Prática Pedagógica

Desde agora, começei a perceber algumas coisas: Seu hálito continua na minha boca. Seu suor permanece intocável nas minhas mangas. E tudo o que te disse ha dois anos ainda continua perpétuo. Você sabe como fugir das coisas. Você disse: - é só um jogo que eu costumava jogar -. Mas... Descobri que te amo muito. Te amei quando tinha dezessete anos, e continuo te amando da mesma forma. Mas agora perto dos dezoito você ficou muito mais interessante. Bobeira, minha mãe disse. Ela te aceitaria de boa. Iria gostar que você dormisse na minha casa nos fins de semana. Então eu te levaria são e salvo até seu lar. Não teria mais que comer frango com macarrão aos domingos. Teria um motivo para pintar e limpar o meu quarto. Mas você disse: - Não se iluda. Posso ser seu amigo -. Amigo?... Tudo bem. Meu professor de Fundamentos das Ciências Sociais morreu. Tudo bem, ele era muito velho. Mas o que isso tem a ver? Meu melhor amigo disse que isso é o destino. Eu ri um pouco. Destino... Ele te levou para longe de mim mil vezes. Parece que agora quer se retratar. Então... Com a morte do meu professor, tive que mudar de Campus. Fiquei dez minutos mais perto de você todas as terças e quintas. Me segurei ao máximo, mas não pude me conter. Eu tinha que te ver. Mesmo você me dizendo que iria me matar, por eu ter te acordado meia noite e quarenta e quatro. Eu só queria ouvir sua voz, e você nem imagina que depois de ter te ouvido, o vizinho de baixo teve seus piores quarenta minutos de vida. Então, tendo em vista que seu horário de saída batia exatamente com os dez minutos que eu levava para chegar no Colégio Estadual Ignácio Azevedo do Amaral, e te ver vestido de normando, fui em direção ao seu colégio. Por que eu tive que ficar durante dois minutos de hesitação? Esses dois minutos quase me custou a vida. Quase morri de tão forte que meu peito bateu ao te ver passar por aquele portão. Eu não sei como explicar. Eu sempre te amei muito, e agora isso só cresce. Chega não me deixar respirar. Cada segundo só penso em você, e me falta o ar. Eu fico vendo suas fotos todo o tempo. Em casa no pc, no celular. Hoje na faculdade, eu só consegui pensar que você estava dez minutos de mim, e como sinto sua falta. Sua foto não sai da tela princípal, e quando eu vejo minha aula acabou. Entro no carro, só toca músicas que dizem tudo o que queria te dizer. Não durmo mais. Todo tempo é você. Eu talvez esteja sendo chato. Sei lá.. Só parece, por você ter dito que nada acontecerá de novo entre nós. Mas você realmente estava vindo na minha direção. Putz meus olhos derreteram. Não consigo sair do lugar. Você vem na minha direção. Não me percebe. Um ônibus passa. Corro para trás do carro mais próximo. Tremo sem sentido. Você passa sobre um vidro turvo. Feliz, esse é você. Feliz. Eu apenas contínuo paralizado. Com aquela sensação conhecida na boca do estômago. Você, feliz, desaparece pelas ruas.

Sou um idiota! Você estava lá, e eu... Nada! Nada! Você provavelmente voltarai correndo para o colégio se me visse, e voltaria vinte segundos depois com dois policiais, ou me tacaria um tijolo. Eu correria muito. Não vou mais dizer nada. Nem ficar te "stalkiando". Provavelmente eu volte para casa e digo para meus pais que sou um fracasso. Colei meu trabalho todo de casos concretos de Narrativa Jurídica. Não tenho tempo para mais nada. Toda parte usável de um cérebro, pertence a você. Não como. Não durmo. Não leio. Sou um mofo. Um mofo idiota que fica correndo atrás de fungos para se alastrar. Nãoq ue você seja um fungo. Você é a coisa mais linda que já vi no mundo.

Volto para casa pensando no que poderia ter realmente feito. Morrer de comer. Morrer de ouvir Cat Power. Morrer de não sair da cama. Morrer de assistir aula online de Ética Filosófica. Morrer de trocar mensagens que no fim não quer dizer nada. Morrer de folhear "O Livro do Desassossego". Morrer de dormir. Nada mesmo. Morrer. Esse foi meu dia. Só tenho coragem para sair e colocar crédito no celular. Vai que você liga, manda mensagem... Alguma coisa assim. Subo na moto. Arranco lentamente porque o sol das quatro horas é a melhor parte do dia. Esse laranja anormal que fica o céu. O celular toca. Mensagem! Dois carros me fecham. Estou quase pulando da moto para pegar o celular. Não demora muito e arrancam. Encosto. PEgo o celular desesperadamente. É você! É você! É você!... Não. É o Groupon me oferecendo uma depilação a lazer. Realmente não sei o que isso significa. Estou fora de mim? Já chegou na parte que devo comprar um cachorro? Você me disse na última noite, que me ligaria. Que iriamos conversar um pouco, porque você gostaria de ser meu amigo. Que gosta de muito de mim. Como amigo... Não deu a mínima. Não ligou. Nem mensagem. O dia acabou. Talvez ainda esteja passando Bridget Jones.

Coloco crédito no celular. Nada de você. Esqueci de por o carro para dentro. Deu comercial. Pego as cháves. Corro para garagem. O celular apertado na cueca, porque caso eu não o ouça, ao menos ele vai vibrar. Duzentas solicitações de amizade chegam. Nada de você. Começa a chover. Nada de você. Estou descalço. Meu pé está completamente cheio de terra. Limpo os pés na chuva. Nada de você. Seco os pés no carpéte. Bridget Jones acabou. Não demorei perto de vinte minutos. O sorvete também acabou. Merda! Coloquei o carro na garagem, minha mãe nunca vai me emprestar o carro de novo, essas horas.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 28/02/2013
Reeditado em 28/02/2013
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