Sílvia

Sílvia

Sílvia avançou o terceiro sinal naquela noite. Não podia parar. Não podia se dar ao luxo de parar. A qualquer minuto poderia ser tarde demais. Não, não chovia – seria clichê demais. A única tempestade acontecia em seu espírito atordoado. A noite era limpa e pura. Quase pura demais. Também não chorava, Sílvia... Trazia os olhos vermelhos, mas secos, totalmente secos, e vidrados na estrada, como se conseguisse ver muito além dela. Eram 21h quando chegou à porta do prédio. Tocou a campainha e aguardou... em vão. Tocou novamente, forte, até seus dedos doerem, como se da campainha do apartamento 302 fosse jorrar, subitamente, uma segunda chance. Mas, na vida, nunca é tão fácil. Tentou ainda uma terceira vez, em tom de despedida, mas a realidade já a havia tomado de tal forma, que, desiludida, parecia que ela e tudo aquilo iriam finalmente transbordar, na forma degradante e incompleta de um longo, longo choro...

Mas o choro não veio. Sentou-se no chão – invisível, inexistente, como o fantasma da mulher que fora um dia; um velho daguerreótipo gravado na calçada com a luz prata da lua e aguardando para ser apagada pelo primeiro suspiro do dia. Até que, de repente, uma voz acaricia os seus ouvidos: “Esperando alguém?” Imediatamente, seus olhos se encheram de lágrimas...

Rafael Sampaio
Enviado por Rafael Sampaio em 13/03/2013
Código do texto: T4185528
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