38DD

[Ela não tinha vergonha da sua nudez]

Só ela sabia o quanto de desejo atiçava nos homens. Enquanto as outras pareciam ossos a voarem com longos cabelos - típico filme de terror de canal a cabo - ela tinha carne de sobra. Neste realismo pseudo-fantástico, "zumbis" olhavam-na babando, mesmo que discretamente e tirando sarro de quem admitia a tara frequente por "belezas renascentistas" - mais conhecidas [e depreciadas] como gordinhas. Adorava usar roupas justas, que marcavam seus seios, cintura delineada e bunda avantajada. Era proporcional, não admitia ter nada fora do lugar; apenas grande. Esse espetáculo do pecado, o desejo de algo não permitido em hipótese alguma nos dias de hoje (tesão por mulheres grandes), saciava a sua sede de sexo e vaidade.

Falava sobre todo o dia. No seu quarto, sozinha, via filmes pornôs pela internet e masturbava todo o corpo sem exceção: a nuca, os seios, os braços, a barriga (diga-se de passagem linda, pois não tinha gomos musculosos e nem era obtusa ao extremo!). Por fim, arranhava suas coxas e sim, lá estava o caminho! Ela era louca pelo seu clitóris! Se pudesse, chupava a si mesma de tanto tesão que sentia quando era tocada. Este era o seu ponto fraco, o lugar onde só ela sabia como se derreter. De tanto ouvir das amigas que homem tinha pela língua a mesma finalidade que o apêndice, resolveu topar uma mulher vizinha de prédio - mas logo se decepcionou, porque era trucker, usava cueca e cabelo moicano. Pensou que a ideia de um homem sem pau e com peitos resolveria mais facilmente o problema de assimilar tal atitude; contudo, descobriu que é impossível um carro andar tranquilo pelo Rio de Janeiro no verão e sem ar-condicionado, mesmo com motor 2.0. Alguns acessórios são importantes nessa hora para tanta montanha, floresta e curvas a percorrer durante o calor...

Ainda sobre seu ponto fraco, ela se deliciava em lambuzar os dedos e deslizá-los até o fundo, enquanto ouvia gemidos vindos da televisão. Um... dois... aos poucos sumiam, até não aguentar mais e se achar a mais puta de todas as santas, ao colocar o terceiro. Juntos ou separados entre seus segredos mais íntimos. O tesão deixava de ser pelo corpo para dominar sua mente: a liberdade de seu subconsciente, a vida que não pode viver fora de quatro paredes. Sabia que os espelhos denunciavam seu peso a mais, mas não estava nem aí: tanto no motel quanto em casa, sua tara era gozar olhando no espelho. Era tão profano que na hora "H" pensava em enfiar o crucifixo, tirar aquela sunga branca que via no homem de longos cabelos, lamber a coroa de espinhos. Sentir sangue na boca (mesmo que fosse apenas vinho barato) ou seu gozo que penetra na pele e marca como uma tatuagem suas mãos, o perfume que fica no corpo na hora do banho ou no outro dia.

Ela veste preto de vez em sempre. Calcinhas, sutiãs, casacos, shorts de dormir. Para sair, combinava com algumas peças brancas, apenas para dar destaque, e alguns adornos de metal. As cruzes eram as mais diferentes possíveis. Tinha de grandes e prateadas até de madeira ou pedreadas. Roupas sempre justas e com sobras de pano a voar e realçar seu rebolado. Sempre justas na medida exata para marcar as curvas escondidas. Isso nunca poderia esquecer e sempre era repetido. Ela era dark e quando andava a rua todos olhavam, inclusive eu a imaginar todo aquele mover sobre mim, roçando minha calça enquanto a seguro firme por trás, puxando seu cabelo e mordendo sua nuca.

Numa das fugas do seu Universo, terminara uma festa e estava cansada. Conheceu um cara que tinha tesão por ela sem medo de assumir. Era forte, sabia o que ela gostava e na hora da foda é que se sentia mais ainda, ao dominar uma mulher grande e fazê-la sentir leve como uma criança no colo. Teve desejo de se aproximar na hora que bateu o olho. Conseguiu - após algumas bebidas, cigarros e pílulas sorridentes - levá-la para um bastidor qualquer do show de sua banda. O clima soturno atiçava mais o desejo dela. Ele estava sem camisa, descalço, apenas a calça e tatuagens a lhe cobrir. Tinha cabelos longos, barba por fazer e brincos. O lugar era tão escuro, intimista e enigmático que ela não pensou duas vezes em abrir as pernas após um curto beijo e pedir: "me chupa agora, filho da puta"! Estava pouco se lixando para quem era ele: apenas um conhecido no mundo, naquela hora. O importante era gozar naquele lugar, contar nos seus escritos o que fez e lembrar, nas várias horas solitárias, enquanto seus "amigos" deslizavam pelo seu corpo. Ajoelhou, sentiu um calor aproximar-se de seu rosto, fechou os olhos e tocou seus lábios: estava dominada, preenchida por completo. Não conseguia falar. Ficou de quatro num sofá grande, apoiada num dos braços acolchoados, onde seus quadris balançavam, convidando para a mistura de prazer e dor. Ria do desespero dele, da cara de garotinho acuado, quando sentia que não aguentaria muito pra liberar toda a endorfina armazenada nas suas veias. Ela sabia que ele não teria pernas para aguentar mais uma; então voltava a posição do braço e balançava mais uma vez aquela bunda exuberante. Dizia com ela, enquanto o dedo estava na boca e a luxúria na mente: "Vem de novo... não aguenta? Como assim... ainda nem comecei...Eu quero mais, tudo na boca, tudo sobre mim!".

Não satisfeita (mais uma vez), passou a se resolver sozinha. Estava tão louca, tão fora de si, que seu corpo pedia por mais e ela sentia arrepios sem se tocar. Num momento de desespero, gritava, rangia os dentes, arranhava o sofá, queria seu Animus penetrasse com força, até o talo, na sua mente. Mordia o lençol e nesse momento começou a sentir mãos em seu corpo. Mãos que deslizavam, que tocavam seu clitóris, que alisavam suas pernas, que roçavam sobre a calcinha e diziam blasfêmias. Ela estava molhada e num determinado momento de transe, sentiu seu corpo sacudir, pular da cama, como se sua alma estivesse voltando ao seu corpo depois de fazer um longo caminho pelo Universo, povoar outros corpos e fazer outros personagens.

Neste momento, acordou.

Ela percebeu que a madre superior estava em sua cela, junto com outras freiras. Tentaram acordá-la com água, impuseram suas mãos em oração por medo de seus dizeres, sacudindo seu corpo, mas ninguém conseguia impedir seus uivos e sono. Era hora da missa das seis da manhã e a oração matinal. Ela levantara e percebia que algo estava errado. Sua perturbação não era normal, o mundo deixou de ter cor e planícies verdejantes, onde órfãos correm felizes a cantar. Agora era a vez do conflito entre o que foi real e imaginary...

Agora, ao olhar para aquela imagem, tinha medo do homem que lá estava a acordar toda noite atrás de seu corpo, mesmo que seja apenas nos seus sonhos...

...por mais que sua batina estivesse suja de algo - que sabia o que era mas nunca tinha visto - e seu crucifixo preso à parede, molhado e sem a figura enigmática...

Ricardo Costa
Enviado por Ricardo Costa em 08/05/2013
Reeditado em 27/11/2019
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