A única verdade
Em uma das aulas que tive com um professor de Psicologia, não me lembro de qual era o assunto, ele soltou a seguinte frase.
- A pessoa não precisar passar por determinada situação para aprender que aquilo vai ser bom ou ruim.
Discordei e fui logo levantando
- Precisa sim! Só tendo a sensação que a pessoa aprende.
Pois bem. Vou lhes contar uma história que ouvi em algum lugar.
Também não lembro qual era. Esta minha memória um dia vai me deixar na mão... Mas a história, esta sim, eu lembro bem. A história de que a verdade serve ambos os lados.
Cláudio estava convicto...
- Amor?! Prefiro os meus livros a ficar me preocupando com esta bobagem. Com amor você perde mais do que ganha. O resultando final sempre pesa para sua derrota.
Mas Cláudio não aprendeu a duras penas. Ele apenas ficou como telespectador de amigos. Um privilegiado observador das amarguras sentimentais dos casais ou agora ex-casais.
Questionado sempre com comentários maldosos e jocosos de amigos que insistiam perguntar sobre o fato de estar sozinho, sempre tinha uma salva- guarda.
- As garotas, as mulheres de hoje não querem caras como eu. O meu perfil não satisfaz a nenhuma.
Longas gargalhadas se seguiam.
- Lógico... Afinal qual mulher quer um cara baixo e feio?! – Cuspia o amigo engomadinho com seu cabelo pega rapaz –
- Tá aí! – Cláudio retrucava em seguida – Mais dois motivos para não dar certo.
Sempre achava que a última risada era a sua. Afinal, observava os relacionamentos de amigos naufragarem, mesmo com a afirmação de que nem Deus termina um amor destes. E Deus mais uma vez calava a boca dos convictos rasgando a foto ao meio.
Mariana já é uma das minhas... Seguia a risca o meu pensamento frente ao do professor.
Amiga de Cláudio. Sempre achava suas conversas com o amigo agradáveis e o estimava muito. Contudo, passava constantemente por situações desagradáveis com seus parceiros. Ao contrário de muitos homens em que o sexo é o elixir da vida, Mariana seguia o dom feminino e não colocava isto como a prioridade em seus relacionamentos. O amor importava sim!
Se boa parte das pessoas, inclusive os homens, pensassem deste modo muitas guerras não estariam nos livros de História. Enfim...
Cláudio, saudosista de sua infância simples e agora depois de 27 anos ele concluíra ter tido uma infância feliz, sempre quando podia lia, assistia ou tinha coisas que fizeram parte desta época. Menos o amor... Este ele próprio por experiência de campo apenas observava de longe.
Mariana cansada de uma vida de vai em vem decidiu dar uma pausa neste imbróglio. Cláudio é seu amigo de conversas francas e sem intenções, como deveria ser com grande parte das pessoas, conversar com ele fazia a moça sentir-se revigorada.
- Cláudio... – Perguntava ela mexendo em um videogame antigo – Por que nunca se importou em namorar? Sempre o vejo sozinho e me parece triste e solitário... Sei lá.
- Não! Eu sou feliz do jeito que sou. Não preciso ser o que a maioria é ou quer. – Respondia o amigo – Mas ele ficava triste sim, triste pela sincera amiga passar por mão de homens que não mereciam sequer o amor de suas mães.
- Cláudio. Vou viajar para Campos do Jordão. Tá a fim de ser minha companhia? – Aproximava a garota de fala mansa e o ficava encarando –
- Não se preocupe com grana. Tenho o bastante para nós dois. Tava guardando para ir junto com aquele palhaço do Vitor.
- Mas tem certeza, Mari? Não vou te atrapalhar? E outra... Acho que não seria legal isto. Creio que você precise esfriar a cabeça sozinha. – Cláudio falava com tanta convicção, mas sem passar por tal, afinal aprendera tudo de longe.
- De jeito nenhum! Vamos... Você sempre foi legal comigo e nunca demonstrou ser um cafajeste. Gostaria muito de ir... – Abraçava o amigo que sem tempo para reagir aceitou o pedido –
Com as malas prontas os amigos pegaram a estrada. Cláudio levou livros para ler durante a viagem e Mariana sempre com seu rock no tocador de MP3.
- Cláudio? – Tirou os fones de seu ouvido – Será que nunca vou aprender? Mesmo passando por isto?! Nunca vou reconhecer o erro? – O amigo interrompeu a leitura e olhou para seu rosto –
- Não sei! Quero você bem de qualquer jeito. Eu nunca passei por isto, mas sei como se sente.
O ônibus chegou e os dois desceram.
- Ahhh! Amo o frio! – Espreguiçou a garota. Ele apenas sorriu para alegrá-la, mas na verdade odiava o frio –
Os quatro dias que passaram na cidade foram os melhores possíveis. Conheceram pontos turísticos lindos, comeram coisas deliciosas e diferentes e conversaram muito. Hora de voltar!
Estavam de volta. Mariana antes de entrar para sua casa, o caminho era o mesmo da casa do amigo, abraçou-o bem forte e agradeceu. O amigo sorriu e se despediu seguido para a casa.
- Só preciso de um bom banho para relaxar! – Afirmou Cláudio observando o céu com a coloração rosa por cima dos prédios –
Semanas passaram sem se falarem. Ele curtia sua solidão, entretanto pensava na solidão de Mariana com tristeza. Não aceitara aquilo.
- Eu aceito, mas ela não.
Estava assistindo o desenho que mais gostava na sua infância. Tinha todos guardados com carinho. Quando o telefone tocou.
- Quem será que é a esta hora? Deve ser aqueles caras chatos. Hoje vou dizer que não quero beber. – Levantava para atender ao telefone –
- Alô? Quem é?
- Cláudio? – A conhecida voz da amiga sussurrava do outro lado da linha –
- Oi Mari... Tudo bem?
- Tudo... Eu... – Engasgava –
- Tudo bem mesmo?
- Vamos sair? Quero te ver! Estou com saudades... Mais do que amiga – Com a voz alegre Mariana passava o local e desligava em seguida –
- Cláudio sorriu desligando. Mesmo nunca amando, pois nunca passou por isto, entretanto sabia o que era. Pegou sua jaqueta e as chaves de casa e apagou a luz do quarto.
Esquecera a TV ligada. No desenho, a personagem abraçava o jovem e sussurrava em seu ouvido.
- Vou dizer uma coisa... As estações sempre vêm e vão. Se esperar um tempo eu sempre voltarei para você.
Desta história cheguei a seguinte verdade. Estou empatado com o meu antigo professor.