DE DEVOTO A PAPA.

DE DEVOTO A PAPA.

Quando aos quatro anos de idade, era devoto de “Santa Seatí”, citada na oração do Santo anjo:

Santo anjo do senhor

Meu zeloso guardador

“SE A TI ME CONFIOU” a piedade divina

Sempre me rege,

Me guarde,

Me governe

Me ilumine.

Amém.

Chiquinho não tinha nem ideia do que era devoção, religião, santo ou qualquer tipo de crendice. Sua mãe, com todo fervor da religiosidade nordestina, havia lhe dito que ” toda pessoa tem que ter um santo para ser devoto”: uma espécie de anjo da guarda. Ora, Chiquinho que sabia decorado a oração do Santo anjo, imaginava que “se a ti” era uma santa, e como era a única oração que conhecia, Santa Seati era que iria lhe proteger. Continuou acreditando tanto nesta santa, que atribuía até alguns milagres alcançados a esta figura divina. Em uma tarde de aulas de religião, isto já aos 11 anos, Chiquinho se deu conta quando viu escrito no quadro Negro de sua sala, a oração em questão. Nossa senhora das causas perdidas exclamou Chiquinho “Santa seati não existe!”. Quem terá feito todos os milagres em minha vida? Perguntou-se o garoto.

Foi aí que teve certeza que uma força maior existia, e decidiu se candidatar a coroinha da paróquia. Foi um verdadeiro “Deus nos acuda” quando souberam da negativa do vigário em aceita-lo como coroinha, sob alegação, de que era um menino religioso, porém, muito ‘levado da breca’. Chorou, esperneou, mas aceitou. Ficou muito triste, e fez uma promessa pra si mesmo: “vou ser vigário”. O pobre menino em horas vagas da escola de freiras onde frequentava, estudou incansavelmente tudo que se relacionava a religião católica durante dez anos. Passou-se o tempo, entrou para o seminário, até conseguir ser um dedicado diácono. Quando chegou o tempo de ser ordenado padre, apaixonou-se por uma linda jovem, que lhe prometia amor eterno em troca do celibato. Foi de água a baixo todo sonho de se tornar religioso. Noivou-se com Filomena, e começou a desfrutar das delícias de uma donzela, que alimentava borboletas em seu estômago. Certo dia na saída da missa, que sem sucesso convidara a assistir, foi Chiquinho surpreendido com um casal, que freneticamente se amassava atrás da almendeira (pé de castanhola) como era vulgarmente conhecido à amendoeira em sua região. Aquela garota que um dia o fez desistir do seu maior sonho estava o traindo com seu melhor amigo. Chiquinho ficou desolado, não acreditava em tamanha covardia por parte de Filomena e Ricardo. Recluso, retomou os estudos no seminário, onde um dia acreditou ser padre. Foram mais cinco anos de dedicação até o dia da ordenação. Pronto, vou celebrar minha primeira missa, nervoso, quase derramou o vinho na hora da ceia, contudo, correu tudo bem. Por coincidência ou não, na primeira leitura que falava justamente de traição, apresentou-se para ler, a Filomena, talvez por peso na consciência ou apenas ironia do destino. Chiquinho como uma criatura elevada, não resistiu a seu próprio sentimento, e a perdoou em palavras subliminares, não deixando transparecer que se referia a ela, apenas Filomena entendeu que a carapuça lhe servira perfeitamente. Aliviado, Chiquinho conduzia suas celebrações com maestria, foi elogiado em certa ocasião pelo Bispo que o indicara para coordenar algumas paróquias em seu lugar, pois estava acometido de uma doença grave não diagnosticada pelos médicos. A saúde do bispo cada vez ficava mais preocupante, foi quando viajou a Roma, e indicou pessoalmente ao Papa a ordenação de Chiquinho como Bispo, pois era o único presbítero capacitado para assumir o seu lugar. Ao comunicar o fato a Chiquinho, que ele seria o novo Bispo do lugar, descansou em paz. Foi o próprio novo Bispo Chiquinho que recomendou a alma do seu antecessor. Foi uma linda cerimônia, e com comoção coletiva, iniciava seu bispado. Destacou se de forma tão marcante pelas suas interpretações, que foram dois tempos para ser indicado a Arcebispo metropolita. Ficou durante muito tempo exercendo suas atribuições. Passaram-se mais dez anos e Chiquinho agora é Cardeal. Foi tão justo e complacente com seus atributos, que seu nome fluía fácil na alta cúpula da Igreja católica em Roma. Ficou “famoso” com suas atitudes benevolentes e votos de renuncia que fazia, até o Sumo pontífice, em ocasiões especiais, aconselhava-se com Chiquinho, e com seu perfil filosófico, teológico e eclesiástico, conquistou a confiança de toda comunidade católica pelo mundo afora. Além de conhecer a fundo todos os fundamentos do catolicismo com suas peculiaridades, era também um músico (baterista) de alta qualidade, e profundo conhecedor do Rock’n Roll mundial. Sabia tudo da Janis, do Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling Stones. Adorava o Deep Purple de tal forma, que em seu tempo de padre, chegou até a abençoar a guitarra de Ritchie Blackmore num show no Principado de Mônaco. Tentou sem sucesso em outro episódio, convencer o Ozzy a fazer um hino para a igreja católica. O máximo que conseguiu em suas incursões, foi a bela releitura de ”Segura na mão de Deus e vai”, solado por Victor Wooten do Bela Fleck and the flecktones, foi sua ultima tentativa no mundo musical. A partir do convívio diário com o clã mor católico, era tido como a pessoa mais indicada para substituição do Papa no próximo conclave, Chiquinho até se animou, mas tinha muito receio com tamanha responsabilidade. O tempo passa e o Papa renuncia do cargo causando surpresa no mundo inteiro. Convoca-se a cúpula no vaticano para uma votação de urgência. Sai a fumaça branca, o novo para já tem nome: Chiquinho. Ao ser comunicado ainda internamente na capela sistina, Chiquinho fica surpreso, mas resolve assumir. Antes que pudesse falar ao publico, uma das cozinheiras do Papa o chama até uma sala reservada e pergunta, você sabe o meu nome? Intrigado, Chiquinho negativamente responde, não. Sou Filomena. Há muito tempo que trabalho aqui, na certeza de um dia encontra-lo e agradecer seu perdão do fundo do coração, quero também que saiba que fostes o único homem que amei até hoje, e não conheço nada tão arrebatador quanto o amor que tens pelas pessoas e a capacidade de perdoar no amago. Casa-se comigo agora? Indagou Filomena. E num gesto de pura humildade o pontífice retirou os sapatos vermelhos, e caiu nos braços daquela que um dia ele amou profundamente e ainda a ama, e, sussurrando em seu ouvido lhe perguntou, sabe quem te trouxe de volta pra mim? Foi Santa SEATI. Foi uma comoção geral na capela, e todos em silêncio abençoaram com as mãos erguidas a união do casal Filomena e Chiquinho. Foi então nomeado o segundo mais votado. O atual Papa Jorge Mário Bergoglio assumiu o posto e adotou o nome de FRANCISCO em homenagem ao velho amigo Chiquinho, que se casou e vive feliz até hoje em Massaranduba-Pb.

M. C. MEIRA 22/05/2013

Link do hino “Segura na mão de Deus e vai” gravado por Victor Wooten.

http://www.youtube.com/watch?v=px5etR-ziZU

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 21/05/2013
Reeditado em 22/05/2013
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