia apenas um pouco mudadas, estava escrito o seguinte bilhete: “Eu estive aqui por tempo suficiente e você me deixou partir sem tentar ao menos impedir… Mais uma vez”.

A tinta da caneta manchou quando uma lágrima caiu em cima de uma palavra. E lá fora, em meio a chuva que havia começado a cair, um homem com um livro enorme debaixo do braço e fones nos ouvidos, também tinha o rosto molhado de lágrimas enquanto partia sem ela mais uma vez.

Debora Santos
Enviado por Debora Santos em 16/11/2012
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