Chris e Louise - Amor inocente

A história começa com Chris, um garoto de quinze anos pelo qual eu me apaixonara na quinta série. Ele era lindo, loiro de olhos azuis-esverdeados. Desde criança eu passava meus dias observando seu jeito de andar, falar, brincar, e se relacionar com as pessoas. Aquela paixão inocente que eu sentia me fazia ficar vigiando e o seguindo pela escola inteira. Isso virava motivo de piadinhas infantis entre os amigos. O jeito com que me olhava ao me ver atrás de alguma parede ou alguma mesinha era de pena, ou até mesmo um ódio controlado.

Eu sou Louise, naqueles tempos era minha mãe era quem me arrumava para a escola. Cabelos presos, óculos fora de moda, maiores que meu rosto, e o ridículo e usual uniforme da escola. Meu rosto sempre foi desproporcional. Meus traços eram fortes, meu cabelo era de um castanho claro rebelde e encaracolado. Meu jeito desleixado fazia com que ninguém me olhasse ou falasse direito comigo. Sempre vivi sozinha até no ano de 2001, na oitava série. Esse foi o ano em que tudo mudou.

Foi quando uma magia aconteceu e percebi que era hora de mudar meu jeito, meu visual. Chris ainda iria estudar comigo naquele ano e isso me dava mais razões. A transformação começou nas roupas, cabelos, jeito de andar, tudo foi ficando diferente e mais maduro.

Quando cheguei na escola após as longas férias de dezembro, me vi sob olhares de pessoas que jamais haviam olhado pra mim nesses últimos quatro anos. Me senti uma modelo sobre a passarela iluminada. Foi uma atração repentina. Todos olhavam e ficavam me admirando, exceto Chris, que não tornou a olhar pra mim durante o dia inteiro. Me senti arrasada e frustrada, com uma imensa vontade de sumir, pois ele era quem deveria ter sido atingido.

Cheguei em casa exausta, arrancando tudo o que coloquei nos cabelos, lavando meu rosto e tirando tudo aquilo que não pertencia a mim. Deitei e lágrimas rolaram até adormecer.

Acordei com uma coragem maior que eu, decidida a pôr outro plano em ação, pois o fiz. Fui até a biblioteca onde Chris estava, sentei-me ao lado dele que assustado olhou pra mim. Deu um sorrisinho de canto, aquele sorrisinho que eu admirava desde criança e que nunca mudou. Dei um oi tímido e desengonçado, foi o que consegui fazer vendo que ele me olhava nos olhos. Ele respondeu e sorriu novamente e repentinamente soltou as palavras como se as tirasse da minha boca. Comentou sobre como eu estive diferente no dia anterior, como se fosse algo bom me transformar em quem eu não era. Bem, para mim era uma ideia genial até ver que Chris odiou a mudança. Acrescentou que não falava comigo desde a quinta série porque era um idiota, mas que sempre notou a minha verdadeira beleza, mesmo atrás dos óculos gigantes e dos cabelos rebeldes cobrindo meu rosto constantemente. Ele disse que me achava a menina mais bela da escola e após ver meu esforço no dia anterior, tomou a mesma decisão de falar comigo. Eu fiquei maravilhada com o que ele dissera sobre mim, minha vontade era de agarrá-lo e dar o abraço tão desejado desde que o conheci, mas me contive e sorri timidamente com esse pensamento.

Tudo mudou desde então, foram meses conversando com Chris, fazendo os trabalhos com ele. Uma parceria que eu desejava há anos. Chris chegava na escola e vinha com um grande sorriso no rosto me cumprimentar, seguido de um longo abraço de urso. As coisas foram mudando aos poucos e tomando rumos traçados pelo destino.

Na véspera do meu aniversário daquele ano Chris veio falar comigo. Percebi pelas suas mãos suadas e o rosto pálido que estava nervoso. Perguntei o que havia acontecido, ele me olhou nos olhos e sutilmente me beijou. Senti como se eu libertasse aquele amor preso de anos em um só momento. Enquanto o abraçava, Chris perguntou se eu gostaria de ser sua namorada, naquele momento todas as preocupações desapareceram. Falei o tão esperado sim com a maior felicidade do mundo, e nos beijamos novamente. Foi o maior presente de aniversário que eu já recebi.

Passaram-se dez meses de muita amizade e amor. Chris conheceu meus pais, conheci os dele. Um era perfeito para o outro, sempre completando o outro com palavras e ações, uma conexão extraordinária. Passamos o natal juntos, o primeiro ano novo. Tudo estava perfeito.

23 de Abril de 2003 é a data marcada em meu coração. O dia em que Chris chegou em minha casa, sentou-se ao meu lado e pegou em minhas mãos com tanta força que pude sentir seu desespero. Com lágrimas involuntárias falou que iria embora com seus pais e que não saberia se teria volta. Aquilo acabou comigo, como se os anos sozinha tivessem voltado. Minha única escolha foi deixá-lo livre para ir, pois eu não poderia deixar meus pais.

A menina solitária e triste voltou para a escola no dia seguinte. Mesmo com a distância, Chris me ligava todos os dias. Trocávamos e-mails diariamente e isso me deixava mais calma sobre a mudança.

Infelizmente tudo mudou com o passar do tempo, perdemos o contato de um com o outro após alguns meses. Cada um seguiu seu rumo, sua vida. Já não havia mais disposição para ficarmos presos a um romance distante. Cada um precisava saber o que fazer e mudar seus planos que já estavam no passado.

Dez anos se passaram, eu já estava com vinte e sete anos. A lembrança de Chris era rara. Me pegava lembrando dele ao ver algo relacionado à sua banda favorita, ou ao visitar o café que costumávamos frequentar após as aulas.

Vi Chris algumas vezes na estação de trem, ele me dava o tão lembrado abraço longo e apertado, mas eu já não via o mesmo brilho apaixonado em seus olhos e não sentia mais meu coração acelerar ao vê-lo. O amor entre nós se apagou ao longo dos tempos. O que restaram foram lembranças lindas e inocentes.

Vivo com Affonso há cinco anos, o qual é simplesmente o amor da minha vida. Um amor maduro, forte e bem resolvido. E tem de estar mesmo, pois Maria está pronta para chegar em nossas vidas.

Maindra Bianca
Enviado por Maindra Bianca em 21/03/2013
Reeditado em 30/11/2022
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