Bodas

Cheguei a casa pontualmente as 14h00min, era um domingo, o dia estava mórbido, nem parecia um dia de festa. Subi as escadas da varanda, passei bem perto do roseiral que tinha o nome dela, Clarice. Acariciei levemente as pétalas vermelhas, deixei que um pensamente perpassasse minha cabeça. Sorri e continuei meu caminho até a porta, que estava entreaberta, normal, ela sempre a deixava assim para caso o cachorro quisesse entrar depois dos passeios que sempre fazia. Entrei e me deparei com um perfume vindo da cozinha, parecia uma mistura de queijo e alecrim, só podia ser nosso prato predileto. Fui para cozinha e ela estava lá, toda suja de farinha, os cabelos desarrumados, mas continuava maravilhosa. Não resisti, pisei de mansinho no chão, não deixei que ela me visse, coloquei as mãos em venda nos seus olhos, ela ficou parada por uns segundos, até que tocou as minhas mãos e disse.

-Ãh... Por um acaso, a pessoa que está tentando me seduzir com essas belas mãos fortes, é um rapaz que completa anos de casamento hoje?

-Depende, você é a moça que fez esse rapaz feliz durante todos esses anos? - Virei-a de frente e dei-lhe um beijo, um daqueles de cinema. Ficamos por alguns minutos sentindo a respiração um do outro, até que o cão entrou na cozinha, espalhando farinha por todos os cantos. Aquela moça, de bochechas rosadas, de pele clara e de olhos tão ternos, me veio à mente. Claro, ela já não era tão jovem, nem tinha ainda aquele ar gracioso dos primeiros anos, mas continuava formosa, doce e tinha os olhos mais maravilhosos do mundo. Rimos como adolescentes, da bagunça, nos abraçamos e começamos a dançar ao som de uma música que não existia. O cão parou nos olhou e ficou quieto a contemplar toda aquela loucura humana, mal compreendia ele que aquela loucura era, na verdade, amor.

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 09/06/2013
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