E SE ?  (3ª PARTE)


Katherine saiu de casa cedo, levando a filha pela mão e, como habitualmente, chegada ao patamar de entrada, abriu a caixa do correio. Entre as cartas que recebeu, regra geral contas para pagar, uma chamou-lhe a atenção. A letra masculina e o remetente fizeram-na abri-la de imediato. Leu a missiva em sobressalto, escrita num inglês perfeito.



Querida K!

Desculpe tratá-la assim, sem ser por Katherine ou Kathy, mas essa é a letra do marcador que me fez encontrá-la, lembra? Em Munique, há dois meses atrás.
No aeroporto, na altura em que nos despedimos, tive uma sensação esquisita, foi como se você levasse parte de mim. É extraordinário como isso aconteceu pois mal a conhecia, apenas falámos um pouco enquanto aguardávamos o avião.
Achar-me-á idiota por nunca ter contactado consigo... Orgulho, timidez, enfim, você também nunca contatou comigo.
O tempo foi passando e nunca me saiu do pensamento. Como explicar isso? Esse encontro marcou-me e de que maneira. Casualmente, conheci uma mulher, mas nunca me comprometi com ela, sabe porquê? Porque convenci-me que você seria aquela para quem a minha vida apontava, assim mantive-me casto, fiel à sua imagem. Estupidez, pensará!
Na altura da despedida, no aeroporto, prometi que um dia a visitaria!
Pois eu cumpri o prometido, arranjei coragem e tomei o avião para Amesterdão. Perdoe-me, queria tanto vê-la! Apanhei um táxi no aeroporto e com o endereço que me tinha dado não foi difícil encontrar a sua casa. Mas não podia aparecer assim. Como já era tarde, alojei-me num hotel perto.
No dia seguinte, paguei principescamente a um taxista para o ter à minha disposição. Assim, desde cedo que estive a alguma distância do prédio onde morava, na esperança de a ver sair. Após uma longa espera, quando saiu, que surpresa! Trazia uma criança pela mão, muito parecida consigo. Imaginei-a casada, com pelo menos uma filha e dali a pouco sairia o seu marido, afinal que estava eu ali a fazer? Figura de parvo, certamente. Compreendi que se lhe tivesse escrito antes, ou telefonado, teria evitado este equívoco. Dei ordem de regresso ao motorista, depois telefonei para o aeroporto e consegui, com grande sorte, arranjar voo de regresso nessa mesma noite. Mas foi impossível disfarçar a minha desilusão e pesar pelo sucedido.
Contei-lhe tudo isto, sabendo do ridículo a que me exponho, apenas para que saiba uma coisa: Que a amo muito, sempre a amei desde a primeira vez em que a vi e nunca a esquecerei!
Desejo-lhe as maiores felicidades.

Um beijo!

Pedro.



Katherine leu de novo a carta, incrédula. Tinha-se comovido, mas ao mesmo tempo lamentou o orgulho excessivo dele e a sua inglória viagem. Porque é que não lhe escreveu ou telefonou? Seria tão simples! Assim ficaria a saber que era mãe solteira e que a criança era de fato sua única filha, mas não vivia com ninguém. Ela também sentira algo por ele e agora esse algo crescia no seu peito de forma descontrolada. Deu meia-volta, sempre segurando a filha, que olhava sem a perceber perante aquela mudança de atitude e entrou em casa, dirigindo-se logo ao seu computador portátil.

10/08/2013