O homem que vendia poção do amor
images?q=tbn:ANd9GcRyanKnpXcRpjuCzpNqfqRMFk0k1TMbFJ4axlHhQqrVLzY8SWKC
 
 Ultimamente Carmem andava meio cabisbaixa. Diziam que era porque estava beirando a meia idade. Criou três irmãs e dois irmãos sozinha depois que os pais morreram num acidente. Trabalhou duro na roça para dar o mínimo de conforto a sua família.
 E depois de bem criados, todos os irmãos e irmãs já haviam se casado e ela estava lá, firme e estagnada, esperando por um príncipe encantado que possivelmente não viria.
 Foi ai que a Dona Gerundia, solteirona pra lá dos 50 anos, apareceu de mãos dadas com um moço bonito. O povo bestificado olhou a senhora feliz e sorridente, enamorando com seu garanhão Norueguês. Carmem que não era de se incomodar se incomodou. Ora! Não era bela e nem feia, mas certamente tinha mais beleza que a amiga cinquentona! Criou coragem e em bem sucedidas palavras, perguntou com certa inveja:
— Nossa, colega! Onde pescou um peixão tão pomposo desses?
 Gerundia riu junto com seu belo exemplar de homem enquanto respondia:
— No mar da vida, minha amiga... No mar da vida... Vamos casar na próxima primavera, e você á de ser madrinha!
 Que madrinha que nada! Carmem queria ser era a noiva! Insistiu e insistiu até que nas vésperas do casório, enquanto ajeitava o vestido, descobriu o segredo da amiga:
— Conta pras outras mulheres não, mas consegui esse homem graças a uma poção mágica.
— Poção mágica? – perguntou Carmem desconfiada, não querendo acreditar em tal tolice.
— Poção mágica sim. Existe um homem na montanha do norte, quase chegando ao extinto vulcão. Acontece que antes de se extinguir, o vulcão deixou lava petrificada. E é com o pó desta lava mais alguns sucos de frutas silvestres que o homem faz a tal poção. Comprei um frasco pequeno e servi ao homem que cobicei. Hoje ele esta ali, aflito e apaixonado, me esperando no altar.
 Carmem não queria acreditar no que a amiga falou, mas era uma explicação tão aceitável que ela tomou para si.
 Um dia depois do casamento, colocou a mochila nas costas e partiu rumo a montanha, na esperança de encontrar o homem que fazia poções para assim dar de beber a quem quisesse cobiçar.
 E o vendedor de poções estava lá, com uma picareta de ferro, arrancando lascas do vulcão morto.
 E os negócios iam de vento em polpa... Era tanta gente solitária querendo a tampa de sua panela que o vulcão inativo nem tava dando conta de tanta demanda.
 A jovem senhora Carmem chegou logo pedindo sua garrafinha amarelada de suco de frutas silvestres. Disse que queria ser amada, que buscava alguém para cuidar dela até o fim de seus dias.
 O homem que vendia poção do amor raspou um pedaço da lava petrificada em uma caneca de alumínio. Com cuidado, fervilhou com frutas vermelhas, até o caldo engrossar. Pronto. Colocou uma pequena quantidade na garrafa miúda e disse para a cliente:
— Apenas um bom gole e será amada por quem beber. Quem beber desta poção, te amará para todo o sempre. Simples, funcional e impressionante! Cinquenta moedas é o preço.
Pagou sem questionar as moedas, descendo da montanha feliz da vida, segurando o frasco que portava seu futuro.
 E caminhou contente e sorrateira pela feira livre, olhando os transeuntes e bárbaros. Homens feios e bonitos, fracos e fortes, com barba e sem barba...  
 Há, era como olhar uma vitrine! Uma vitrine onde escolheria alguém para ser seu na vida inteira:
— Esse é muito cabeçudo... Este muito baixo e gordo... Este muito alto e magro... Deus meu! Um alto e barrigudo e outro baixo e magro! – dizia olhando um a um dos pretendentes .
 Era tão difícil escolher... Descobriu que realmente era muito exigente. Olhou então para um grupo de belos rapazes. Sujeitos trabalhadores, abrutalhados e vistosos, do tipo que se colocasse dentro de um terno de noivo, seria o esposo perfeito!
 Mas ela pensativa olhou um a um e desanimou. Foi ai que percebeu que ao se dedicar toda a vida cuidando dos irmãos, deixou escapar uma fina esperança de tentar ser cuidada por alguém... Estranhamente, concluiu que não queria nem cuidar e nem ser cuidada por um esposo. Queria era restaurar seu amor próprio e viver sozinha. Sozinha por opção.
 E antes que pensasse em mais alguma besteira, bebeu em uma única golada aquela doce poção. De súbito, se apaixonou. Se apaixonou por si mesma e viveu assim, sozinha e feliz. Feliz da vida por muito amar a si mesma. 
fumo_da_pocao_de_amor_convite-r91c6b3d340d04c3fa0750e10430e35f8_8dnrb_8byvr_216.jpg
 
Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 06/07/2013
Código do texto: T4374786
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.